Jornal Estado de Minas

Em seis percursos feitos caminhando, pedestre chegou antes na metade dos casos

Cultura do automóvel ofusca facilidade e benefícios de andar pela cidade

Flávia Ayer Guilherme Paranaiba
Do Carmo à Praça da Liberdade, repórter motorizado chegou somente 10 minutos antes da colega - Foto: Rodrigo Clemente/esp. EM/D.A PRESS


A comodidade em forma de ar-condicionado, acelerador e freios ABS impede os cidadãos de descobrir que cruzar Belo Horizonte a pé do Barro Preto até a área hospitalar, ambos na Região Centro-Sul, leva apenas 20 minutos e 45 segundosMarcado no relógio, o carro gasta apenas dois minutos a menos para fazer o mesmo trajetoAs facilidades sobre quatro rodas também escondem o fato de que bastam 19 minutos e 40 segundos para caminhar do Bairro Carmo, na Zona Sul, à Praça da Liberdade, no Funcionários, também na Zona Sul, 10 minutos a mais do que os motorizados.

São observações de quem, sem apertar o passo, comparou seis percursos, todos na área central de BH e bairros próximos à Avenida do Contorno, a pé e de carroA constatação é de que, mesmo quando o trânsito está a favor do veículo e o transforma em campeão na disputa com o pedestre, o caminhante não perde de goleadaPoucos minutos separam pedestres de motorizados quando o assunto é tempoMas nos quesitos saúde e colaboração com o meio ambiente, quem gasta a sola dos sapatos anda com larga vantagem.

Na ponta do lápis, o teste entre carro e o pedestre, feito pelo Estado de Minas em duas manhãs de trânsito tranquilo e ao longo de percursos próximos à Avenida do Contorno, resultou em empate, levando-se em conta apenas o tempoÉ bom lembrar que no caso do trajeto sobre rodas foram considerados também os minutos gastos para estacionar legalmente o veículo em uma vaga de rotativoNa disputa, os pontos de partida e chegada eram o mesmosJá o trajeto era o de maior conveniência para cada participante.

O pedestre chegou mais rápido nos percursos do Bairro Floresta à Praça Sete, do Bairro de Lourdes à Praça da Estação e ao longo da Avenida Augusto de Lima, do Barro Preto ao Mercado CentralJá o carro levou a melhor nos trechos da Praça da Assembleia ao Bairro Gutierrez, do Bairro Carmo à Praça da Liberdade e da Praça Raul Soares à área hospitalar, Região Centro-SulConsiderados os critérios gasto calórico e emissão de poluentes, a situação muda de figura
Em 9,3 quilômetros percorridos a pé, o caminhante se despediu de 495 calorias, o equivalente a quase quatro barrinhas de chocolate.

Já o motorista, praticamente em repouso, gastou somente o suficiente para trocar marchas, da primeira para a segunda, da segunda para a terceira e não mais que isso, nos 12,9 quilômetros percorridos de carroMas ao volante, se o corpo fica parado, a paciência é exercitada a todo momento, com as buzinas, com o velocímetro que não passa dos 35km/h, com a busca incansável pela vaga e até com o carro da frente que pifou.

O pedestre não fica imune a obstáculos, apesar de se valer da vantagem de poder cortar caminhoCalçadas esburacadas são o principal desafio, junto com as ladeirasNessa hora, escadas, como a da Rua dos Goitacazes, no Centro de BH, são uma ajuda e tantoQuem está a pé também tem que ficar alerta, pois, no trânsito o pedestre muitas vezes passa despercebido aos olhos do motoristaMesmo com as dificuldades e com um pouco de suor, há a recompensa do corpo saudável e da colaboração com o meio ambiente e com a cidade, mais próxima e interessante para quem a conhece andando.

O professor aposentado João Francisco Baeta Costa, de 78 anos, já fez a opção pelas caminhadasQuando dava aulas na Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no Centro, andava mais de 60 quarteirões por dia, no percurso casa–trabalhoCom 78 anos, ele diz estar em plena forma e garante que a rotina de pedestre lhe trouxe vários benefícios à saúde"Faço exercícios físicos e mentais, além de me socializar com pessoas que encontro pelos meus trajetosÉ uma bela oportunidade de observar a vida, coisa que a gente não faz dentro de um carro", diz.

Mas há quem trilhe caminho oposto ao do professor, como o engenheiro civil Arnaldo Figueiredo Júnior, de 54 anos
Morador da Serra, na Região Centro-Sul da capital, ele trabalha a quatro quarteirões de casa, mas não dispensa o carro na rotina diária"Como tenho vaga de estacionamento no prédio onde trabalho, é uma situação de muita comodidadeAcabei adquirindo esse hábito”, dizEle explica que como gosta muito de esportes e pratica corrida pelo menos duas vezes por semana, uma situação acaba compensando a outra"Minha consciência não pesa tanto, por esse motivo", resume.

Meios de transporte na linha de largada

Está lançado o desafioCarros, motos, bicicletas, ônibus, pedestres e o metrô vão travar, na próxima terça-feira, uma disputa para atestar qual desses meios de transporte é o mais viável em um percurso de 12 quilômetros, da Praça Coração Eucarístico, no bairro de mesmo nome, na Região Noroeste de BH, à Praça da Liberdade, no Bairro Funcionários, Região Centro-SulA atividade faz parte das comemorações do Dia Mundial sem Carro, na próxima quinta-feira.

A iniciativa pretende incentivar a adoção de meios alternativos ao automóvel como forma de transporte, observando questões como poluição, saúde, interação com a cidade e também tempo de deslocamentoO coordenador do grupo de ciclistas Mountain Bike BH, Humberto Guerra, um dos organizadores do desafio, afirma que a partir dos relatórios gerados desde 2007, a cada ano o carro gasta mais tempo no trajeto.

"Em 2007, foram 44 minutosNo ano seguinte o tempo aumentou para 52 minutos, e em 2009 o cronômetro registrou uma hora e dois minutosEm 2010, as condições de tráfego estavam excepcionalmente boas e o tempo gasto foi de apenas 32 minutosMas o que observamos é que, cada vez mais, o carro fica refém das condições de tráfego, uma vez que há cada vez mais veículos nas ruas", diz Humberto.

No ano passado, o vencedor do desafio foi a bicicleta, contando quesitos como tempo, custo, gasto de energia, velocidade média e emissão de poluentesO desempenho nas bikes foi dividido entre masculino, feminino e atleta, sendo que esse último teve melhor performance em todos os aspectosQuem tiver interesse em ser um dos voluntários do desafio dos meios de transporte pode enviar e-mail para contato@mountainbikebh.com.br.