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Estado de Minas

Cidades vizinhas a Ouro Branco querem barreira contra meningite

Enquanto 400 trabalhadores pedem demissão em Ouro Branco por medo da doença, que matou um e levou 19 para o hospital, autoridades estudam adotar triagem de operários, que chegam especialmente do Nordeste. cidade já havia registrado dois óbitos em agosto


postado em 19/10/2011 07:04 / atualizado em 19/10/2011 07:10

Valéria da Conceição e a neta, Ana Luiza, usam máscara ao procurar pela vacina, que já tem fila de espera (foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press. )
Valéria da Conceição e a neta, Ana Luiza, usam máscara ao procurar pela vacina, que já tem fila de espera (foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press. )

Preocupada com o surto de meningite C, o tipo mais grave da doença, que nos últimos dias matou pelo menos uma pessoa, fez 19 serem internadas e provocou 400 pedidos de demissão entre trabalhadores da cidade de Ouro Branco, na Região Central de Minas Gerais, a Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Barbacena estuda estabelecer uma espécie de cordão sanitário para evitar que operários recrutados em outros estados, que chegam em condições muitas vezes precárias, sejam agentes de disseminação de doenças infectocontagiosas. O secretário de Saúde de Ouro Branco, Hideraldo Belini Soares de Mello, cuja cidade é uma das 30 que integram a regional, informa que vem sendo estudada a instalação de um serviço que possa checar as condições de saúde de quem chega para trabalhar nas cidades da região.

Embora o diretor de Vigilância Epidemiológica estadual, Marcelo Mascarenhas, admita o surto, o secretário Hideraldo prefere se referir à situação do município – onde duas pessoas já haviam morrido em agosto – como um "estado de atenção". “Estamos (os membros da SRS) em reunião desde sábado por causa do contágio entre os trabalhadores que prestam serviço à empresa Gerdau. Uma das propostas é a criação de centro de referência do trabalhador, para receber a mão de obra que vem de fora. Assim, nos certificaremos de que as empresas tragam pessoas vacinadas e examinadas”, afirma.

O secretário avalia que o grande crescimento econômico que municípios da região experimentam é motivo de preocupação, diante da necessidade de obras de ampliação de empresas e indústrias. “Estamos preocupados. Jeceaba está preocupada, Barbacena está preocupada. Todos recebemos trabalhadores de cidades do Nordeste, que chegam aqui em condições propícias à proliferação de doenças transmissíveis pelo ar, por ficarem confinados”, diz Hideraldo. A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais é contra a medida, por considerar o episódio eventual, e não algo próprio dos estados do Nordeste.

O surto da doença na cidade começou na sexta-feira, quando trabalhadores de um dos complexos de alojamentos da empresa Gerdau em Ouro Branco adoeceram. Os homens são contratados pela prestadora de serviços Paranasa e trabalhavam como carpinteiros, armadores e serventes, na expansão da Gerdau. Segundo a Paranasa, são 1.200 em dois alojamentos, dos quais 600 vieram do Rio Grande do Norte (São Vicente, Currais Novos e Açu), Bahia (Paulo Afonso e Sobradinho), Sergipe (Maroim e Poço Redondo), além de cidades como Petrolina (PE) e Teresina (PI). A Paranasa informou ainda que 400 pediram demissão e terão suas rescisões processadas, sendo levados de volta para casa assim que o período de quarentena nos alojamentos terminar, em seis dias.

Desde que os primeiros casos foram diagnosticados, todos os 1.200 funcionários foram medicados com antibióticos. Os que tiveram exposição prolongada com os doentes receberam medicamentos mais fortes. Outros, que trabalhavam na lavanderia e na limpeza das moradias, receberam apenas remédios mais fracos. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, depois de um período de 24 a 48 horas as pessoas medicadas não mais transmitem a doença.

Ontem, a Vigilância Sanitária de Ouro Branco fez vistoria nos alojamentos e informou não ter encontrado sinal de falta de higiene que pudesse contribuir para a proliferação da doença. Em cada quarto dormem até quatro pessoas. “Fizemos as investigações dos casos e identificamos um trabalhador nordestino que seria quem trouxe a doença”, declarou o secretário Hideraldo Mello, sem dizer quem seria e de onde veio a pessoa. A reportagem do Estado de Minas não teve acesso às moradias.

HOSPITALIZADOS

Desde que a crise começou, os doentes foram distribuídos em dois hospitais, sendo que três foram para a Policlínica Municipal de Ouro Branco e 16 para a Fundação Ouro Branco, mantida pela Gerdau. Foram reportados 12 casos na sexta-feira, cinco no sábado, dois no domingo e dois anteontem. Ontem, nenhuma outra pessoa apresentou sintomas. Dos 19 internados, um teve a doença confirmada, o segundo, além do operário que morreu. Nove aguardam os resultados de exames da Fundação Ezequiel Dias e nove já tiveram a doença descartada. “A doença age muito rápido. O rapaz que morreu na sexta-feira faleceu em duas horas e meias”, conta o secretário de Saúde de Ouro Branco, ao afirmar que outras duas mortes ocorridas na cidade em agosto não têm relação com o surto na Gerdau.

Medo na Bahia

Na Bahia, um surto de meningite C, o mesmo tipo que ocorre em Ouro Branco, foi registrado em setembro, matando três pessoas e deixando sete hospitalizadas, de acordo com a Secretaria de Saúde do estado. As manifestações da doença ocorreram no complexo hoteleiro da Costa do Sauípe, no litoral norte. Morreram uma mulher de 54 anos e dois homens, de 20 e 23. Como medida preventiva, assim como em Ouro Branco, cerca de 1.800 pessoas que estiveram na área no período receberam medicação para bloquear o surgimento de novos casos. Ainda assim, a população local, amedrontada com a possibilidade de contágio, fechou ruas e rodovias para protestar, exigindo vacinação.


Temor esgota doses de vacina

De máscaras brancas sobre o nariz e boca, a técnica em higiene dental Valéria da Conceição Machado Silva, de 49 anos, e a neta, Ana Luiza Machado Silva Santos, de 10, já rodaram as clínicas de Ouro Branco e da vizinha Conselheiro Lafaiete atrás de vacinas contra a meningite tipo C. Assim como elas, muitas pessoas procuraram o medicamento assim que souberam do surto, acabando com os estoques nessas cidades. Como o Sistema Único de Sáude (SUS) só indica a vacinação para crianças de até 2 anos, a população está pagando R$ 150 por dose.

“Queria me sentir protegido. Primeiro, morreram duas pessoas (em agosto). Disseram que não tinha nada. Agora morre mais uma e tem um tanto de doentes. As vacinas acabaram ontem (segunda-feira) e quem faz reserva só vai receber na segunda-feira que vem”, conta Valéria. A neta dela conta que na escola todos já foram vacinados, por isso não usam mais máscaras. “A gente fica com medo principalmente pelos idosos e pelas crianças, que são mais frágeis. O ideal era não sair nem na rua, mas a gente tem de trabalhar e as crianças de estudar”, disse a técnica.

A ânsia por imunização não seria eficaz, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde. “A doença está controlada em Ouro Branco. A vacina leva de 10 a 15 dias para fazer efeito, enquanto os remédios que foram dados às pessoas expostas agem rapidamente, fazendo com que parem de transmitir a doença dentro de até dois dias”, afirma o diretor de Vigilância Epidemiológica da secretaria, Marcelo Mascarenhas. De janeiro a outubro foram notificados 792 casos de meningite no estado. Destes, 117 foram fatais, segundo dados da secretaria.

Ainda assim, pela cidade, as pessoas se mostram desconfiadas, lendo panfletos com explicações sobre a doença e sua prevenção. Algumas estão até arredias diante de forasteiros, principalmente porque a Secretaria Municipal de Saúde de Ouro Branco confirma haver trabalhadores do alojamento que estavam fora quando os doentes foram tratados e que não voltaram, por medo do contágio. “Esses indivíduos receberão a medicação assim que voltarem. Como já se passaram cinco dias e ninguém fora desse ambiente apresentou sintomas, não acredito que estejam com a doença”, pondera o secretário municipal de Saúde, Hideraldo Mello.

Secretário afasta risco de epidemia

Durante encontro com representantes da Gerdau Açominas, o secretário de Estado da Saúde, Antônio Jorge de Souza Marques, informou que o governo de Minas acompanha a evolução dos casos de meningite em Ouro Branco e está tomando todas as medidas necessárias para conter a doença, orientando o município e técnicos, além de fazer investigação epidemiológica e indicar antibióticos para quem teve contato com doentes ou suspeitos. Ele ressaltou que não há risco de epidemia.

A secretaria alerta que as pessoas não devem se automedicar, mas precisam procurar assistência médica caso surjam sintomas como febre alta, dor de cabeça forte, mal-estar, extremidades frias e prostração podendo ocorrer convulsões e rigidez da nuca. Nos bebês, principalmente nos menores de 9 meses, as manifestações são inespecíficas: febre, prostração, irritabilidade, choro excessivo, vômitos, recusa em se alimentar, abaulamento das moleiras e convulsões.


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