“Se eu desviar e um dos meus pneus cair na canaleta, a gente tomba”, avisa“Carro pequeno na frente, aqui, eles passam por cima”, completa Vicente, com o olhar sério de quem sabe ser incapaz de domar o tempo todo a composição de 56,6 toneladasA tensão de desastres e tombamentos iminentes nas estradas mineiras foi vivenciada dentro de caminhões pela reportagem do Estado de MinasA experiência, somada a estatísticas que põem as estradas mineiras no topo do ranking de acidentes e mortes no país, ilustra como rodovias do estado ficaram pequenas e inseguras para o volume crescente de cargas.
O transporte pesado por rodovias em Minas só faz crescerO estado é líder no número de autorizações especiais de trânsito (AET) emitidas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) para cargas com mais de 4,4 metros de altura, 2,6 metros de largura ou comprimento superior a 19,8 metrosForam 14.122 emissões de janeiro a junho, 22% das autorizações nacionaisO número é 70% maior que o registrado em 2008 e significa mais carretas de grande porte nas estradas.
Quando essa tendência de escoamento crescente encontra estradas projetadas há 50 anos e adaptadas aos poucos, como as principais BRs mineiras, o resultado é o maior índice de acidentes com veículos de carga do paísNo ano passado, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), 13.887 carretas e caminhões se acidentaram no estado, representando 32% de todos os 43.465 veículos envolvidos em ocorrências nas rodovias mineiras
Instabilidade Com tantos caminhões e carretas em estradas majoritariamente de pistas simples (apenas 7,8% da malha viária do estado são duplicados), o tombamento de veículos se torna problema recorrenteAs rodovias federais que cruzam Minas Gerais são campeãs em ocorrências do tipoEm 2010, 1.246 carretas e caminhões viraram e provocaram 33 mortes, segundo estatísticas da PRFA média é uma morte a cada 38 veículos tombados no estado.
“Esses veículos de carga têm um problema de estabilidade sérioAs carretas se desalinham com facilidade, o que provoca muito mais instabilidade longitudinal do que num veículo de carroceria única”, diz o especialista em dinâmica de máquinas da UFMG Marco Túlio Faria“Nas curvas, esses veículos precisariam de mais espaço para desenvolver as velocidades que alcançam”, afirmaSegundo ele, o problema é agravado pelo fato de a maioria desses veículos rodarem em pistas simples, onde não há espaço para recuperar a estabilidade.
Outro fator que contribui para os acidentes é a carga de trabalho dos caminhoneirosO Sindicato da União Brasileira dos Caminhoneiros calcula que 300 mil caminhões e carretas passam diariamente pelas rodovias mineiras