Jornal Estado de Minas

É mais caro 'financiar' sepultamento por meio do Dpvat que no cheque ou cartão de crédito

Mateus Parreiras Valquiria Lopes
Representante de funerária perto do IML: "Não faria pelo seguro" - Foto: Beto Novaes/EM DA Press
Encostando com uma cadeira no portão de entrada do Instituto Médico Legal (IML), Horácio (nome fictício) recebe as pessoas que querem entrar no estabelecimento como se fosse o porteiro das instalaçõesNa verdade, seu interesse é outroHorácio busca pessoas ainda abaladas emocionalmente com a perda de seus parentes para vender-lhes velórios e enterrosTrabalha para uma das sete empresas do ramo funerário que orbitam o IMLEntre seus serviços está também a liberação do seguro de danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre (Dpvat)Mas as negociações não se dão ali no portãoEle leva os interessados até o seu estabelecimento, a dois quarteirões de distância.

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A Rua Cecildes Moreira de Faria, bem atrás do terreno do IML, no Bairro Nova Gameleira, Região Oeste de Belo Horizonte, concentra vários portões, rampas de garagem e entradas onde funcionam estabelecimentos funeráriosPara olhos destreinados, a confusão de coroas de flores, arranjos coloridos, carros fúnebres e imagens de santos atrapalha distinguir onde começam e terminam as empresasHorácio leva até uma delas, atrás de portas de vidro escuro.

No escritório, entre fileiras de caixões empilhados e mostruários com vestidos e ternos para os mortos, dois homens negociam os serviços“Temos um serviço padrão, a partir de R$ 850, com caixão, preparação do corpo, flores, coroa, tudo direitinho”Ao serem informados de que o serviço requerido precisaria da liberação do Dpvat, isso os interessou mais
“Vocês terão direito a tudo que escolherem para o funeral e isso fica por conta de uma empresa financeira que é nossa parceiraDepois descontamos os custos do DpvatNossa taxa de liberação é de 20% do seguro, que dá R$ 2.700”, afirma.

Conselhos Na saída do serviço funerário, Horácio se oferece para descer com os clientes de volta ao IMLNo caminho, acaba dando conselhos diferentes dos seus patrões“Gosto de vender meu serviçoMas, se fosse para eu fazer pelo seguro, não faziaArrumava um cheque ou um cartão de crédito”O conselho surpreendente tem um motivo que as empresas e escritórios de advocacia não deixam claro“Acho que pedem muito dinheiroO processo é lento e é um negócio que de repente a casa cai
Se puxar lá e (a vítima) tiver um filho que você não sabe ou morou um tempo com uma mulher, pronto, entra pepino no meioJá entra problemaEles podem requerer a indenização e aí, como é que você vai pagar aquilo que já gastou?”, pondera.

Em meio à conversa, Horácio revela que a empresa para a qual trabalha tem sua sede no Rio de Janeiro, mas atua também em Brasília, São Paulo e Goiás“A gente só muda de nomeFazemos uma média de 10 pedidos de liberação de Dpvat por dia na Grande BH”Ao retornar de volta a seu banco confortável, encostado no portão do instituto, o homem revela por que os outros agentes de funerárias não estão lá com ele“Dia de quinta-feira eles rodam no rabecãoDentro do rabecão roda agente funerárioOs detetives ganham para conseguir clientes nas funerárias, em vez de entregar no IMLA polícia apresenta eles como se fossem do serviço de assistência socialO pessoal (vítimas) está de cabeça ruim com a morteAí eles falam para confiarComo você não confia?”, questiona.

SAIBA MAIS
Três anos para pedir benefício
O Seguro Dpvat indeniza vítimas de danos causados por veículos automotores em vias terrestres e seus recursos vêm de um fundo mantido pelo pagamento anual dos motoristas do seu imposto específicoO prazo para dar entrada no pedido é de três anos, contados da data em que ocorreu o acidente, e pode ser feito em agências cadastradasÉ necessário reunir o registro da ocorrência, certidão de óbito ou auto de necropsia do IML, carteira de identidade e CPF da vítimaNo caso do beneficiário, os documentos podem variar de acordo com a relação de parentesco e o tipo de acidenteMais informações no site www.dpvatseguro.com.br.

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