O Ministério da Integração Nacional informou em nota, que estão sendo tomadas “todas as providências para o retorno da prestação do serviço da Operação Carro-Pipa em Minas Gerais”. Há dois meses, o exército suspendeu o aluguel de caminhões-pipas usados para levar água potável para os moradores da zona rural no Norte de Minas, alegando a falta de recursos orçamentários, conforme denunciou reportagem do Estado de Minas, neste domingo.
De acordo com prefeitos da região, a causa do problema está relacionada com a própria condição climática do semiárido mineiro: o Norte de Minas e o Jequitinhonha, embora estejam situado no Polígono das Secas, tem um regime de chuvas diferenciado dos estados nordestinos. Só que, para liberar os recursos, o Governo Federal leva em conta os aspectos climáticos do Nordeste. “Na hora de fazer o planejamento da liberação dos recursos para a Operação Carro-Pipa do Exército, o Governo Federal considera o período da estiagem de todo Nordeste, que começa em novembro ou dezembro, colocando o Norte de Minas o Vale do Jequitinhonha na mesma condição.
Acontece que, agora, enquanto ocorre o excesso de chuvas em estados do Nordeste como Pernambuco e Paraíba, a nossa região está vivendo o crítico da seca. O pessoal que sofre com a falta de água aqui não pode esperar até o final do ano”, afirma José Mário Pena (PV), prefeito de Francisco Sá, um dos municípios mais castigados pela estiagem em Minas.O presidente da Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene (Amams), Valmir Morais de Sá, prefeito de Patis afirma que, como não houve o repasse de recursos da União para a Defesa Civil Nacional, sem ter como pagar, há dois meses pelo serviço, o Exército teve que interromper os contratos de aluguel de 80 caminhões-pipas que estavam rodando no Norte de Minas. “O pior é que o período da seca na região vai até meados de novembro e a tendência é só piorar de agora prá frente”, alerta.
Morais de Sá confirma a informação do seu colega Mário Pena em relação à “igualdade” do clima entre o Norte de Minas e o Nordeste por parte do Governo Federal. “De fato, na hora de fazer o planejamento, eles baseiam no Nordeste para mandar recursos para o combate a seca em nossa região. Por isso, o dinheiro sempre chega atraso e quem sofre com os prejuízos é a população. Fizemos pedido ao (ex) presidente Lula para mudar isso e nada foi feito. Agora, vamos tentar fazer o mesmo apelo à presidente Dilma”. O Ministério da Integração Nacional não faz nenhuma alusão à reclamação dos prefeitos de que o Governo Federal leva em conta o regime de chuvas no Nordeste para liberar recursos destinados ao atendimento aos atingidos pela seca em todo Polígono das Secas, incluindo o semiárido mineiro.
Na nota encaminhada ao Estado de Minas, o Ministério diz que a operação Carro-Pipa é “um programa de ações de resposta aos desastres (socorro e assistência às pessoas atingidas por desastres)”, desenvolvido por meio de cooperação “técnica e financeira” entre os ministérios: da Integração Nacional e da Defesa. Afirma que a responsabilidade do Ministério da Integração Nacional, por meio da Secretaria Nacional de Defesa Civil (Sedec), é dar cobertura suplementar aos estados e municípios do semiárido brasileiro nas despesas decorrentes do abastecimento de água
potável, por intermédio de carros-pipa”. E que, assim, a operação deve ser um “complemento” das ações dos estados e municípios, cabendo a estes “buscar continuamente os melhores mecanismos de captação e distribuição de água, amenizando, e até mesmo solucionando, os problemas de fornecimento regular”.
Seca vai durar pelo menos mais três meses
Os moradores do Norte de Minas precisam se preparar para a convivência com a seca, pois a estiagem ainda vai se estender por pelo menos três meses. De acordo com o meteorologista Ruibran dos Reis, do Centro de Climatologia Minas Tempo, a previsão é as próximas chuvas deverão ocorrer no Norte do estado no começo ou meados de novembro.O meteorologista salienta que neste ano, a região não sofrerá os efeitos dos fenômenos “El Nino” e “La Nina”, responsáveis por outras estiagens como a de 2007, que foi consideradas uma das piores da história, provocando as mortes de mais de 100 mil reses no Norte de Minas. Por outro lado, ele lembra que a região foi muito prejudicada pelo veranico de janeiro e fevereiro. “Em março e abril, ocorreram chuvas significativas, que, entretanto, não foram suficientes para eliminar os prejuízos dos agricultores e recuperar a vazão dos mananciais”, observa.
Ruibran explica ainda que, “embora as duas regiões estejam no semiárido”, de fato, o regime de chuvas do Norte de Minas é diferente de estados nordestinos como Pernambuco, Alagoas e da Paraáiba. “O período chuvoso mais intenso do Nordeste começa em maio e vai até agosto. No Norte de Minas, as chuvas começam no fim de outubro ou início de novembro e vão até março ou abril”, afirma o meteorologista. Ele explica ainda que as chuvas do Norte de Minas são provocadas por frentes frias, que chegam do Sul Sudeste enquanto as chuvas do Nordeste são causadas por uma massa de ar tropical marítima, que transporta a umidade do Oceano Atlântico para o Continente e, além do Brasil, também atua sobre a África.