A agressão a faca contra dois integrantes de um grupo skinhead na madrugada de sábado na Praça da Liberdade, ataque que teria sido cometido por um bando de punks, pode ter sido uma vingança articulada pelas outras tribos que frequentam a Savassi, conforme denunciou domingo um jovem punk. Ele também disse que as rixas entre esses grupos são antigas e devem ser vistas com cuidado pelas autoridades, pois podem se agravar, resultado de uma disputa acirrada pelo controle do espaço na noite belo-horizontina, principalmente na Região Centro-Sul da capital.
De acordo com o rapaz, que tem 22 anos e desde os 17 passa boa parte das madrugadas na Praça da Liberdade, punks, skatistas, emos e metaleiros têm o costume de ficar no coreto, tocando violão e tomando vinho, sem problemas, mas seriam perseguidos pelos carecas. “Aposto que a agressão de sábado pode ter sido uma vingança contra os atos violentos dos skinheads. As outras tribos podem ter se unido contra eles, pois os carecas já chegaram a agredir até meninas com socos. Deve ser uma resposta ao que tem ocorrido”, diz o rapaz.
Ele disse que no sábado estava na Praça da Liberdade, mas foi embora pouco antes da confusão, e que uma amiga lhe contou tudo. “Existe, sim, essa briga de gangues. Apesar de não ser tão acirrada quanto é em São Paulo, a rixa está ficando cada vez mais perigosa”, revelou.
Um grupo de jovens, que não quis se identificar, confirmou a ocorrência de brigas frequentes e contou como os skinheads agem. “Os carecas esperam a praça ou a região da Savassi perder o movimento, ficar sem policiamento, para atacar. Aí, eles pegam o que encontram pela frente: pau, skate ou qualquer outro objeto que possa machucar. O melhor é correr”, relatou uma menina, de 19, que teme represálias.
Sua história é confirmada pelo rapaz punk. Ele afirma que a tribo dos carecas não aceita as diferenças e tem preconceitos contra homossexuais, negros e punks. “É tudo fanatismo pelo movimento. Eles são intolerantes, “completa um rapaz de 18 anos, que se diz metaleiro.
Preocupação
A população que usa a Praça da Liberdade como área de lazer confessa que ficou assustada com o ataque e teme que as brigas ponham em risco o clima de paz na região, tão procurada por turistas. “Fiquei assustada quando soube o que houve aqui. A praça é um lugar que agrega todos as tribos e uma agressão como aquela é um preconceito. Essas pessoas têm que saber que não têm o aval da sociedade. Esse espaço aqui é de todos e não é para ser assim”, reclama a cerimonialista Rita Guerrieri, moradora do Bairro Funcionários.
Sua amiga, a psicóloga Vilma Lúcia Sá, que também mora na região, conta que uma colega já presenciou o espancamento de um jovem na Savassi por uma gangue. “Isso foi este ano, há poucos meses. É preciso que saibamos quem são essas gangues, o que querem e o que pensam”, diz.
Facadas e garrafadas
O ataque aos dois skinheads ocorreu na madrugada de sábado. Paulo Roberto Freitas, de 19 anos, e Felipe Hilário Figueiras, de 27, contaram à polícia que bebiam cerveja perto do carro em que estavam quando foram cercados por um grupo de 10 rapazes de cabelos compridos, roupas pretas e olhos pintados, que pertenceriam ao movimento punk. As vítimas foram esfaqueadas e o carro foi vandalizado. Paulo sofreu perfuração no pulmão e foi levado para o HPS. Felipe foi agredido na cabeça com garrafadas e uma facada e não precisou ficar internado.
Os dois negaram fazer parte de qualquer movimento extremista e alegaram que teriam sido confundidos com skinheads. Entretanto, o jornalista Rodrigo Freitas, irmão de Paulo, disse que o rapaz é integrante do movimento Carecas do Brasil, um grupo skinhead de posições nacionalistas.
Ontem, Rodrigo voltou a criticar a intolerância e defendeu Paulo. “O meu irmão nunca foi de briga. Naquela noite, estava tranquilo e foi atacado injustamente. Foram 10 contra dois. Uma vingança contra alguém que nunca se mete em confusão não é justa. Esses são os questionamentos que fazemos. Sou contra essas coisas de tribo urbana, acho uma bobagem sem tamanho. O que fizeram com meu irmão foi covardia”, reclama, dizendo que Paulo nunca participou de nada neonazista.
Paulo permanece internado no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, onde passou por cirurgia. De acordo com Rodrigo, ele está bem e sob observação médica. Jonathan Vaz, de 20 anos, detido no sábado e reconhecido por Felipe como um dos agressores, vai responder por tentativa de homicídio. A polícia está procurando os outros agressores, mas ainda não identificou mais ninguém.
Belo Horizonte