Um emaranhado de viadutos e problemasNo retrato do crescimento da capital, dois casos recentes de motociclistas que despencaram das estruturas de cimento em Belo Horizonte chamam a atenção para a falta de manutenção dos viadutos e traçados antiquados das construções mais antigasEspecialistas ainda apontam outras fragilidades, como sinalização deficiente no entroncamento de complexos de viadutos e imprudência dos motoristasO Estado de Minas esteve em cinco construções desse tipo na cidade e verificou suas condiçõesA situação basicamente ainda é a mesma indicada por um estudo realizado pelo Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco/MG) há três anos.
Sob as grandes estruturas viárias da cidade moderna, a falta de manutenção exibe as vigas de aço que sustentam os viadutos, há fissuras, desgaste do concreto, manchas esbranquiçadas e infiltraçõesO resultado é a menor durabilidade das construçõesNão há risco de queda, dizem os especialistas, mas os problemas vão se agravando e, além de causar desconforto aos motoristas, com solavancos e buracos, podem contribuir para os acidentes.
“São questões de negligência ou não conhecimento de aspectos que garantem a durabilidade da construção, como a pingadeira com quina na ponta da estrutura para impedir que a água escorra pelo concreto e danifique as armaduras interioresA adoção de pinturas protetoras, como nos mais novos, também evita que o gás carbônico deteriore o viadutoCom a absorção do concreto, as vigas são atingidas e oxidam, num processo de corrosãoIsso aumenta a pressão da estrutura, que dilata e trinca todo o concretoNão há risco de estabilidade estrutural, mas como quase nenhum órgão cuida da manutenção, os problemas pontuais tendem a piorar e causar desconforto para os motoristas
Sobrevivente de uma queda de 12 metros de altura, no viaduto da Lagoinha, o motociclista Jocelino Vital de Oliveira, de 36 anos, teve alta quarta-feira, depois de 30 dias internadoCom a perna engessada, ele diz que nunca mais passará de moto pelo local“É muito perigoso! Havia trânsito e só sobrou o corredor perto da muretaMeu pneu da frente bateu em um buraco na pista sentido Amazonas e a moto me jogou lá embaixo porque o guarda-corpo é muito baixo”, conta.
Além disso, no Viaduto Sara Kubitschek, que faz a ligação entre a Avenida Antônio Carlos e o Centro de Belo Horizonte pela Rua dos Caetés, em um trecho o guarda-corpo não resistiuA estrutura está tão danificada que faltam pedaços de concreto e o jeito foi colocar um reforço de ferro para simular uma proteção no localEsse é apenas um dos problemas enfrentados principalmente pelos motociclistas no trecho de 500 metros Quem passa por cima convive ainda com uma perigosa curva à esquerda, além dos remendos no asfaltoPor baixo, a degradação do viaduto fica ainda mais visívelA armação está exposta e enferrujada em vários pontos, além da deterioração do concreto por todo o viaduto
Situação pior em viadutos mais velhos
Os viadutos novos são confinados dentro da cidade e, por isso, não têm traçado reto, avalia o doutor em planejamento de transporte s e professor da Fundação Dom Cabral Paulo Resende
“Belo Horizonte e as demais cidades brasileiras que vivem no emaranhado de viadutos precisarão de ações educacionais e sinalização para não transformar essas áreas em locais de risco permanente”, avalia o especialista“Nas novas construções, os motoristas ficam perdidosHá carros vindos de vários lados e se encontrando em cimaSe há uma curva pouco orientada, carros e motos entram juntos e a tendência é de o motociclista se afastar, o que pode gerar um acidente com sua queda do alto”, diz o especialistaSegundo ele, quando a sinalização não é benfeita, a tomada de decisão fica por conta do motorista e motociclista“Nos viadutos mais antigos, como o da Avenida Raja Gabáglia, o desenho foi feito erradoSeria preciso zonas de transição por causa das diferenças de velocidadeNessta pista lateral, o motorista tem condições de adequar sua velocidade”, afirma