Jornal Estado de Minas

MPF pede, na Justiça, demarcação de terras para povos indígenas em Minas

Luana Cruz, Paulo Filgueiras, Cristiane Silva, Daniel Camargos, Mateus Parreiras, Pedro Rocha Franco, Luciane Evans, Leandro Couri
Pataxós vieram da Bahia (área de Porto Seguro e Arraial D'Ajuda) para o Vale do Jequitinhonha, em Minas. O grupo enfrenta problemas de demarcação de terras - Foto: Marcos Michelin/Estado de Minas - 03/11/2006
O Ministério Público Federal (MPF) tenta garantir terra aos povos indígenas de Minas Gerais por meio da Justiça O órgão ajuizou três ações civis públicas em favor dos Povos Indígenas Aranã, Mucuriñ e Pataxó Hã Hã HãeO MPF pede que Justiça Federal obrigue a União e a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) a tomar todas as providências efetivas para a demarcação de terras ocupadas ou destinadas a esses povos

O povo Aranã mora nos municípios de Coronel Murta e Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, e já foi oficialmente reconhecida pela FunaiNo entanto, a fundação vem adiando a realização dos estudos para identificação e delimitação de um território para esse povoEm pior situação está o povo Mucuriñ que vive em CampanárioO grupo requereu, em 2005, a abertura de processo visando o reconhecimento étnico e até hoje não recebeu resposta A terra tradicionalmente ocupada pela comunidade foi alvo de usurpação e grilagem, estando atualmente ocupada por fazendeiros

O caso mais dramático é o dos Pataxó Hã Hã HãeEsse povo, originário do sul da Bahia, foi levado para o Vale do Jequinhonha, em Minas, pela própria Funai na década de 70A comunidade, que atualmente mora no Município de BertópolisNos anos 60, o extinto Serviço de Proteção ao Índio promoveu assentamentos dentro da reserva indígena, dando origem a graves conflitos fundiários entre os fazendeiros ocupantes e os índios
Entre 1970 e 1980, o governo do Estado da Bahia distribuiu títulos de propriedade aos fazendeiros, obrigando os índios a dividirem seus territórios com os latifundiáriosPassados tantos anos, os Pataxós nunca foram instalados em uma terra onde pudessem perpetuar sua cultura e costumesEles também não recebem qualquer tipo de assistência dos órgãos de proteção aos índios

Reposta da Funai

Sobre os Mucuriñ a Administração Regional do órgão em Valadares e a Coordenação de Estudos e Pesquisas (CGEP) informou que o processo de identificação encontrava-se na Diretoria de Assuntos FundiáriosEsta, por sua vez, desmentiu a informação e alegou que nem mesmo existe pleito relacionado aos Mucuriñ em seus cadastros

Em relação aos Pataxó Hã Hã Hãe a Funai informou que, no caso de indígenas oriundos de outros estados, devem ser esgotadas todas as tentativas para seu retorno à terra de origem ou ser providenciada sua instalação em outra terra indígena junto com outros povos

Justiça


Nas ações, o MPF pede que a Justiça obrigue a Funai a constituir, no prazo máximo de 60 dias, grupo técnico para realizar os trabalhos de identificação e delimitação das terras ocupadas pelos Aranã e Mucuriñ, e, no caso, dos Pataxó Hã Hã Hãe, para a delimitação de uma reserva indígena, direito que lhes é assegurado pelo artigo 26 do Estatuto do Índio.