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Estado de Minas

MP e polícia "ignoram" assédio de funerária a parentes de mortos

Funcionários de funerárias aproveitam a desinformação e a dor de parentes de mortos para oferecer serviços, mas assédio não é investigado pela polícia ou Ministério Público


postado em 01/11/2011 06:00 / atualizado em 01/11/2011 06:59

“São verdadeiros urubus. Não respeitam nossa dor e o momento de tristeza que estamos passando”. Foi assim que a agente comunitária de saúde Elisângela Taffner, de 32 anos, definiu o assédio de representantes de funerárias num hospital de Venda Nova, onde o primo morreu no domingo. Depois do anúncio da morte, funcionários da empresa que tem uma sala ao lado do necrotério da unidade hospitalar abordaram a moça oferecendo o serviço. “Ela estava todo empolgada, falante. Quando dissemos que meu primo tinha um plano funerário, ela ‘murchou’ e perdeu o interesse na gente. Queria saber como descobrem que somos familiares de uma pessoa que faleceu”, afirmou Elisângela ao lado do caixão do primo, enterrado na tarde de ontem no Cemitério da Paz, na Região Noroeste da capital.

Situações como essa são frequentes, conforme o Estado de Minas vem denunciando desde domingo, como o assédio das funerárias em hospitais e até sobre agentes da Polícia Civil que dirigem os rabecões e levam os corpos para as empresas, e não para o Instituto Médico-Legal (IML).

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Contudo, pouco pode mudar, já que a Polícia Civil informou que a corregedoria da corporação aguarda denúncias formalizadas para investigar, mesmo havendo apenas quatro rabecões em BH e outros quatro para atender a região metropolitana. O Ministério Público Estadual informou que não há qualquer investigação em curso sobre funerárias.

O presidente do sindicato das empresas funerárias de Minas Gerais, José Afonso do Real, admite que os esquemas existem, mas diz que a entidade é contra. “O setor das funerárias é honesto, mas acaba malvisto por causa da função e das atitudes de maus profissionais, como ocorre em toda profissão”, disse. “Estamos tentando informar as pessoas para que cobrem seus direitos. Assim, essas funerárias que têm essa atitude errada vão mudando de postura com o tempo. Não é fácil mudar ‘indústrias’ de 40 anos do dia para a noite”, admite.

Código de Ética

De acordo com o presidente do sindicato, uma das formas de tentar acabar com a “indústria” que lucra com a dor alheia subornando funcionários públicos e conseguindo vantagens indevidas ´é por meio de um código de ética, que está sendo preparado. “Na sexta-feira vamos nos reunir e começar a planejar esse código de condutas para disciplinar a profissão. Quem não seguir pode ser desfiliado e investigado pelo Ministério Público”, disse.

Enquanto isso, pessoas como a agente comunitária de saúde Elisangela Taffner continuam fustigadam nos momentos mais difíceis. Segundo Elisângela, essa não foi a primeira vez em foi vítima da abordagem indesejada de agentes funerários.

Ela conta que, há quatro anos, quando o pai dela morreu, chegou a ser puxada pelo braço na porta do hospital, no Bairro São Cristovão, na Região Noroeste. “Era uma legião de funcionários de funerárias. Alguns já falam com a gente dentro do hospital, na sala da assistente social. Eles se apresentam, inclusive, vestidos com uniformes do hospital”, comenta. “São muito frios. Só pensam em dinheiro, não se preocupam com o que estamos sentindo. Acham que o dinheiro é mais importante do que qualquer coisa”, afirma.

A irmã dela, a educadora infantil Sheila Lopes, de 30 anos, também reclama do tratamento e diz que o assédio fez com que optassem por um serviço funerário mais caro na ocasião da morte do pai. “Como estávamos fragilizadas, nem mesmo pensamos na possibilidade de procurar um funeral mais barato. Pagamos cerca de R$ 2,5 mil na época, enquanto tem velório que sai até por R$ 1,2 mil. Falaram que poderíamos dividir no cartão de crédito e fizeram várias promessas de que o serviço seria de melhor qualidade”, conta a moça.


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