Porto Seguro - A arquiteta Graziela Mansur, de 38 anos, voltou nesse sábado a Belo Horizonte depois de uma semana em Arraial D’Ajuda, distrito de Porto Seguro (BA). Como milhares de mineiros fazem todos os anos, ela separou dias livres em julho para uma estadia no Sul da Bahia que deveria ser sinônimo de relaxamento e tranquilidade. Deveria. Logo no segundo dia em Arraial, Graziela e uma amiga foram assaltadas quando voltavam de madrugada para uma pousada de luxo na Rua Mucugê, a mais sofisticada e badalada do distrito. Dois homens em uma moto ameaçaram as duas com uma arma e levaram celular, cartões de crédito e documentos. “Nunca tinha sido assaltada antes, nunca ninguém tinha colocado uma arma na minha cabeça”, disse Graziela, ainda assustada, na véspera de pegar o avião de volta a BH. “Jamais poderia imaginar que isso fosse acontecer logo aqui”, completou.
Em Porto Seguro, em dois anos, houve aumento de 104% nos casos de homicídio, que passaram de 87 ocorrências em 2008 para 178 em 2010. Os registros de roubo de carro subiram 1.066%: em 2008, foram apenas seis casos, aumentando para 70 em 2009, segundo os últimos dados da Secretaria de Segurança da Bahia. No que diz respeito a roubos contra turistas, os mineiros representam 17,5% das vítimas. Em 2010, 245 visitantes foram assaltados na região de Porto Seguro, 43 deles de Minas Gerais. Este ano, até junho, já são 21 mineiros. A própria polícia credita parte do aumento das ocorrências ao tráfico. Além da ação de traficantes por conta da demanda por drogas de parte dos visitantes, o crack já é considerado epidemia na região, o que motivaria viciados a cometer crimes. Dos 130 inquéritos instaurados pela Polícia Civil em Porto Seguro e distritos no ano passado, 15 foram por homicídio, 10 por receptação de objetos roubados, 60 por furto e roubo e o restante, 45 casos, por tráfico de drogas.
Quem vive na região se diz assustado. A mineira Fátima Arrieiro, de 55, é sócia numa pousada em Trancoso e afirma não tem mais coragem de pôr os pés para fora de casa, que virou uma espécie de redoma, vigiada por um segurança particular. “Estou preocupada. A gente mora nesse paraíso todo e acaba se isolando, criando um mundo particular para não ter problemas”, diz ela, que nasceu em Curvelo. “Minhas amigas deixaram de me visitar à noite, pois têm medo de sair de lá onde moram, atravessar a Praça do Quadrado e chegar aqui onde estou. Pessoas estão sendo sequestradas. Está um absurdo”, relata Fátima.
Para ela, a razão principal para o aumento da violência é a droga. “Há muitos roubos. Peço aos meus hóspedes para não levarem nada de valor para a praia, que deixem no quarto ou no meu cofre. Eles vão passear na praia achando que estão num paraíso, sem perigo de nada, mas não estão”, disse. Segundo ela, a falta de segurança já está se refletindo no faturamento: até maio deste ano, comparado ao mesmo período do ano passado, a pousada de Fátima registou queda de 40% na ocupação dos quartos. “Não vejo policiamento nas ruas", reclama.
Funcionária de uma pousada de propriedade de mineiros em Trancoso, Adélia Moreira Alves, de 33, se preocupa com própria segurança e com a dos hóspedes, a maioria de Minas. “Os jovens de Trancoso estão muito perdidos com as drogas, principalmente a pedra (crack). A violência tem aumentado muito e não me sinto mais segura aqui, principalmente pelos meus filhos", disse ela, que morou em Vitória (ES) e depois em Guaratinga (BA), para onde pretende voltar em breve, em busca de paz. Em Arraial D'Ajuda, outra mineira, Sandra Lima, de 41, natural de Juiz de Fora, diz que prefere morar na Praça da Igreja, onde tem uma loja, do que se arriscar no entorno do distrito. "Gostaria muito de morar fora do Centro, pois o barulho é insuportável. Mas diante dos assaltos no entorno, prefiro conviver com o barulho”, disse.