Em menos de uma semana, dois crimes passionais envolvendo mineiros no estado de Massachusetts, nos Estados Unidos. Nos dois casos, mulheres teriam sido assassinadas pelos companheiros. De acordo com as investigações, na segunda-feira a jovem Patrícia Fernanda Teixeira Fróes, de 24 anos, natural de Frei Inocêncio, no Vale do Rio Doce, foi morta a facadas por Marcello Almeida, de 41, de quem estava separada há menos de um mês. O crime ocorreu em Marshfield.
Mãe de Patrícia, a servente escolar Roseli Fróes Ferreira, de 46 anos, não consegue esconder a dor e a surpresa pela a morte da filha. A jovem realizava o sonho de ter uma vida melhor no exterior e mensalmente depositava para a mãe, viúva, uma ajuda de custo, também usada para manter o filho do casal, de 5 anos. O marido, também de Frei Inocêncio, é de uma família amiga, mas andava nervoso e ciumento, segundo Roseli, provavelmente pelo uso de drogas. Os dois estavam juntos há seis anos e Patrícia morava com ele nos Estados Unidos há quatro.
"Ela sempre quis morar fora, para nos dar uma vida melhor. Patrícia teve uma infância humilde e desde pequena dizia que ia ser dentista nos Estados Unidos. Ela tinha 18 anos quando tentou a travessia pelo México, mas não conseguiu e voltou para casa. Há quatro anos, obteve o visto e foi atrás de Marcello, que morava lá desde o início da gravidez. Ela deixou o bebê comigo e trabalhava em faxinas durante o dia e numa pizzaria à noite. A vontade dela era de mandar a gente para lá, mas eu morria de medo de avião. Ela era uma filha maravilhosa e não merecia isso. A mãe do Marcello é muito minha amiga e também está sofrendo muito. Só quero justiça", lamenta Roseli.
Ciúmes
Segundo a polícia, Patrícia foi morta com várias facadas. O corpo dela foi encontrado no corredor do prédio onde morava, em Marshfield. Ela estava separada há cerca de um mês, mas os dois moravam no mesmo edifício, em apartamentos diferentes. Vizinhos chamaram a polícia e Marcello se escondeu no prédio. Ele teria tentado suicídio e está internado, sob escolta policial. Roseli diz que a filha era apaixonada pelo marido, embora eles tenham ficado afastados durante toda a gravidez. Segundo ela, Patrícia chegou a sair de casa duas vezes por causa das brigas.
"Ele foi embora e nunca a procurou durante a gravidez, só depois que o menino nasceu. Aí, não parou mais de insistir para que ela mudasse para os Estados Unidos. Eles se tratavam com muito amor, mas em maio percebi que ela estava distante. Falávamos sempre pela internet e um dia a Pati disse que ele a tratava mal, era muito ciumento e que ia se separar. Mas ele não aceitava e ligava para mim implorando para eu convencê-la do contrário. Ela saiu de casa uma vez e voltou 15 dias depois, mas descobriu que ele usava drogas e quis se separar de vez. Marcello passou a ligar sempre nervoso, me ameaçando e ao meu neto. Mas depois pedia desculpas. Nunca imaginei que uma coisa assim poderia ocorrer. É uma tragédia para as duas famílias", desabafou Roseli.
Em Minas, suspeito nega crime
No dia 21, a mineira Edinalva Ferreira da Silva, de 30 anos, de Sobrália, no Vale do Rio Doce, foi encontrada morta por colegas de trabalho preocupados com sua ausência por quase duas semanas. Ela trabalhava como faxineira e era casada há três anos com Paulo Sérgio Vieira, de 31, também de Sobrália. O Itamaraty informa que a causa da morte foi espancamento e traumatismo craniano e que, segundo a polícia local, o principal suspeito é o marido.
"Ele chegou no dia 6 dizendo que minha filha só voltaria no ano que vem, que ele a esperaria aqui. Estava rindo, bebeu e comeu aqui em casa e ainda trouxe o álbum de fotos do casamento. Mas estávamos preocupados porquedesde o início de setembro não conseguíamos falar com ela. Soubemos por familiares, que estão acompanhando as investigações lá, que ele pegou US$ 3 mil do cofre da casa deles e comprou uma passagem para o Brasil. Ele cortou o cabelo e trouxe tudo o que era dele. Foi premeditado, pois ele só deixou para trás o que mais nos importava", desabafa o pai de Edinalva, o taxista Jandir Ferreira da Silva, de 66.
O corpo da faxineira estava em avançado estágio de decomposição. A família conta que Paulo Sérgio chegou a ligar para amigas dela, informando que a mulher estava doente e ficaria em casa até se recuperar. "Ele dizia que gostava dela, que não queria perdê-la. Minha filha dizia que ele era muito ciumento", contou a mãe, dona Emília. "Ela era nossa caçula, juntou cada centavo dos US$ 10.500 para chegar aos Estados Unidos e dizia que ia fazer faculdade quando voltasse para o Brasil. Edinalva estava lá há sete anos e conheceu o Paulo Sérgio, que já morava lá. Agora a gente quer Justiça nem que ela seja feita aqui", diz o pai.
Acusado
Paulo Sérgio deixou os Estados Unidos no dia 5 e garante que a mulher tinha saído de casa para trabalhar. Por telefone, na casa dos pais, em Sobrália, ele diz que voltou porque estava sentindo muitas dores nas costas e nos rins. "Não havia problema nenhum entre a gente. Combinei de esperar por ela aqui e fiquei muito triste de isso acontecer logo depois que saí. A polícia diz que sou suspeito porque só morávamos nós dois e eu era o marido. Mas nem posso voltar para esclarecer nada porque não tenho documentos. Não sei o que houve", afirmou, com voz calma.
Segundo o Itamaraty, a Constituição Federal não permite a extradição de nenhum brasileiro, ainda que ele seja indiciado pelo crime. No entanto, o Código Penal prevê que o acusado seja ser procurado e julgado no Brasil. Nesste caso, a pena pelo crime que cometeu no exterior também é cumprida em território brasileiro.
Operários aguardam julgamento
Está marcado para dezembro na corte de Douglas, nos Estados Unidos, o julgamento do operário Valdeir Gonçalves dos Santos, de 30, natural de Ipaba, no Vale do Rio Doce, que confessou ter participado do assassinato de um casal de catarinense radicado naquele país e o filho deles, de 7 anos, na cidade de Omaha, no estado de Nebraska. A confissão foi um acordo com a promotoria, para escapar do corredor da morte, depois que a mulher dele confirmou à Justiça que ele admitiu ter assassinado o patrão, o empresário Vanderlei Szczepanik, a mulher dele, Jaqueline, ambos de 43 anos, e o filho do casal, Cristopher. Na versão da mulher, Valdeir teria dito que torturou o patrão até a morte, o esquartejou e jogou no rio com os outros corpos. O motivo seria um descontentamento com os salários. Ele acusa outros dois trabalhadores de Ipaba, José Carlos Coutinho, de 37, e Elias Lourenço Batista, de 29. José Carlos também está preso nos Estados Unidos acusado de mandante e poderá até enfrentar o corredor da morte. Elias foi deportado para o Brasil. Os dois negam os crimes.