Nos últimos dias, Belo Horizonte também tem sofrido com queimadas Incêndios atingiram áreas de cerrado seco no Belvedere, Mangabeiras, Santa Lúcia e Buritis, onde os bombeiros conseguiram evitar que um posto de combustíveis fosse atingido, mas ainda averiguavam, nessa sexta-feira à noite, se as chamas poderiam voltar.
Além da ameaça do fogo a casas, lavouras ou parques longínquos, de acordo com especialistas, o fornecimento de água para as cidades e a lenta recuperação dos ecossistemas são problemas muitas vezes ignorados onde a política se resume ao combate às chamas.
De acordo com a professora do Departamento de Botânica da UFMG Maria Rita Scotti, especialista em áreas degradadas, incêndios muito intensos e frequentes destroem a vegetação que fixa a umidade no solo e podem prejudicar o abastecimento das cidades“Sem essas raízes, a água penetra mais fundo no solo e se perde nas profundezas”, afirma.
Depois de 11 dias ininterruptos de fogo nos campos rupestres e na Mata Atlântica que cobrem a região do Santuário do Caraça, entre Santa Bárbara e Catas Altas, na Região Central do estado, o abastecimento de água da área foi seriamente prejudicadoAlém do dano às matas ciliares e às nascentes que abastecem Catas Altas, o calor intenso das labaredas derreteu a tubulação que levava água para o município de 5 mil habitantes.
A prefeitura precisou implantar com urgência um regime de racionamentoAté essa sexta-feira, cerca de 20% da cidade ainda não tinham água
O empobrecimento do solo é outro problema agravado pelo fogoDe acordo com Maria Rita Scotti, a recuperação natural fica comprometida por causa disso“Além da flora, os micro-organismos que mantêm o solo fértil, com sua disponibilidade de nutrientes para as plantas que mantêm a fauna, podem ser drasticamente afetadosAssim, depois do fogo, a recuperação desse ecossistema pode ser muito demoradaO banco de sementes sob o solo também fica comprometido”, avalia
Devastação Em um dos parques mais afetados nesta temporada de queimadas, o Santuário Natural do Caraça, onde mais de 500 hectares foram transformados em cinzas, há áreas devastadas pelo fogo em 2004 que ainda não se recuperaram até hoje, de acordo com a bióloga do parque, Aline Abreu“Temos várias espécies ameaçadas e que levam tempo para conseguir repovoar áreas queimadasAs orquídeas, canelas-de-ema e bromélias demoram a germinar e a voltar”, diz
Segundo a subsecretária de Meio Ambiente de Minas Gerais, Marília Carvalho de Melo, o período é crítico, mas o alerta não significa que os incêndios ocorrerão em todos os municípios apontados“Esse perigo vem do registro de focos de calor
A subsecretária informa ainda que mais brigadistas deverão ser formados para o próximo ano, mas que a prevenção aos incêndios deve ser a principal ferramenta para evitar a devastação florestal“A maioria absoluta das queimadas é criminosa”, garante.