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Estado de Minas

Bar no Centro de BH é fechado por causa do barulho

Avião em Queda, na Rua Guajajaras, tem alvará anulado. Sete botecos na região estão impedidos pelo MP de funcionar após 22h sob alegação de que descumprem Lei do Silêncio


11/10/2011 06:00 - atualizado 11/10/2011 07:14

Bar, também conhecido como Balaio de Gato, teve que fechar as portas em 2009, mas foi reaberto e funcionou um ano com liminar
Bar, também conhecido como Balaio de Gato, teve que fechar as portas em 2009, mas foi reaberto e funcionou um ano com liminar (foto: TÚLIO SANTOS/EM/D.A PRESS)
 

Considerado o maior atrativo para a multidão que se reúne na Rua Guajajaras, no Centro de Belo Horizonte, o Bar Avião em Queda teve o alvará de localização e funcionamento anulado pela prefeitura, sendo obrigado a fechar as portas. O boteco foi apontado, em março, como pivô da liminar que obrigou sete bares da rua a encerrar as atividades às 22h, às quintas e sextas-feiras, tamanho o incômodo para moradores. A prefeitura não confirma o motivo da anulação do alvará do bar, sob a justificativa de que o sistema estava fora do ar nessa segunda-feira. O dono do estabelecimento, Cláudio Johsom Talini dos Santos, que soube da decisão pelo Estado de Minas, desconfia que ela esteja relacionada ao barulho.

A anulação do alvará, publicada na edição de sábado do Diário Oficial do Município (DOM), ocorreu poucos dias depois de o Ministério Público (MP) estadual, motivado pela situação da Rua Guajajaras, cobrar da administração municipal pulso firme na aplicação, em bares e restaurantes, de medidas contra a poluição sonora na capital, entre elas a interdição dos estabelecimentos. Neste ano, nove empresas, a maioria botecos, foram fechadas por infringir a Lei do Silêncio, que estabelece limites para a emissão de ruídos. As interdições foram resultado de 2.273 ações fiscais em 2011, em que foram autuados 347 estabelecimentos e multados 163.

A gerente de monitoramento da Secretaria Municipal Adjunta de Fiscalização, Raquel Guimarães, explica que a discrepância entre as diligências, autuações e multas é explicado pelo fato de nem sempre o fiscal encontrar irregularidade. “O profissional só vai notificar quando medir ruídos acima do permitido. Além disso, um estabelecimento é interditado quando há reincidência em uma determinada infração”, afirma, sem detalhar os motivos da anulação do alvará do bar Avião em Queda.

Ela lembra que com o projeto de integrar cinco áreas de fiscalização da prefeitura, entre elas a de controle ambiental, em tramitação na Câmara Municipal, a ideia é “otimizar os recursos humanos”. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA), que cuida da aplicação da Lei do Silêncio e foi responsável pela abertura do processo contra o Avião em Queda, informou que, como o sistema estava fora do ar nessa segunda-feira, não seria possível informar as razões para a decisão.

Não é a primeira vez que o estabelecimento, que oferece cardápio com preços convidativos – cerveja a R$ 2, caipirinha a R$ 3 –, tem problemas com o alvará. Em 2009, o documento foi cassado pela prefeitura e, por um ano, o bar funcionou por força de liminar. Apesar de o estabelecimento ter multas por uso irregular de mesas e cadeiras nas calçadas, o dono acredita que a reclamação em relação ao barulho tenha sido o motivo da anulação. “Já tive que fechar outros bares por causa disso, mas vou recorrer”, conta Talini, que nessa segunda-feira já não abriu as portas por orientação do advogado. Apesar das restrições de horário, ele assume que os frequentadores ainda se aglomeram até a metade do asfalto da rua. “Depois das 22h vai todo mundo embora.”

Alívio
Independentemente do motivo do fechamento, a medida trouxe alívio para moradores da Rua Guajajaras e a esperança, entre donos dos outros bares, para que o Ministério Público reveja a posição da restrição de horário para estabelecimentos da rua. Ainda vigente, a decisão levou em conta problemas como som alto, drogas e sexo explícito, denunciados pelo MP estadual. “Quem trouxe uma multidão para cá foi o Avião em Queda, que vendia cerveja a R$ 2 e churrasquinho a R$ 2. Nossos clientes passaram a não vir mais aqui. Nossa única esperança é que, agora, o MP nos chame para fazer um outro acordo”, afirma o dono de um dos bares da Guajajaras José Eustáquio de Jesus.

Para o estudante André Batista, de 23 anos, morador de prédio em frente ao bar, a restrição do horário dos bares deu sossego à vizinhança, mas, com o fechamento do Avião em Queda, cujo nome fantasia é Balaio de Gato, a tendência é só melhorar. “A confusão começou há três anos com a abertura do Balaio de Gato. Era impossível querer estudar em casa à noite. Ficávamos com vergonha de trazer visitas em casa, pois não sabíamos o que iríamos encontrar na porta de casa”, afirma.

Segundo o promotor de Justiça de Defesa do Meio Ambiente, Habitação e Urbanismo Cristovam Joaquim Fernandes Ramos Filho, nova medida em relação à Rua Guajajaras só será adotada se apurado que o bar fechado é o único responsável pelo tumulto. “Vamos acompanhar, mas já sabemos de outros bares que têm vendido cerveja em lata, no balde, o que leva à concentração de pessoas nas calçadas”, afirma.


Associação pede lei mais branda

A Câmara Municipal de Belo Horizonte organiza seminário para discutir a Lei do Silêncio, mesas e cadeiras nas calçadas e outros problemas envolvendo bares e restaurantes em BH. O evento partiu de reivindicação da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel-MG), empenhada em, principalmente, mudar a legislação de controle de ruídos, extremamente restritiva na avaliação de empresários do ramo. Nessa segunda-feira, em reunião com oito vereadores, representantes da entidade entregaram abaixo-assinado com 5 mil assinaturas recolhidas entre quinta-feira e domingo contra a aplicação rígida da legislação que impõe limite de 45 decibéis a emissão de ruídos na madrugada.

O vereador Léo Burguês (PSDB), presidente da Câmara, já informou que apresentará projeto prevendo mudanças na Lei do Silêncio (nº9.505/2008). “Vamos propor que o fiscal desconsidere o valor do ruído de fundo (barulho natural da rua) durante a medição. Muitas vezes o problema é o trânsito e a prefeitura culpa o bar”, afirma o parlamentar, informando que o seminário ocorrerá na primeira semana de novembro. O projeto de lei é resultado das reivindicações dos empresários.

A Abrasel informa que, além de se posicionar em relação às leis que recaem sobre o setor, também apresentou na reunião a campanha educativa Boa Noite Lourdes, com foco no bairro da Região Centro-Sul. De forma bem-humorada, em placas e bolachas de chope, a campanha mostra como se comportar no bar sem incomodar os vizinhos. A campanha conta com a parceria da Associação dos Moradores do Bairro de Lourdes (Amalou).


PALAVRA DE ESPECIALISTA

Os erros da legislação

“A lei municipal de controle de ruídos deveria seguir a lei federal. A legislação de BH tirou os parâmetros relacionados ao zoneamento e tratou todo mundo de uma forma só. O primeiro erro foi estabelecer o limite de 70 decibéis (dB) para o período das 7h às 19h na cidade inteira, barulho correspondente à área industrial. Se na rua o ruído é de 70 dB, a estimativa é que, em casa, as pessoas tenham que conviver com ruído de 80, 85dB. Para quem escuta, a impressão, com o aumento de 10dB, é que o som ficou duas vezes mais forte. De imediato, isso traz problemas de comunicação e irritação aos cidadãos. Há uma perda em qualidade de vida.”
 


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