O irmão dele, o também engenheiro Cláudio Antônio Soares Bittencourt, de 58, afirma que Mário era a “nata” da empresa onde trabalhava, a Leme Engenharia, e que há cerca de dois anos recebeu um prêmio em Paris por uma barragem feita no Rio Madeira, em Rondônia, no Norte do Brasil. “A empresa dele ganhou a concorrência graças a um estudo feito por ele”, disse o irmão. “Ele coordenava todos os projetos e gostava de ir ao local para fazer estudos. Fez barragens no Panamá, Costa Rica, Equador e no Chile. Muito prestigiado.” Mário era muito ligado à família, reforça o irmão. Era o segundo dos três filhos.
O sobrinho Felipe Ribeiro Bittencourt, de 29 anos, também engenheiro civil, conta que tinha adoração pelo tio – pessoal e profissionalmente. Destaca a experiência de vida dele e a competência profissional. “Estamos todos abalados emocionalmente”, disse Felipe, ao falar do sofrimento da mulher de Mário, a dona de casa Fátima Guerra, e dos filhos, Mariana, de 21, e Bruno, de 18. “Eles perderam a noção. Para os filhos, o pai era tudo. Meu tio era a base real da família”, acrescentou.
Mário morava ao lado da casa dos pais, em Belo Horizonte, e era extremamente dedicado à família, segundo o sobrinho. “Todos alimentaram a esperança de encontrá-lo vivo, até chegar a notícia da sua morte, às 10h30 de quarta-feira. Eu tinha a certeza de que iria encontrá-lo. Sou engenheiro e vivia ao seu lado. Ele era muito experiente, profundo conhecedor da natureza. De topografia entendia tudo. Ele sabia onde tinha rio, onde tinha água. Mesmo se estivesse perdido, não seriam dois dias que iriam matá-lo de fome. Disseram que acharam todos os pertences dele, mas um engenheiro e um geólogo sempre andam com papel e caneta para fazer anotações de como o projeto seria. Se estivessem morrendo por algum motivo, teriam deixado uma carta”, disse Felipe.
Amor a Minas
Nos últimos diálogos que teve com a família, pelo computador, Mário Gramani Guedes não escondeu sua expectativa para o fim do trabalho de campo na região da floresta amazônica do Peru: “Fériaaaaasss”, ele escreveu no bate-papo, contando os dias para a viagem que faria com a mulher pela Europa. Eles tinham 30 anos de união e embarcariam na segunda-feira, viajando por 18 dias. O geólogo Guedes era paulista, mas adotou com amor a cidade de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, onde morava desde 1987. A mudança foi por causa da profissão. Os encantos do município, no entanto, acabaram conquistando o coração do corintiano.
“Ele adorava Uberlândia e queria envelhecer aqui. Desde 2000, meu pai morava em Belo Horizonte durante a semana, mas não deixava de vir para casa toda sexta-feira, para passar o fim de semana com a gente. Ele fazia muita questão de estar com a família e o amor da vida dele era nosso cachorrinho de estimação, o maltês Petico. Esta viagem ao Peru era o último trabalho antes das férias e ele estava ansioso porque planejou uma viagem com minha mãe para a Europa. Eles iam conhecer a Alemanha e a Holanda e visitar uma amiga em Londres, cidade de que ele gostava e que queria rever”, contou a filha Júlia, de 30 anos, com dificuldade de usar os termos no passado.
O comerciante Augusto Ribeiro Neto, de 63, cunhado do geólogo Mário Guedes, conta que ele deixou dois filhos. Além de Júlia, que é médica, Márcio Guedes, de 26. “Sou casado com a irmã de Mário Guedes. A família está sofrendo muito”, disse. Augusto conta que os familiares ficarem revoltados com um jornal peruano que publicou a foto de duas vítimas de acidente de carro identificando-os como se fossem os brasileiros. “Chocou profundamente a família. O jornal noticiava um fato e colocou a fotografia de uma caminhonete com os corpos, sangrando. Só que, quando fomos verificar, tinha uma carreta tombada ao lado, que não tinha a ver com o caso”, disse Augusto.
Sem data, corpos vêm em avião
A Leme Engenharia, empresa na qual trabalhavam dois brasileiros, mandou um avião para resgatar os corpos na cidade peruana de Baguá Grande e levá-los para o Brasil. A data de traslado, porém, não foi definida. O embaixador brasileiro, Carlos Alfredo Lazary Teixeira, acompanha o caso, mas nessa quinta-feira ainda não havia informações sobre a liberação dos corpos. O geólogo Mário Gramani Guedes, de 57 anos, e o engenheiro Mário Augusto Soares Bitencourt, de 61, trabalhavam no pré-projeto de construção da hidrelétrica de Vera Cruz.
LEME Em nota oficial, a Leme Engenharia declarou estar fazendo todos os esforços tanto para a execução, mais rapidamente possível, do traslado dos corpos para o Brasil quanto para o fornecimento de todas as informações disponíveis aos familiares de Mário Bittencourt e Mário Guedes.
Na noite dessa quinta-feira, de acordo com o informe, um representante da empresa se dirigiria a Chiclayo, para onde os corpos seriam encaminhados. A Leme contratou um médico-perito particular, para a coleta de amostras suplementares a serem enviadas para o Brasil.
Mário Bittencourt e Mário Guedes são descritos como profissionais preparados para missões como a que era desempenhada no Peru. Eles trabalhavam na região de Jaén, a aproximadamente 800 quilômetros da capital, Lima. A área é de formação montanhosa com altitudes variando entre 600 e 1,4 mil metros, com temperaturas entre 8° e 18°. A equipe, conforme a Leme, utilizava estradas e trilhas pré-existentes e profissionais condutores.