Nessas condições, a orientação é para evitar atividades físicas e exposição ao sol entre às 10h e às 17h. Como não há como evitar o trabalho, no caso de Sidney, a alternativa tem sido recorrer ao galão de água que fica em cima do caminhão de asfalto. “Tomo muita água, abro os botões da camisa. Aí dá um alívio”, conta o operário, acostumado a trabalhar debaixo do sol desde os 9 anos. E é bom que Sidney fique atento à hidratação pelo menos até amanhã, pois somente a partir de sábado está prevista a chegada de uma massa de ar frio para amenizar a secura que pairou sobre a cidade.
“Na nossa avaliação, a onda de calor é também um desastre. Temos que ficar atentos às queimadas e à desidratação”, alerta o coordenador municipal de Defesa Civil, coronel Alexandre Lucas Alves. Em relação aos danos à saúde, a diretora do Hospital Infantil João Paulo II, Helena Maciel, explica: “O ar seco irrita a mucosa respiratória e dificulta a absorção de oxigênio e as trocas gasosas. Isso causa desconforto, tosse e rinite”, afirma a médica, que recomenda cuidados a adultos e crianças. “Tem que se hidratar e se proteger do sol, além de manter superfície molhada nos ambientes e pingar soro fisiológico nos olhos e nariz.”
É o que faz normalmente a servente de pedreiro Edenilsa dos Santos Lima, de 21. Alérgica, ela começou a trabalhar há um mês nas obras de revitalização da Savassi e, assim como Sidney, tem sentido na pele os efeitos de ficar ao ar livre, com tempo seco e termômetro nas alturas. “Aqui a poeira pega, não tem jeito, e, com o tempo seco, fica difícil de respirar”, diz, ao descarregar um carrinho de sujeira na caçamba.
Já o encarregado de manutenção da Praça Floriano Peixoto, no Bairro Santa Efigênia, Região Centro-Sul da capital, José Andrade do Carmo, de 56, não abre mão de tomar água, de 20 em 20 minutos. No gramado queimado da praça, José conta que os efeitos do tempo não recaíram apenas sobre o corpo. “A grama estava verdinha e agora está toda amarela. É esse mormaço.”
Índice
De acordo com o meteorologista do 5º Distrito do Instituto Nacional de Meteorologia, Claudemir de Azevedo, é considerado adequado um índice de umidade relativa do ar a partir de 50%, sendo que, a partir dos 30%, já entra em estado de atenção. “Belo Horizonte, onde não chove desde 9 de junho, registrou hoje (quarta-feira) 30% de umidade relativa do ar, em decorrência da atuação de uma massa de ar seco sobre o Centro-Oeste e Sudeste do país. A situação deve permanecer assim até sexta-feira”, afirma.
Meteorologista do Centro PUC Minas Tempo Clima, Adelmo Correia acrescenta que a situação está pior ainda no Triângulo Mineiro, Noroeste e Norte, com municípios com umidade abaixo de 20%, dentro do estado de alerta. “Uma frente fria vai atuar sobre Minas a partir do fim de semana, mas só ameniza, sem solucionar o problema. A umidade só vai voltar a ficar próxima do ideal quando chover, em meados de setembro”, alerta.