O Residencial Orquídeas nunca mais será o mesmoSe já era recatado, quedou-se em precavido silêncio, depois de uma revoada de jornalistas apertando botões de interfone para saber como os moradores reagiram à prisão de Neli Maria Neves e do marido, acusados de sequestroPara eles, foi uma surpresaConsideram o casal e a filha, Natália, uma família normal, embora discreta e quase sempre recolhida à casa de número 4 do condomínioO que estranhavam era o comportamento da moça, de 24 anos: calada, sempre cabisbaixaNunca andava só e a vizinhança não sabe nem sequer se ela estudou ou se frequentava escola.
O Bairro Fonte Grande, em Contagem, Grande BH, já sabe de tudo, pelo menos acredita nissoMas sabe apenas o que já foi veiculadoA Rua José Joaquim sabe menosNo número 223, que identifica o residencial de classe média, com menos de uma dezena de casas modestas, de dois andares, não se sabe mais nada ou não se abre mais a bocaNinguém quer se comprometer ou complicar ainda mais a vida de Neli e do marido, um casal em dia com o aluguel, com o condomínio e normalmente cordial.
Quem se arrisca a dizer o mínimo sobre eles não mora no conjunto de casas e os define como pessoas normais, atenciosas, principalmente NeliPara explicar o silêncio da filha cabisbaixa, ela sempre repete que a moça toma remédios para depressão
A Rua José Joaquim, nos seus primeiros quarteirões, é uma via de passagemMuros altos, como o do residencialQuase não há comércioO tráfego de veículos é intensoA não ser os vizinhos de condomínio, Neli, o marido e Natália pouco têm com quem conviverE ninguém ali acredita que o casal esteja envolvido em tráfico de pessoasPara a maioria, trata-se apenas de uma mulher sem juízo, infértil e carente de filhosDito isso, o Residencial Orquídeas se trancou e foi dormir ontem, sob a ordem da desconfiança.