Jornal Estado de Minas

Duplicação reduz mortes na Fernão Dias

Duplicada e conservada, Fernão Dias é a única grande BR do estado com queda na letalidade de acidentes, indicando caminho para tirar Minas do topo do ranking de violência nas rodovias

Thobias Almeida Pedro Rocha Franco

O potencial de danos de um acidente explica a importância da duplicação das rodovias. Veja a infografia e entenda - Foto: Arte EM

Uma equação simples, presente nas reivindicações feitas há anos por usuários de rodovias mineiras, campeãs nacionais de vítimas a cada feriado prolongado, é capaz de derrubar o número de vítimas no estado com a maior malha viária do paísA soma de duplicação de pistas, conservação viária e sinalização adequada vem fazendo da Rodovia Fernão Dias, na ligação de Belo Horizonte com São Paulo, a única das grandes BRs em território mineiro a registrar número de mortos significativamente inferior ao verificado cinco anos atrásA constatação surge de levantamento feito pelo Estado de Minas com base em dados do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit)Em 2007, 165 pessoas perderam a vida no percurso da BR-381 que faz a ligação entre BH e São PauloEm 2010, último ano com estatísticas consolidadas, o total de mortes caiu 9,1%.

Por outro lado, os números mostram também que a rodovia, duplicada com verbas da União e concedida à iniciativa privada desde 2008, apresenta crescimento vertiginoso no índice de acidentesA aparente contradição é explicada por especialistas e joga por terra o discurso repetido à exaustão, segundo o qual os motoristas são os maiores culpados pela alta mortalidade nas rodoviasNo caso da Fernão Dias, a infraestrutura resultou em queda na letalidade dos desastres, entre outras razões por criar pistas separadas por obstáculos físicos e impedir que veículos se cruzem a poucos centímetros de distância.

Se no período entre 2007, ano anterior à concessão da estrada, e 2010 o número de mortes nos 485 quilômetros mineiros da ligação entre BH e São Paulo caiu, mesmo com o aumento da frota de veículos, o número de acidentes quase dobrou, passando dos 4.774 registrados em 2007 para 7.006 no ano passado, crescimento de 46,75%O total de 2010 é 2,5 vezes maior que o registrado no mesmo período no trecho entre BH e o Espírito Santo da BR-381Lá, foram 2.737 batidasPorém, ocorreram 180 mortes, 30 a mais que o total da Fernão DiasCaso as pistas duplicadas fossem equipadas com fiscalizadores eletrônicos, a quantidade de vítimas poderia ser ainda menor.

Uma das explicações, talvez a mais importante, para a redução do índice de letalidade dos acidentes na porção da 381 que segue para São Paulo é a pista duplicada, que evita o mais mortal dos desastres: a colisão frontal

No ano passado, nos 485 quilômetros do trecho mineiro da Fernão Dias, 32 batidas frontais causaram duas mortesNa mesma BR-381, mas no percurso de 100 quilômetros de pista simples conhecido como Rodovia da Morte, entre a capital e João Monlevade, na Região Central, 132 colisões frontais mataram 34 pessoasOutro exemplo é o da BR-116, onde 143 choques frontais – o equivalente a 4,77% do total de acidentes – causaram 106 mortes, ou 46% do total de vítimas.

“A explicação é comportamental: melhores condições de pista propiciam ao motorista maior sensação de segurança e, por isso, aumenta-se a velocidade”, reforça o coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral, Paulo de Tarso Resende, destacando em contrapartida a queda no grau de letalidade em batidas nas boas estradasO especialista compara a segurança viária em rodovias bem conservadas às provas de Fórmula 1: “Por que os pilotos não morrem a cada prova de velocidade? Porque há pneus, barreiras e áreas de escape, além de outros mecanismos que garantem proteção”.

Sobre a falta de mecanismos de controle de velocidade que poderiam contribuir para a redução de acidentes na Fernão Dias, a OHL, concessionária que administra a rodovia, afirma apenas ter um estudo que prevê a instalação de 45 radares no trechoO levantamento aguarda aprovação da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), segundo a empresa.