Meio-dia ou madrugada, em dia útil ou no fim da semana, no bar ou na república. Não importa a hora, nem o local para farrear em Ouro Preto, na Região Central de Minas. Na cidade conhecida pelo potencial turístico e universitário, o encontro no bar depois da aula para papear e tomar uma cerveja, o "rock" na república de amigos para fazer o social entre grupos diferentes e a balada que corta a madrugada são programas corriqueiros. Mas, agora, esses eventos, regados a bebidas alcóolicas, ganharam um peso a mais. Conforme levantamento divulgado nesta semana, universitários da cidade histórica, famosa pelo carnaval, caloradas, festas e festivais, foram apontados como os que mais fazem uso de álcool entre os alunos das instituições federais do país. Pelo estudo, 29,18% dos estudantes da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) assumem consumir bebidas alcóolicas periodicamente ou sempre, número que representa mais que o dobro da média nacional, de 14%.
E a mistura que enche cada vez mais os copos, lota bares e anima as festas nas casas dos alunos é bem sugestiva à bebedeira. Pelo menos metade dos 9 mil inscritos nos cursos da Ufop oriundos de outros estados – a média nacional é 21% – e 53% deles vivem associados em grupos de amigos, morando em repúblicas e distantes dos pais. As casas federais somam 59 na cidade, enquanto as particulares ultrapassam 300 unidades. A liberdade excessiva apontada por especialistas e reconhecida até mesmo pelo reitor da instituição, João Luiz Martins, ainda se soma ao anseio por aventuras e descobertas da faixa etária de 18 a 24 anos, predominante entre os alunos, e ainda à falta de oportunidades de cultura, lazer e esportes na cidade.
Em dias comuns, o consumo de álcool ocorre entre amigos nas repúblicas, nas quais, há, inclusive, boates para festas e frezzeres de marcas de cerveja. A bebida é entregue aos moradores da casa sob consignação pelo vendedor e paga-se posteriormente pelo que for consumido. Quando é dia de rock em bares e casas de shows, o aquecimento é feito na república até meia-noite ou uma hora da manhã e a balada segue pela madrugada. Na quinta e sexta-feira, os estudantes têm destino marcado. No bar Bambuzal, no Centro Acadêmico da Escola de Minas (Caem), no Centro Histórico, a única regra é apresentar o documento de identidade e exceção mesmo é ficar sem o copo na mão.
Com um público essencialmente composto por universitários, a casa vende cerca de 1,5 mil latas de cerveja por dia, além de destilados. "Abrimos por volta de duas e só fechamos às 6h", conta um funcionário. O cigarro é reprimido por seguranças, mas os jovens não se intimidam com a maconha, cujo cheiro é sentido no ar.
"Aqui em Ouro Preto, a gente paga para entrar em igreja, mas não paga para beber, principalmente se for mulher", relata a estudante D.F.L, de 20 anos, aluna do curso de artes cênicas. O relato dela é compartilhado pelos colegas de classe: "Tudo é motivo para fazer um rock. Comprar um móvel novo, fazer uma reforma ou terminar um trabalho da faculdade. Uma vez passei oito dias bebendo", conta. Os alunos dizem que a cidade tem o serviço de tele-cerveja que funciona até 1h30. "O consumo maior dos estudantes na cidade é por álcool e lanche. Às vezes, tem churrasco, mas grande parte não tem carne, só bebida", explica a jovem.
Comemoração
Por volta das 20h de quinta-feira, enquanto se organizavam para partirem para um rock em Mariana, os jovens falaram ao EM sobre a repercussão que o ranking alcançado por Ouro Preto teve nas redes sociais. “Estão achando engraçado e até mesmo comemorando. Esse resultado não nos assusta, só confirma o que a gente vê entre os alunos da universidade. Aqui, não beber é uma exceção. Mesmo assim, também tem gente que não bebe”, afirma D.
Fim da manhã de sexta-feira e a situação não foi diferente. Com a iminência do início da greve dos professores na Ufop, um grupo de oito alunos troca a cadeira na universidade pela mesa de bar no Barroco, estabelecimento localizado no Centro Histórico de Ouro Preto. "Até fui à universidade mais cedo, mas não teve aula. Tem gente que nem mesmo está indo, relata um dos universitários".
Os números de Ouro Preto fazem parte do Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação das Universidades Federais Brasileiras. O levantamento foi feito pela Associação Nacional dos Dirigentes ds Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e traz informações das 56 insitutições federais do país. Além de Ouro Preto, todas as mineiras também estão acima da média nacional.
Ameaça de greve
Depois de ter sido surpreendida com o ranking negativo do consumo de álcool, outra preocupação da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) é com a ameaça de greve dos professores. Desde que o período letivo do segundo semestre teve início, na quarta-feira, muitos alunos ainda não tiveram aula. Alguns que moram em outras cidades ou estados nem mesmo voltaram à cidade e estão à espera de uma definição sobre o movimento.