Na segunda parte da série de reportagens sobre a falta de água potável em 23 comunidades rurais do semiárido mineiro, o Estado de Minas mostra como a demora na entrada em funcionamento de estações de tratamento agrava o drama de moradores de localidades como a da Agrovila Monte Alegre – onde fica a Escola Jairo Ferreira Guedes –, criada para abrigar reassentados da Barragem Setúbal, inaugurada em janeiro do ano passado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A construção, de R$ 160 milhões, fez parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a inauguração da obra foi saudada como a redenção do pequeno município, com pouco mais de 7 mil habitantes, que sempre sofreu com o problema de falta de águaSó que, para a zona rural da cidade, a obra ainda não fez diferença porque a estação de tratamento construída na época da transferência da população não funciona.
Os equipamentos da estação foram recentemente pintados de branco, mas a tinta não esconde os sinais de abandonoDentro da pequena edificação, sacos de produtos químicos estão rasgados e recipientes para tratamento estão com bombas enferrujadas, cheios de água suja e insetosA água usada pela comunidade vem de um poço artesiano e é distribuída sem nenhum tipo de tratamento para as residências das 55 famílias que moram aliQuem toma conta da estação e do poço é o dono da venda da comunidade, Isaías Soares Ribeiro, 47 anosSegundo ele, a pintura é resultado de uma ação do Ministério Público, que cobra “para ontem”, ele diz, a entrada em funcionamento da estação“Mas mesmo esse ‘para ontem’ está muito demorado”, completa.
Seu Isaías recebe um salário da Fundação Rural Mineira (Ruralminas) para fazer o serviço
Falta técnico O abandono de obras que poderiam minimizar os efeitos da falta de água também é problema em Buriti do Meio, comunidade quilombola do município de São Francisco, a 558 quilômetros de Belo HorizonteAli, as 178 famílias consomem água retirada de um poço tubular sem nenhum tipo de tratamentoA localidade tem uma estação de tratamento, construída há seis anos, quando o poço foi cavado, mas ela não funcionaClaudionor Souza Silva, diretor da associação comunitária de Buriti do Meio, conta que o equipamento foi adquirido com recursos da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), mas não há técnico para operá-lo“Sem uma pessoa capacitada, a gente não pode comprar nem os produtos usados para tratar a água”, afirma o líder comunitárioA comunidade já cobrou da prefeitura um técnico treinado, mas não foi atendida.“Se a gente tivesse água tratada, as condições de vida seriam melhores e haveria menos doenças”, lamenta Claudionor.
Em Araçuaí, a 678 quilômetros de Belo Horizonte, uma obra da Funasa de R$ 157 mil que poderia amenizar os efeitos da falta de água também nunca funcionouA estação simplificada de tratamento e distribuição de água, em Gravatá de Cima, comunidade da zona rural de Araçuaí, foi paralisada em 2008