A 964 dias da Copa’2014, quando será intenso o tráfego de estrangeiros pelo país e pelo estado, Minas vê ressurgir o temor diante de doenças que causam sofrimento, mortes e que, apesar dos esforços e avanços, não foram erradicadas do mapa da saúde. Embora muito longe das epidemias ocorridas nas décadas de 1970 e 1980, que provocaram milhares de óbitos, três delas – catapora, meningite e sarampo – mobilizam diferentes municípios e exigem união de esforços, vigilância epidemiológica e rapidez no atendimento para garantir a tranquilidade da população e dos estrangeiros que vierem assistir aos jogos. Este será um momento em que o país também estará vulnerável a importar males. O sarampo, por exemplo, não é registrado entre mineiros há uma década, mas ainda é comum na Europa.
Para enfrentar esse vírus, a população conta com doses no sistema público de atendimento. No caso da meningite C, que matou uma pessoa em Ouro Branco e mantém 18 pacientes sob suspeita no hospital, a Secretaria de Estado da Saúde decidiu deflagrar campanha de vacinação na cidade, restrita a pessoas entre 4 e 30 anos e operários que dividem alojamentos. Já no caso da catapora ou varicela, que assusta a população de Formiga, no Centro-Oeste, onde duas crianças infectadas morreram, a vacina não está disponível no calendário do Sistema Único de Saúde, apenas em clínicas. Os pais são obrigados a desembolsar R$ 280 pelas duas doses necessárias para a imunização. Autoridades sanitárias não descartam vacinação emergencial na cidade, mas se ocorrer ela será restrita a locais como escolas ou creches que sejam consideradas vulneráveis. A imunização não deve ser feita em casos suspeitos, pois, se a pessoa já estiver infectada, pode haver complicações.
Mais um caso em Congonhas
Congonhas e Ouro Branco – Um novo caso de meningite C foi confirmado ontem em Congonhas, na Região Central de Minas. Desta vez, o resultado positivo para a doença foi de um menino de 7 anos, que deu entrada no sábado na policlínica da cidade, foi encaminhado para o Hospital Bom Jesus, onde foi medicado e depois transferido para o Centro Geral de Pediatria (CGP), em Belo Horizonte. A criança mora na zona rural do povoado de Barnabé, na zona rural de Ouro Branco, no limite com Congonhas. É o segundo caso da doença registrado na cidade nesta semana. Anteontem, a adolescente I.C.M., de 17 anos, também teve a doença confirmada e permanece internada no Hospital Eduardo de Menezes, na capital, com quadro de saúde estável. Ontem, três pessoas foram ao Hospital Bom Jesus, no Centro de Congonhas, com sintomas parecidos com os da meningite e chegaram a ficar na área de isolamento de 10 leitos implantada em caráter emergencial na terça-feira, mas foram liberadas por descarte da suspeita.
Em ambos os casos confirmados em Congonhas, os pacientes deram entrada nas unidades de saúde com febre e dor de cabeça forte. A criança de 7 anos chegou no estágio inicial do ciclo, mas de acordo com o diretor clínico do Hospital Bom Jesus, o cirurgião-geral Adéblio José da Cunha, a jovem de 17 anos apresentava um quadro avançado da doença. Entre os familiares da adolescente, a suspeita é de que ela tenha pego a doença durante festa realizada em Ouro Branco no último fim de semana. “Eu fui em três dias de festa e ela foi em dois, na sexta e no sábado. Na segunda, começou a ter dor de cabeça, que na terça ficou ainda pior”, conta o irmão da jovem, o operador de máquinas Leomagno do Carmo Milioni, de 24 anos. Segundo o rapaz, toda a família, que inclui ele, o irmão e os pais, receberam antibióticos. A mãe da jovem, Maria Izabel Milioni, soube ontem em Belo Horizonte que a filha passa bem e tem previsão de deixar a unidade de atendimento na próxima semana.
PREVENÇÃO
Apesar de os dois casos, o secretário de Saúde de Congonhas, José de Freitas Cordeiro, afirma que a situação na cidade já está mais tranquila. “Todas as medidas de profilaxia foram adotadas com as pessoas que tiveram contato com os infectados e estes foram devidamente medicados e transferidos para BH. Os casos estão controlados, mas vamos permanecer alertas pelos próximos 10 dias, período que compreende à fase de incubação da bactéria da meningite”, afirma Cordeiro. Com os dois casos dessa semana, Congonhas soma três registros de meningite desde janeiro.
Mas nas ruas da cidade, o medo de contrair a doença é alto entre a população. “Só se fala disso na escola. A supervisora deu orientações a todos os alunos e pediu para reforçar a higiene pessoal, lavando mais as mãos”, contou a estudante Gláucia Ferraz, de 15, aluna do Colégio Nossa Senhora da Piedade, no Centro de Congonhas. A colega dela, a adolescente Júnia Magalhães disse que o receio é que a doença afete outras pessoas, assim como ocorreu com a gripe suína em 2009.
Casos de catapora diminuem
Depois da morte de duas crianças com catapora, Formiga, no Centro-Oeste do estado, registrou aumento da procura por vacina. Cerca de 200 pessoas são imunizadas por dia no município. Esta semana, apenas uma criança de 5 anos precisou ser internada devido a complicações da doença e o estado de saúde dela não é considerado grave. O surto da doença deixou a cidade em alerta por mais de duas semanas. Em menos de um mês, mais de 300 pessoas foram infectadas, número bem superior ao do ano passado, quando 47 casos e uma morte foram notificados. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, nos últimos dias houve diminuição de quase 40% nos atendimentos a pacientes com sintomas. Profissionais da saúde acreditam que o aumento na procura pela vacina é um dos fatores que contribuíram para a redução.
Desde o começo do surto, há cerca de 20 dias, a prefeitura e a Santa Casa iniciaram trabalho de conscientização da população. O alerta foi intensificado depois do dia 8, quando uma menina de 3 anos morreu com a doença. Dois dias depois, a vítima foi um menino de 2 anos. Cartazes foram espalhados nas unidades de saúde da cidade alertando os pais para os primeiros sintomas, como surgimento de pequenas lesões no tronco. Além disso, as instituições de ensino foram orientadas a não receber alunos com os sintomas.
Anvisa deve rastrear o voo que trouxe francês
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vai monitorar todos os passageiros que estiveram no mesmo voo do francês B.M.P., de 34 anos, diagnosticado com sarampo no dia 18 na capital mineira, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES). O francês saiu de Madri e desembarcou no Rio de Janeiro em 12 de outubro. Antes de chegar a Belo Horizonte para um casamento de familiares da mulher, passou por Teresópolis (RJ). Ele foi internado na segunda-feira no Hospital Eduardo de Menezes, na Região do Barreiro, e os exames clínicos da Fundação Ezequiel Dias (Funed) confirmaram o contágio. Ontem, depois de ficar quatro dias isolado, ele foi liberado e passa bem.
O europeu é casado com a mineira Maria Elizete Domingos de Moura Pitard, de 38, há seis anos. Os dois se conheceram na França depois que a cabeleireira foi à Europa trabalhar. O casal aproveitou o casamento da sobrinha de Elizete para vir ao Brasil e apresentar a filha dos dois à família da mineira. Primeiro eles pegaram um voo de Paris para Madri no dia 11 e no dia seguinte voaram para o Rio de Janeiro. De acordo com Elizete, o marido já chegou ao Rio passando mal. “O ar-condicionado do avião estava péssimo e várias pessoas viajaram sem camisa. O calor estava insuportável”, conta a cabeleireira.
Ao chegar ao Brasil, os dois foram para Teresópolis, na Região Serrana do Rio, onde se encontraram com a irmã de Elizete, moradora da cidade. Na sexta-feira, a família partiu em dois carros rumo à capital mineira, para o casamento. Bruno foi em um carro com o sobrinho, e a esposa foi com a irmã e mais três pessoas em outro veículo. No dia do casamento, o francês não estava muito bem, mas participou da festa normalmente. Somente no dia seguinte é que ele precisou de atendimento médico. “Eu estava tossindo bastante e muito cansado, mas como já havia sentido a mesma coisa quando voltei da África, em outra ocasião, achei que não seria nada”, conta B.M.P..
Ele foi levado por um amigo ao centro de saúde do Bairro Campo Alegre, na Região Norte, e depois à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Venda Nova. Na segunda-feira, ele foi transferido para o hospital. “Agora já estou bem, não sinto mais nenhum problema. Espero voltar em breve ao Brasil”, afirma o visitante que volta à França no dia 29.
Imunização De acordo com os familiares, a maioria dos convidados do casamento foi avisada da vacinação e muitos já se imunizaram. Os parentes ainda informaram que todos aqueles que tiveram contato com o francês em outros ambientes já foram até os postos de saúde receber a vacina contra o sarampo. A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES) informou que não há nenhum caso além do francês confirmado da doença em Minas. A última notificação isolada em território mineiro foi em 1999.
VACINAS
SARAMPO: A vacina contra sarampo, rubéola e caxumba (triviral) está disponível em todos os centros de saúde de Belo Horizonte para as crianças a partir de um ano de vida. Uma dose de reforço deve ser aplicada entre 4 e 6 anos. Também crianças maiores, adolescentes e adultos não vacinados devem receber a vacina. Na dúvida quanto à situação vacinal, deve-se procurar um centro de saúde para orientações levando o cartão de vacina.
CATAPORA: A vacina para catapora não está incluída no calendário do Programa Nacional de Imunizações. A varicela é doença de notificação compulsória em Minas e a Secretaria Municipal de Saúde monitora o número de casos e dados quanto a surtos da doença, especialmente em escolas e creches no município. O grande desafio para controle do número de casos é a própria característica do vírus, muito contagioso, exigindo contato de apenas uma hora com paciente doente para que indivíduo suscetível seja acometido pelo quadro.
MENINGITE: Atualmente são ofertadas na rede pública de saúde quatro tipos de vacina contra meningite: vacina tetravalente, contra meningite e outras doenças causadas pelo Haemophilus influenzae tipo b; a BCG, que protege contra a meningite tuberculosa, a vacina contra meningite meningocócica tipo C e a pneumo 10. As vacinas contra meningite meningocócica tipo C e a pneumo 10 foram incluídas recentemente no calendário de vacinação e atendem crianças menores de 2 anos. As vacinas contra meningite estão disponíveis nos 147 centros de saúde da capital e são aplicadas de acordo com o protocolo do Ministério da Saúde.