Com os 15 pneus do lado direito avançando sobre a quina da canaleta da rodovia BR-040, o motor da carreta bitrem de 19,8 metros de comprimento “urra” para puxar carga de 36,6 toneladas de bobinas de aço. Do lado esquerdo da pista de 3,5 metros, o retrovisor passa a palmo e meio de outros caminhões em alta velocidade tão grandes quanto o dele. O espelho já ficou bambo de tanto levar pancadas. Na boleia, o caminhoneiro Vicente Marciano de Paula, de 58 anos, mantém o volante firme quando outro gigante das estradas passa a centímetros.
O transporte pesado por rodovias em Minas só faz crescer. O estado é líder no número de autorizações especiais de trânsito (AET) emitidas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) para cargas com mais de 4,4 metros de altura, 2,6 metros de largura ou comprimento superior a 19,8 metros. Foram 14.122 emissões de janeiro a junho, 22% das autorizações nacionais. O número é 70% maior que o registrado em 2008 e significa mais carretas de grande porte nas estradas.
Quando essa tendência de escoamento crescente encontra estradas projetadas há 50 anos e adaptadas aos poucos, como as principais BRs mineiras, o resultado é o maior índice de acidentes com veículos de carga do país. No ano passado, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), 13.887 carretas e caminhões se acidentaram no estado, representando 32% de todos os 43.465 veículos envolvidos em ocorrências nas rodovias mineiras. Esses acidentes provocaram 346 mortes, 26% do total nas estradas do estado. “Nossa matriz de transportes é essencialmente rodoviária. Como não investimos em ferrovias e hidrovias, cargas que não são adequadas às estradas, como o minério de ferro, precisam de caminhões com mais eixos para compensar o peso”, analisa o chefe do departamento de transportes e geotecnia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Nilson Tadeu Nunes.
Instabilidade Com tantos caminhões e carretas em estradas majoritariamente de pistas simples (apenas 7,8% da malha viária do estado são duplicados), o tombamento de veículos se torna problema recorrente. As rodovias federais que cruzam Minas Gerais são campeãs em ocorrências do tipo. Em 2010, 1.246 carretas e caminhões viraram e provocaram 33 mortes, segundo estatísticas da PRF. A média é uma morte a cada 38 veículos tombados no estado.
“Esses veículos de carga têm um problema de estabilidade sério. As carretas se desalinham com facilidade, o que provoca muito mais instabilidade longitudinal do que num veículo de carroceria única”, diz o especialista em dinâmica de máquinas da UFMG Marco Túlio Faria. “Nas curvas, esses veículos precisariam de mais espaço para desenvolver as velocidades que alcançam”, afirma. Segundo ele, o problema é agravado pelo fato de a maioria desses veículos rodarem em pistas simples, onde não há espaço para recuperar a estabilidade.
Outro fator que contribui para os acidentes é a carga de trabalho dos caminhoneiros. O Sindicato da União Brasileira dos Caminhoneiros calcula que 300 mil caminhões e carretas passam diariamente pelas rodovias mineiras. O presidente da entidade, José Natan Emídio Neto, admite que a maioria dos condutores circula longe das condições ideais. “Por causa do frete barato, os caminhoneiros estão exaustos, se acabando em mais viagens do que aguentam”, diz.