Dos 291 registros, 177 foram caminhões que tombaram e derramaram suas cargas no asfalto, bateram entre si e bloquearam as pistas, atropelaram pessoas ou destruíram carros de passeio e motocicletasO Twitter também indica como os acidentes com caminhões e carretas são mais letaisDas 171 mortes registradas pela PRF no microblog, 93, mais da metade (54%), foram em ocorrências envolvendo veículos de cargaO índice de feridos também é considerável: foram 114 dos 243 registros, o correspondente a 46,9%.
Pelo diário dos patrulheiros mineiros é possível ter uma pequena noção dos transtornos causados por cada carreta ou caminhão que tomba na pista e a bloqueiaEntre março e setembro foram 71 interrupções de pistas devido a acidentes com veículos de cargaEssas ocorrências causaram nada menos do que 328 horas e 20 minutos de retenções e congestionamentosÉ o equivalente a 13 dias e meio de trânsito parado por causa das longas carrocerias atravessadas nas pistas ou de suas cargas no pavimentoLevando-se em conta os 192 dias monitorados, o índice anual chegaria a 25 dias, ou seja, quase um mês de interrupçõesAs cargas que mais vazaram foram o carvão (quatro vezes), cimento e papelão (três vezes), calcário, cerveja, óleo, aço e minério (duas vezes).
Tensão na boleia marca viagens
Quando o acostamento terminou e o caminhoneiro Luiz Henrique Abdala, de 41 anos, precisou voltar à estreita pista da BR-381 antes de trombar sua carreta num barranco, um festival de imprudências começouPrimeiro uma moto e um carro terminaram de cortá-lo na faixa contínua
“As pessoas não têm respeito pela vidaEu estou errado de rodar no acostamento, mas, se fazendo isso os outros motoristas já abusam, imagine se for rodar só dentro da pista única, fazendo uma fila enorme atrás de mim”, disse o condutor, que levaria dois dias de viagem de Contagem a Feira de Santana (BA)A repetição de situações como essa tornou tenso o clima dentro da cabine escura do veículo onde a reportagem do Estado de Minas acompanhava Abdala para conhecer os perigos do trecho entre Belo Horizonte e João Monlevade (Região Central)
Numa carreta de aço tão alta que só é acessível por escadas e tão forte que pode transportar todo esse peso a 120 km/h, a impressão que se tem, comparado o veículo com carros e ônibus, é de que os caminhoneiros são praticamente invulneráveisNa boleia não é bem assimAs respostas do veículo são lentas e precisam ser programadas “Preciso de mais de 200 metros para parar minha carreta se frear de repente, a 50 km/hPreciso ser rápido e acionar a manete do freio da carreta antes, se não corro risco que ela dê um “L” e fique atravessada na pista ou tombe comigo”, explica Vicente Marciano de Paula, de 58 anos, outro carreteiro acompanhado pela reportagem
Minério
No trajeto pela BR-040 o maior risco são os caminhões carregados de minério que entram e saem o tempo todo das estradas de terra que levam a mineradoras locais“Eles são muito perigososGanham por viagem e por isso correm muito”, reclama VicenteAlém de ultrapassagens arriscadas e de espremerem outros veículos contra suas pistas, esses veículos de cargas ainda espalham poeira e minério sobre a estrada, chegando a entupir as valetas.
Na BR-381, os riscos abertos no asfalto pelo tombamento de caminhões lembram Abdala das situações perigosas provocadas pela vida na estrada“Em 2001, um caminhão perdeu o controle e bateu na minha carretaTive alguns cortes, mas o motorista morreu Isso marca a gente”, conta“Outro dia uma bitrem me ultrapassou pelo quebra-molas e bateu de frente num carro, matando o condutor do veículo pequenoQuando lembro disso (bate no retrato da filha no teto da carreta), lembro que um dia preciso parar e me aposentar.” (MP)