“Fiquei frustradoVai ser mais um dia perdidoJá não aguento mais ficar em casa, de bobeiraNo início da greve, ainda pensei que ia ser bom ficar uma semaninha sem aula e descansar, mas já percebi que tanto tempo assim me faz correr o risco de perder o ano”, diz o estudante, sem aulas um mêsInfluenciado pela preocupação da mãe, uma enfermeira que cobra empenho e notas boas, ele usou os livros doados pela escola para rever a matéria e fazer exercícios.
“Já fiquei muito tempo em casa para o meu gostoNão deu para avançar o conteúdo, porque eu não sabia o que ia aprender, mas pelo menos não esqueci as matérias”, disse“Estou preocupado também porque, quanto mais tempo demorar a greve, pior para as nossas fériasMinha família ia viajar para Aparecida do Norte, num passeio organizado pelo meu avô
Em outras escolas, o clima de ansiedade gerado pela decisão judicial de que os professores devem encerrar a greve imediatamente – sob pena de pagamento de multa – não é diferenteGustavo Alfredo Rodrigues da Silva, de 17 anos, também retirou os livros guardados no armário e separou o uniforme do Instituto de EducaçãoAluno do 2º ano de uma turma de Humanas, ele tentou minimizar os prejuízos da greve, criando uma rotina de estudos e pesquisa na internet, de duas a três vezes por semana.
“Faço um curso de usinagem mecânica, então, não deixei de estudar MatemáticaTambém refiz exercícios de disciplinas que tenho mais dificuldade, como Português e BiologiaFiz pesquisas para não esquecer os assuntos e até aos sábados eu estudava”, contou“Ano que vem, faço vestibular e não podia deixar que a greve atrapalhasse mais do que já está me prejudicando”, acrescentou.
Grupo de estudos
Mais de cem dias parado e o aluno do 2° ano Caio Araújo de Pádua, de 16, leu dois livros de ficção “só para não ficar à toa”Também manteve os cursos extracurriculares de Inglês e Matemática, mas o tempo vazio já o está incomodandoEle apoia a reivindicação dos docentes por melhores salários, mas, assim como o desembargador Roney Oliveira, também considera a paralisação muito longa.
“Tentamos fazer um grupo de estudos durante a greve, pelo menos para não esquecer o que a gente já tinha aprendido, mas a vice-diretora da minha escola não cedeu o espaçoO jeito foi estudar em casa mesmo e agora vou ter que dobrar o tempo de atenção aos estudosEntendo que os professores precisam de aumento e até concordo, mas já estamos há muito tempo em casa e isso até estressa o aluno
Desestimulada, a vestibulanda Bruna Xavier, de 17, já desistiu das provas deste anoCandidata a uma vaga de jornalismo na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ela voltou à escola no início do mês, para aulas com professores substitutos, mas acha que não tem chances de participar das seleções neste ano“Até dá para repor as aulas e completar o ano letivo, mas falta muito pouco para o Enem e a gente está muito defasado: não há a menor condição de competir com alunos de escolas públicas que estão estudando direitinho desde o inícioÉ ruim para mim, a greve atrapalhou muito, mas o que vou fazer?”, diz ela, resignadaBruna pretende terminar o ensino médio e se esforçar, ano que vem, em um cursinho pré-vestibular.
Na assembleia
A Assembleia Legislativa pode apreciar esta semana projeto do governo de Minas com subsídio de R$ 1.122 (o valor incorpora todas as vantagens) e de R$ 1.320 para os profissionais com licenciatura plena, além de do piso de R$ 712,20, para jornada de 24 horasO modelo foi apresentado ao Sind-UTE/MG, que decidiu manter a greveNa ocasião, o procurador-geral de Justiça de Minas, Alceu Marques, disse que o valor indicado pelo estado atende à decisão do
STF que estabelece piso nacional para professores da rede pública