Além de pagar por cercas elétricas, vigilantes de rua instalados em guaritas e sistemas privados de segurança, moradores de bairros de alto poder aquisitivo de Belo Horizonte, como Belvedere, São Bento e Santa Lúcia, na Região Centro-Sul, estão dispostos a pagar pelo menos R$ 500 por residência para ter acesso a olhos mais atentos da Polícia Militar e da Guarda Municipal. A instalação do sistema de vigilância eletrônica por câmeras, mais conhecido como Olho Vivo, financiada pelos próprios moradores, foi objeto de discussão em reunião na última quinta-feira, com a participação de mais de 100 pessoas, na sede do 22º Batalhão de Polícia Militar, que atende aos bairros da região. A iniciativa, entretanto, é criticada por especialistas e moradores de bairros que não contam com o sistema de vigilância. Eles temem a privatização da segurança pública.
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Instalação de câmeras na Região Centro-Sul é alvo de críticasRuas de BH têm mais de 350 'espiões' da vigilânciaBH prepara licitação de 300 câmeras do Olho VivoMoradores da Pampulha, Anchieta e Floresta também querem Olho Vivo“Se tivesse esse sistema de câmera no bairro, eu pagaria. Para mim, investir em segurança é igual a trocar o telhado de casa. Não tem como fugir”, defende o empresário Eduardo Cozac, de 49 anos, que já instalou por conta própria circuito interno de televisão em casa. Ele mora no Bairro São Bento, na rua de trás da lanchonete onde, mês passado, uma mulher de 38 anos, com dois filhos, foi baleada e morta durante troca de tiros entre um motoqueiro e um policial, que também lanchava no local. Cozac desembolsou cerca de R$ 15 mil pelas câmeras, que filmaram o momento exato em que um ladrão pulava o muro da casa da vizinha de frente. “Reconheci o menor de idade que já foi preso e solto mais de 30 vezes arrombando os carros da região. Apesar de não ter dado em nada a filmagem, ainda acho válida a iniciativa, nem que seja para eu ajuntar outras tantas e levar a um programa de TV para denunciar a impunidade”, conta ele.
O projeto do Olho Vivo particular ainda está embrionário, mas, em princípio, São Bento e Santa Lúcia teriam de seis a oito câmeras instaladas em pontos estratégicos. Um deles seria em frente à lanchonete onde ocorreu a morte da mulher, nas proximidades do Center São Bento, o shopping local com grande circulação de moradores e de eventuais clientes de outros bairros.
Furtos e arrombamentos
Outros pontos em avaliação seriam o Falls Shopping, a Praça das Constelações, o entroncamento no alto da Avenida Raja Gabaglia, em frente ao Instituto da Criança e a Floricultura do Uriel. Nesses pontos, a PM teria identificado aumento do número de furtos, arrombamentos a carros e casas e tentativas de seq uestro relâmpago, apesar de não divulgar dados. “Atendemos à demanda dos moradores de participar da reunião, mas o projeto esbarra na questão financeira, porque vai sair caro”, afirma o capitão Márcio de Ares da Silva, responsável pela Rede de Vizinhos Protegidos e subcomandante da 124ª Companhia da PM.
No Belvedere, seriam de seis a 12 câmeras, dependendo da adesão dos moradores e da capacidade financeira da associação do bairro. Segundo Ricardo Jeha, presidente da Associação dos Moradores do Bairro Belvedere, a entidade conta com 870 casas cadastradas. Já o Belvedere III tem apenas prédios que já possuem câmeras. “Por ser uma entidade antiga, temos sede própria, sistema de boletos e facilidade maior de arrecadação dos valores. Se a maioria quiser, sairia a R$ 500 por morador, em cinco prestações de R$ 100. Seremos o primeiro bairro disposto a cotizar para ter um melhor atendimento da polícia. “Sabemos que, se a gente for exigir que o sistema seja instalado gratuitamente, como na Savassi ou Lourdes, vai demorar ou vai haver uma ordem de prioridade para outros bairro onde a carência é enorme”, completa.
Rogério de Oliveira Rezende, presidente da Associação dos Moradores do Bairro São Bento, questiona a forma de cobrança privada por um serviço público de segurança. “Não sei como cobrar isso dos moradores. Teria de bater de casa em casa?”, pergunta. Ele acha viável cobrar os valores do comércio local, mas não de moradores que já estariam sobrecarregados com impostos.