Meio-dia ou madrugada, em dia útil ou no fim da semana, no bar ou na república. Não importa a hora, nem o local para farrear em Ouro Preto, na Região Central de Minas. Na cidade conhecida pelo potencial turístico e universitário, o encontro no bar depois da aula para papear e tomar uma cerveja, o "rock" na república de amigos para fazer o social entre grupos diferentes e a balada que corta a madrugada são programas corriqueiros. Mas, agora, esses eventos, regados a bebidas alcóolicas, ganharam um peso a mais. Conforme levantamento divulgado nesta semana, universitários da cidade histórica, famosa pelo carnaval, caloradas, festas e festivais, foram apontados como os que mais fazem uso de álcool entre os alunos das instituições federais do país. Pelo estudo, 29,18% dos estudantes da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) assumem consumir bebidas alcóolicas periodicamente ou sempre, número que representa mais que o dobro da média nacional, de 14%.
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Alunos da UFMG fazem da bebida diversãoEstudantes da Ufop também abusam da bebida alcoólica em festasUfop decreta luto oficial de três dias após morte de estudante em repúblicaEstudante morre dentro de república em Ouro PretoEm dias comuns, o consumo de álcool ocorre entre amigos nas repúblicas, nas quais, há, inclusive, boates para festas e frezzeres de marcas de cerveja. A bebida é entregue aos moradores da casa sob consignação pelo vendedor e paga-se posteriormente pelo que for consumido. Quando é dia de rock em bares e casas de shows, o aquecimento é feito na república até meia-noite ou uma hora da manhã e a balada segue pela madrugada. Na quinta e sexta-feira, os estudantes têm destino marcado. No bar Bambuzal, no Centro Acadêmico da Escola de Minas (Caem), no Centro Histórico, a única regra é apresentar o documento de identidade e exceção mesmo é ficar sem o copo na mão.
Com um público essencialmente composto por universitários, a casa vende cerca de 1,5 mil latas de cerveja por dia, além de destilados. "Abrimos por volta de duas e só fechamos às 6h", conta um funcionário. O cigarro é reprimido por seguranças, mas os jovens não se intimidam com a maconha, cujo cheiro é sentido no ar.
"Aqui em Ouro Preto, a gente paga para entrar em igreja, mas não paga para beber, principalmente se for mulher", relata a estudante D.F.L, de 20 anos, aluna do curso de artes cênicas. O relato dela é compartilhado pelos colegas de classe: "Tudo é motivo para fazer um rock. Comprar um móvel novo, fazer uma reforma ou terminar um trabalho da faculdade. Uma vez passei oito dias bebendo", conta. Os alunos dizem que a cidade tem o serviço de tele-cerveja que funciona até 1h30. "O consumo maior dos estudantes na cidade é por álcool e lanche. Às vezes, tem churrasco, mas grande parte não tem carne, só bebida", explica a jovem.
Comemoração
Por volta das 20h de quinta-feira, enquanto se organizavam para partirem para um rock em Mariana, os jovens falaram ao EM sobre a repercussão que o ranking alcançado por Ouro Preto teve nas redes sociais. “Estão achando engraçado e até mesmo comemorando. Esse resultado não nos assusta, só confirma o que a gente vê entre os alunos da universidade. Aqui, não beber é uma exceção. Mesmo assim, também tem gente que não bebe”, afirma D.
Fim da manhã de sexta-feira e a situação não foi diferente. Com a iminência do início da greve dos professores na Ufop, um grupo de oito alunos troca a cadeira na universidade pela mesa de bar no Barroco, estabelecimento localizado no Centro Histórico de Ouro Preto. "Até fui à universidade mais cedo, mas não teve aula. Tem gente que nem mesmo está indo, relata um dos universitários".
Os números de Ouro Preto fazem parte do Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação das Universidades Federais Brasileiras. O levantamento foi feito pela Associação Nacional dos Dirigentes ds Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e traz informações das 56 insitutições federais do país. Além de Ouro Preto, todas as mineiras também estão acima da média nacional.
Ameaça de greve
Depois de ter sido surpreendida com o ranking negativo do consumo de álcool, outra preocupação da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) é com a ameaça de greve dos professores. Desde que o período letivo do segundo semestre teve início, na quarta-feira, muitos alunos ainda não tiveram aula. Alguns que moram em outras cidades ou estados nem mesmo voltaram à cidade e estão à espera de uma definição sobre o movimento.