Jornal Estado de Minas

Alunos da UFMG fazem da bebida diversão


Quem presta atenção no entra e sai de carros e na travessia de milhares de alunos na Avenida Antônio Carlos para entrar no Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mal percebe o cinturão de pequenos bares que cerca a instituição. Bloqueadas pelas filas de passageiros que aguardam ônibus, essas portinhas simples concentram alunos da instituição, que entre brindes e saideiras, colocaram a UFMG na 10ª posição entre as universidades federais com o maior número de estudantes com hábito frequente de consumir bebida alcoólica.



De acordo com pesquisa da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), 20,47% dos alunos da UFMG fazem uso frequente de álcool, sendo que 2,32% consomem bebidas diariamente e 18,15%, periodicamente.

No interior desses bares é possível constatar a assiduidade dos alunos de vários cursos, homens e mulheres, a maioria jovens sorridentes e falantes, desfrutando de cerveja e cachaça sob o calor do início da tarde. Devido à violência, às drogas e aos crimes, a UFMG proibiu festas com bebidas alcoólicas no interior do câmpus. Mas, nos bares satélites, os próprios alunos admitem que o álcool é comum na vida acadêmica.

"O espaço do bar é algo culturalmente importante, onde fazemos política, nos relacionamos. É claro que há exageros. Já fiz prova bêbado, mas, ainda assim, tirei uma nota muito boa", garante o estudante do 8º período de psicologia, Ricardo Dias de Castro, de 21 anos.



Estudante do quarto período do curso de ciências sociais, Débora Oliveira, de 20 anos, lembra que já trabalhou num estágio depois de ter bebido. "A gente bebe de vez em quando, numa sexta-feira. Mas uma vez dei azar, porque alguém do estágio tinha de explicar o esquema de bolsas e me mandaram falar. Falei tudo errado e gaguejando", admitiu.

Preferência


Gerente do Bar do Cabral, que fica do outro lado da Antônio Carlos, Leonardo Maurício Costa, de 28 anos, confirma a preferência dos alunos. "Aqui fica tão cheio que eles bebem na rua. Mas é uma história de 30 anos em que o bar existe. Na quinta-feira, na colação de grau de geografia, os alunos fizeram uma homenagem ao bar", conta.

Num outro bar do entorno da UFMG, os calouros de engenharia elétrica Alvaro Rubião e Arthur Morais, de 18 anos, afirmam que os universitários bebem tanto por causa da falta de opções e excesso de oferta. "Aqui em Belo Horizonte não tem praia nem mais nada para fazer do que beber. Como disse Maradona, na Argentina tem uma universidade a cada esquina, aqui, um bar a cada esquina", comparou Rubião.



Do lado de fora do estabelecimento, os também calouros Artur Távora, de 20, Rodolfo Ota, de 18, Matheus Mascarenhas, de 20, e Rafael Melo, de 19, entendem que os estabelecimentos fazem até promoções e reduzem os preços às quarta-feiras. "É a quarta maluca. Tem dia que o bar fica tão cheio que sai gente para a rua em plena tarde", disse Távora.

Além da UFMG, a pesquisa da Andifes aponta que as universidades federais de Lavras (Ufla), Viçosa (UFV), Alfenas (Unifal) e o Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet) estão entre as instituições nas quais os estudantes mais consomem álcool. Procuradas, nenhuma delas se dispôs a comentar os resultados.