A vendedora Daniela Aparecida conta com a ajuda da irmã para se equilibrar dentro do vagão lotado - Foto: Paulo Filgueiras/EM.D.A/Press
Não fosse a ajuda diária da irmã para segurar a sua bolsa, a vendedora Daniela Aparecida dos Santos Vieira, de 27 anos, não teria como apoiar as duas mãos nos anteparos do metrô de Belo HorizonteSua baixa estatura a faz sumir numa multidão que viaja compacta sobre os trilhos, dando passinhos para frente e para trás na tentativa de se equilibrar no embalo do trem“Ônibus demora demaisResta aguentar o aperto para ir e voltar do trabalho (no Bairro Santa Efigênia, Região Leste) para casa (no Eldorado, em Contagem)”, dizO caso dela, segundo especialistas, é o mesmo de todos os que usam a única linha de metrô da capital: para evitar uma caminhada de 30 minutos e duas viagens que somariam mais uma hora em dois ônibus, Daniela encara uma hora dentro do metrô.
São 20 dias perdidos enlatada dentro dos trens, se forem somadas todas as horas de idas e voltas em dias úteis de um anoIsso, espremida numa multidão que chegou, em abril deste ano, a 1.317 passageiros no horário de pico dentro das composições com quatro carrosO índice supera em 287 pessoas a lotação máxima, de 1.030É como se quatro ônibus lotados (com 70 pessoas cada) despejassem seus passageiros no trem, já completamente tomado“A gente sofre todos os diasO resultado é que todos ficam irritadosJá vi gente xingando e gritando umas com as outras, quase brigando”, conta.
O clima tenso e claustrofóbico de quem se aperta entre a multidão do corredor lotado do metrô é vivido principalmente nos horários de pico, das 6h30 às 8h e das 17h30 às 20h
São as mesmas histórias de agonia e desgaste dos usuários de ônibus, dependurados no interior dos veículos que mais transportam passageiros na capital (87%)Faltam condições de acesso e de conforto nas estações e pontos, o que tornam uma sina o transporte público antes mesmo que se consiga embarcarSituações diárias enfrentadas por trabalhadores e estudantes e que o Estado de Minas mostra, a partir de hoje, numa série de reportagens.
Aperto na hora de embarcar. Empurra-empurra é solução para conseguir um lugar nos trens cheios - Foto: Paulo Filgueiras/EM.D.A/PressA história da vendedora de Contagem, Daniela Aparecida, se repete com o técnico industrial Antônio Mauro Silva de Souza, de 54, morador de Betim, também na Região Metropolitana de Belo HorizonteSó que, além de perder 80 minutos diários indo e voltando do trabalho para casa de metrô, ele ainda leva um hora fazendo conexões com ônibus“A gente não sabe qual é pior (ônibus ou metrô)”, diz enquanto tenta firmar as pernas e não esbarrar em quem está ao lado“Entra tanta gente que acabamos ficando todos juntosSe a pessoa não se aproximar da porta na hora de descer, pode perder a estação e ter de desembarcar longe”, conclui.
MAIS PASSAGEIROS Com a Linha Verde e a expansão do Vetor Norte, as pessoas se aproximaram do metrô e estão preferindo um aperto maior nele, por ser mais rápido do que o sofrimento prolongado nos ônibus”, observa o chefe do Departamento de Transportes e Geotecnia da Escola de Engenharia da UFMG, Nilson Tadeu Nunes.
Para o especialista, uma das soluções de curto prazo seria ampliar o número de carros das composições de metrô“Hoje são quatro carros em cada composiçãoMas as plataformas foram projetadas para receber até o dobroCertamente a aquisição de mais carros aliviaria, pelo menos por ora, a situação dos passageiros”, afirma
1.317circularam em horário de pico, em abril deste anoÉ como se 1.055 pessoas estivesse em pé (alta de 37%), descontando-se os 262 assentos
1.030passageiros é a capacidade das composiçõesSão quatro carros)
768 pessoas podem viajar em pé e 262 sentadas, segundo os índices internacionais de conforto