Jornal Estado de Minas

Entre o táxi e a carona para casa

Com a volta das blitzes, parte dos clientes de bares em BH começa a buscar alternativas ao carro

Landercy Hemerson


Um dia depois de as blitzes da Lei Seca ganharem as ruas da capital, clientes de bares já estão mudando de hábito na hora de ir para casa e até recebem incentivo de donos, gerentes e funcionários dos estabelecimentos
A advogada Joyce Leite, de 26 anos, que nessa sexta-feira à noite tomava um chope durante um happy hour com duas amigas, garante que já incorporou o táxi à sua rotina“A corrida sai bem mais em conta do que a multa de quase R$ 1 mil”, constataSérgio Carvalho, proprietário de um bar na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, diz que os frequentadores estão indo a pé para casa ou ligam para parentes e filhos“Se for preciso, damos um jeitoSó não vale é sair dirigindo depois de beber”

O gerente de choperia Elvis Rodrigues: "Chamamos o táxi e pagamos a bandeirada para o cliente" - Foto: gladyston rodrigues/em/d. a pressElvis Rodrigues é gerente de uma choperia na Rua Pium-i, no Carmo Sion, Centro-Sul da capital, uma das vias em que estreou a blitz da campanha “Sou pela vidaDirijo sem bebida”Segundo ele, desde abril o estabelecimento criou sua própria campanha, em que incentiva o uso do táxi“Chamamos o táxi e pagamos a bandeirada para o cliente”E a quem pensa que a ideia não deu certo, Elvis revela que das cerca de 250 pessoas que passaram pelo local na noite anterior, pelo menos 20 aceitaram a proposta, principalmente depois que a fiscalização foi parar nas proximidades da choperia


O aposentado Pedro Godoi, de 69, nessa sexta-feira saiu para beber sem se preocupar“Já combinei com meu filho e ele vai me buscarNão que ele esteja abrindo mão de aproveitar a noite, mas é porque ele não bebe mesmo”Maurício Salles, de 61 anos, também não abriu mão do chope“Moro perto e vou a péMas, se preciso, vou até de bicicleta para casaSó não dá para beber e dirigirSou a favor da campanha educativa e também das blitzes”

O taxista José Magalhães , de 60, não apenas aprova a ideia como carrega no vidro traseiro do carro que trabalha um painel alusivo à campanhaMagalhães conta que quando entrou em vigor a Lei Seca, em junho de 2008, houve uma procura maior de cliente de bares pelo serviço de táxi
“Depois de um tempo, parece que a fiscalização relaxou e tudo voltou ao normalAgora, com a volta das blitzes, aumentaram as chamadas nesses estabelecimentos e também em salões de festas”, constatou

Para o taxista, seu apoio à campanha não se limita apenas ao maior lucroEle analisa que a retirada dos motoristas alcoolizados das ruas significa segurança para quem enfrenta o trânsito da madrugadaEm 10 anos de profissão, José Magalhães diz que nunca se envolveu em acidentes, mas já teve que fazer manobras rápidas para evitar batidas quando o outro condutor demonstrava estar embriagado“Uma corrida para um local distante fica em média em R$ 50, o que não é caro quando se fala em preservar a vida”

O comerciante Sérgio Carvalho e o gerente Elvis Rodrigues concordam que, na mudança de hábitos, o uso do “motorista da rodada” ainda é incipiente“Ninguém que gosta de beber senta numa mesa e fica olhando”, sugere SérgioElvis, por sua vez, diz que é mais fácil arrumar alguém para dar uma carona que convencer alguém a ser um motorista da rodada