(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas REDE ESTADUAL

Estudantes retomam aulas após mais de 100 dias de greve

Justiça considerou paralisação em Minas abusiva e determinou fim do movimento, sob pena de multa, mas sindicato promete recorrer


postado em 19/09/2011 06:04 / atualizado em 19/09/2011 06:52

"Fiz pesquisas para não esquecer os assuntos e até aos sábados eu estudava. Não podia deixar que a greve me atrapalhasse mais" - Gustavo Alfredo Rodrigues da Silva, de 17 anos, aluno do 2º ano do Instituto de Educação (foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press)
Quando soube pela televisão que o Tribunal de Justiça de Minas Gerais havia considerado a greve abusiva, o aluno do 2° ano do ensino médio Thiago Henrique Silva, de 17 anos, correu para o telefone e ligou para o Colégio Estadual Central. Queria saber se já podia deixar a mochila pronta, contando com o possível retorno das aulas hoje. Durante os mais de cem dias de greve, como tantos colegas angustiados, ele estudou por conta própria, para não esquecer a matéria e ocupar o tempo ocioso. Thiago já sabe, porém, que corre o risco de ficar mais um dia sem aula: a informação da escola era de que os professores manteriam a decisão do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE/MG) de não retornar e aguardariam a assembleia da categoria, marcada para amanhã.

“Fiquei frustrado. Vai ser mais um dia perdido. Já não aguento mais ficar em casa, de bobeira. No início da greve, ainda pensei que ia ser bom ficar uma semaninha sem aula e descansar, mas já percebi que tanto tempo assim me faz correr o risco de perder o ano”, diz o estudante, sem aulas um mês. Influenciado pela preocupação da mãe, uma enfermeira que cobra empenho e notas boas, ele usou os livros doados pela escola para rever a matéria e fazer exercícios.

“Já fiquei muito tempo em casa para o meu gosto. Não deu para avançar o conteúdo, porque eu não sabia o que ia aprender, mas pelo menos não esqueci as matérias”, disse. “Estou preocupado também porque, quanto mais tempo demorar a greve, pior para as nossas férias. Minha família ia viajar para Aparecida do Norte, num passeio organizado pelo meu avô. Vão 15 pessoas, mas, se tiver aulas aos sábados, vou ter que ficar de fora”.

Em outras escolas, o clima de ansiedade gerado pela decisão judicial de que os professores devem encerrar a greve imediatamente – sob pena de pagamento de multa – não é diferente. Gustavo Alfredo Rodrigues da Silva, de 17 anos, também retirou os livros guardados no armário e separou o uniforme do Instituto de Educação. Aluno do 2º ano de uma turma de Humanas, ele tentou minimizar os prejuízos da greve, criando uma rotina de estudos e pesquisa na internet, de duas a três vezes por semana.

“Faço um curso de usinagem mecânica, então, não deixei de estudar Matemática. Também refiz exercícios de disciplinas que tenho mais dificuldade, como Português e Biologia. Fiz pesquisas para não esquecer os assuntos e até aos sábados eu estudava”, contou. “Ano que vem, faço vestibular e não podia deixar que a greve atrapalhasse mais do que já está me prejudicando”, acrescentou.

Grupo de estudos

Mais de cem dias parado e o aluno do 2° ano Caio Araújo de Pádua, de 16, leu dois livros de ficção “só para não ficar à toa”. Também manteve os cursos extracurriculares de Inglês e Matemática, mas o tempo vazio já o está incomodando. Ele apoia a reivindicação dos docentes por melhores salários, mas, assim como o desembargador Roney Oliveira, também considera a paralisação muito longa.

“Tentamos fazer um grupo de estudos durante a greve, pelo menos para não esquecer o que a gente já tinha aprendido, mas a vice-diretora da minha escola não cedeu o espaço. O jeito foi estudar em casa mesmo e agora vou ter que dobrar o tempo de atenção aos estudos. Entendo que os professores precisam de aumento e até concordo, mas já estamos há muito tempo em casa e isso até estressa o aluno. Estou doido para voltar para a escola e ter contato com outras pessoas, para fazer uma coisa de útil na vida”, desabafou o estudante que pretende ser engenheiro.

Desestimulada, a vestibulanda Bruna Xavier, de 17, já desistiu das provas deste ano. Candidata a uma vaga de jornalismo na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ela voltou à escola no início do mês, para aulas com professores substitutos, mas acha que não tem chances de participar das seleções neste ano. “Até dá para repor as aulas e completar o ano letivo, mas falta muito pouco para o Enem e a gente está muito defasado: não há a menor condição de competir com alunos de escolas públicas que estão estudando direitinho desde o início. É ruim para mim, a greve atrapalhou muito, mas o que vou fazer?”, diz ela, resignada. Bruna pretende terminar o ensino médio e se esforçar, ano que vem, em um cursinho pré-vestibular.

Na assembleia

A Assembleia Legislativa pode apreciar esta semana projeto do governo de Minas com subsídio de R$ 1.122 (o valor incorpora todas as vantagens) e de R$ 1.320 para os profissionais com licenciatura plena, além de do piso de R$ 712,20, para jornada de 24 horas. O modelo foi apresentado ao Sind-UTE/MG, que decidiu manter a greve. Na ocasião, o procurador-geral de Justiça de Minas, Alceu Marques, disse que o valor indicado pelo estado atende à decisão do
STF que estabelece piso nacional para professores da rede pública.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)