Enquanto os bairros Belvedere, São Bento e Santa Lúcia, na Região Centro-Sul, buscam a implantação das câmeras Olho Vivo usando recursos próprios e a mão de obra da Polícia Militar, regiões de forte vocação comercial e altos índices de crimes que carecem de policiamento, como Barreiro, Venda Nova e Betânia, ainda não conseguiram viabilizar os equipamentos. Para especialistas e entidades dos bairros que estão ficando de fora do policiamento tecnológico, a questão financeira está falando mais alto do que a necessidade.
Somando toda a população dos cinco bairros que compõem Belvedere, Santa Lúcia e São Bento, soma-se uma população residente de 17.920, de acordo com dados da prefeitura. Só o Betânia tem 16 mil habitantes. Fora outras 40 mil pessoas que passam por sua área comercial diariamente, de acordo com a Associação Comercial do Betânia e Região (Acober). Os bairros do Centro-Sul são essencialmente residenciais. “Tivemos conversas com a prefeitura e com a Polícia Militar, mas não conseguimos que nossas 20 câmeras fossem instaladas para dar maior segurança a nossos comerciantes e para os consumidores que frequentam a região. Na época, o orçamento era de quase R$ 1 milhão”, lamenta o presidente da Acober, Pedro Franco.
Para o empresário Eduardo Cozac, do São Bento, o investimento no Olho Vivo no Centro-Sul é necessário, para reforçar a segurança particular que já existe na região.
Anunciadas há dois anos, as 70 câmeras que seriam instaladas no Barreiro e outras 100 em Venda Nova, até hoje, não estão funcionando. Sem revelar os números de ocorrências em cada bairro, a Secretaria de Estado de Defesa Social informa que o Olho Vivo conseguiu reduzir a criminalidade em até 40% nos locais onde foi instalado.
“Não podemos condenar quem tem recursos e os usa para a sua segurança. A questão de que os bairros ricos podem usar segurança privada em vez da polícia também não é economia. É sabido que a PM é muito mais bem preparada”, afirma o pesquisador do Crisp. Ainda de acordo com Zilli, um dos perigos de a iniciativa privada assumir custos é o Estado deixar de investir – diferentemente da Parceria Público Privada, que funciona com gestão paga pelo poder público. “A pressão tem de ser feita para que o Estado consiga dar conta. Quando o recurso privado resolve algo provisoriamente, o resultado sai positivo e o estado investe menos numa área prioritária, como a segurança pública, por se sentir aliviado dessa obrigação”, disse.
A assessoria de imprensa da Seds justifica o uso da PM nas ocorrências. “Está em análise a possibilidade de utilização de PPPs para a viabilização de implantação de novos sistemas de videomonitoramento em Minas Gerais. Contando com a parceria da PM para atendimento de ocorrências e despachos, o financiamento de projetos de videomonitoramento por associações comerciais ou outros entes privados é uma alternativa para aumentar o número de câmeras instaladas no estado”, informou o órgão.
Reunião
A prefeitura não informou por que não houve instalação de câmeras no Betânia, no Barreiro, e em Venda Nova. O comando do policiamento do Betânia não retornou as ligações da reportagem para falar sobre os índices de criminalidade locais e a falta de câmeras do Olho Vivo.Nessa terça-feira , o sistema foi tema de uma reunião da Integração da Gestão da Segurança Pública (Igesp) no Barreiro, mas não surgiu ainda uma data para a implantação dos aparelhos de monitoramento.
De acordo com a Seds, hoje 340 câmeras operadas pelo estado funcionam em Minas (169 em BH). As demais estão instaladas em São Sebastião do Paraíso, Itabira, Montes Claros, Sete Lagoas, Uberlândia e Viçosa. Em BH, os equipamentos estão nas regiões Central e Noroeste.