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Estado de Minas BOA AÇÃO, MAS E AS MULTAS?

Multa por sujeira de minério em Congonhas gera dúvidas para a PM

Polícia Militar não define em que tipo de infração enquadrar veículos com resíduos de minério, proibidos de circular pelas ruas de Congonhas. Mineradoras são principal alvo


postado em 30/07/2011 06:00 / atualizado em 30/07/2011 08:12

O primeiro dia de aplicação da norma que proíbe a circulação de veículos leves e utilitários que possam deixar resíduos de minério pelas ruas de Congonhas, na Região Central de Minas, foi marcado por dúvidas, muita conversa e nenhuma multa. A previsão é da taxa pela infração, considerada média, seria de R$ 85, com perda de três pontos na carteira. Policiais militares que participaram da operação não sabiam em que artigo do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) poderiam enquadrar os infratores.

Desde segunda-feira, o Decreto 5.347, do prefeito Anderson Cabido (PT), levou PMs, guardas municipais e funcionários da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável do município a fazer blitzes educativas em estradas de acesso às mineradoras, cujos carros são os principais alvos. Nessa sexta-feira, apenas um veículo passível de multa foi abordado, mas, com a indefinição, teve autorização para seguir viagem. Segundo o secretário de Desenvolvimento Sustentável, Gabriel Scliar, as mineradoras estão colaborando. Elas teriam dividido os automóveis nos segmentos dos que trafegam na mina e dos que circulam em vias pavimentadas.

“Estamos impedindo que veículos de mineradoras trafeguem pela cidade carregando uma crosta de minério no chassi, nas rodas e na lataria. Tomamos essa decisão devido à sujeira que deixam na cidade”, disse Scliar. Segundo ele, o pó de minério chega em Congonhas pelo vento e agarrado nos carros.

Em 2006, o município havia proibido o tráfego de caminhões que pudessem provocar danos às vias e aos imóveis do século 18 tombados pelo patrimônio histórico. O conjunto arquitetônico e artístico da Basílica de Bom Jesus dos Matosinhos foi reconhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco em 1985. Lá estão os profetas de Aleijadinho e as capelas dos Passos da Paixão de Cristo.

O secretário reconhece que há estradas de terra no município, mas o foco não são os carros que voltam de sítios ou fazendas. Para ele, é fácil diferenciar a poeira comum do minério, pela cor. “O pó do minério vira uma lama preta agarrada nos carros e os veículos que trabalham nas mineradoras são frotas identificadas”, disse.

Sem autorização

A Guarda Municipal de Congonhas, incluída na operação, não pode aplicar multas, função que caberia à Polícia Militar. Segundo o secretário, a prefeitura está municipalizando o trânsito e em dois meses os agentes terão autorização para multar. “A Polícia Militar nos informou que a Central de Operações deles, em Belo Horizonte, ainda não respondeu qual o exato enquadramento que essas multas vão ter”, acrescentou. Ele observa que o Código de Trânsito Brasileiro dá a prerrogativa ao município de gerenciar o uso das suas vias.

Além do transtorno causado à população, com a sujeira e o aspecto “enferrujado” de Congonhas – que ganhou o apelido de “cidade encardida”, segundo o secretário –, o turismo também é afetado pela poeira. Ele faz referência aos visitantes atraídos pelo tombamento do conjunto como Patrimônio da Humanidade. “A impressão é que a cidade é mal cuidada e afasta os turistas. A área central é varrida duas ou três vezes por dia e, diariamente, são retiradas até 5 toneladas de pó de minério das ruas. Aqui, o serviço de limpeza urbana não trabalha somente com vassouras, mas também com pá e enxada”, afirma.

Ele argumenta que o patrimônio histórico, como os 12 profetas feitos por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, é um dos atingidos pelo acúmulo de minério. “Há uma série de estudos que tratam do problema que esse pó de minério pode acarretar às estátuas que ficam ao ar livre”, alerta o secretário. O pó também é apontado como agravante dos danos à saúde da população, principalmente em períodos secos, como agora. “Aumentam os casos de problemas respiratórios com crianças e pessoas idosas”, disse.

Os veículos das mineradoras, segundo o secretário, vão para a cidade com até 6 centímetros de espessura de crosta de terra. “Eles passam por quebra-molas e ruas de calçamento, deixando os dejetos ao longo da via”, acusou. Há legislação nacional que obriga as mineradoras a manter as vias internas das minas molhadas, para diminuir a poeira. “Agora, elas precisam instalar os lava-rodas. O veículo transitando molhado dentro da mina fica muito sujo. A gente considera que é uma obrigação das empresas mineradoras não permitiu que seus veículos que transitam internamente tragam essa sujeira para dentro da cidade”, cobra o Scliar.

 

Legislação se aseou no CTB

 

O tenente Cláudio Corrêa Armond, da 12ª Companhia do 31º Batalhão da PM, afirma que a polícia busca um enquadramento para esse tipo de infração. “Consultamos a nossa diretoria de meio ambiente e trânsito, que é especializada nesse assunto. Tão logo a gente tenha uma resposta, vamos começar as autuações de trânsito”, disse o militar. Ele reconhece a existência de regulamentação do município para legislar sobre o trânsito, mas observa que o CTB não faz referência a veículos sujos.

Sobre o critério de julgamento do grau de sujeira do automóvel, o tenente disse que a parte externa do assoalho e as rodas serão avaliadas . “Também estamos aguardando um critério de avaliação da diretoria de meio ambiente e trânsito para ver se é realmente a Polícia Militar que vai constatar isso”, declarou o tenente.

O diretor de Trânsito de Congonhas, Sérgio Pires, informou que o decreto, inspirado no CT B, diz que serão multados veículos com potencial de causar sujeira. “Está voltado para os que circulam em área de mineração. Os fiscais do meio ambiente e da gestão urbana, ou o guarda municipal ou policial militar que verificar essa condição no veículo, ele faz a autuação. Agora, quanto à subjetividade de estar mais sujo ou menos sujo, faço uma analogia ao CTB quando diz sobre motorista alcoolizado. Você não precisa soprar o bafômetro, mas se tiver sinais evidentes de que está alcoolizado, você é autuado”, afirmou Pires.

Ele reconhece que não existe uma codificação específica para sujeira ou pó se o assunto é a regulação das leis de trânsito, mas apenas para derramamento de carga. Porém, pretende recorrer ao mesmo princípio que pune motoristas em veículos de três eixos circulando em não conformidade com a via. Os carros autuados por sujeira serão fotografados como prova da infração. Pires prevê 30 agentes de trânsito autorizados a multar. São funcionários públicos concursados com cursos específicos na área, além da PM e da Guarda Municipal.

Segundo o secretário de Desenvolvimento Sustentável, Gabriel Scliar, a negociação com o setor de mineração para controle desse problema, com participação do Ministério Público, ocorre há dois anos. Na região, são duas mineradoras próximas à cidade e quatro no entorno, mas que, de acordo com ele, também seriam responsáveis pela poluição local. Ele diz que a cidade já está mais limpa depois da campanha. “Muitos veículos de mineradoras passam por uma ducha antes de transitar pelas ruas de Congonhas”.


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