Jornal Estado de Minas

Transporte público ineficaz impulsiona crescimento da frota de motos em BH

Mateus Parreiras
Por R$ 40, mototaxista de Betim aceita fazer corrida até BH, onde o serviço é proibido - Foto: Jair Amaral/EM/D.a Press

Cansada de perder horas dentro de ônibus cheios todos os dias, a consultora de beleza Suellen Nato de Souza, de 23 anos, resolveu deixar de ser refém do transporte público da capital mineira e comprou uma moto para trabalharA atitude dela reflete uma tendência impulsionada pelo que o especialista em transporte e trânsito da UFMG Ronaldo Gouvêa classifica como “falência do transporte público na cidade”A frota de motocicletas em Belo Horizonte cresceu 6% desde o ano passado, passando de 163.913 veículos para 174.365Porém, dois meses atrás, a consultora sentiu na pele outra estatística que acompanha o aperto dos motociclistas entre fileiras de carros“Estava na Via Expressa e um carro me fechouCaí no asfalto, me ralei e torci o péAgora, estou fazendo fisioterapia”, contaNo mesmo passo do aumento da quantidade de motos, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou crescimento de 7% nas internações de motociclistas na capitalForam 5.036 entre janeiro e agosto deste ano, contra 4.714 do mesmo período de 2010.

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O aumento da circulação de motos esbarra na falta de estrutura viária“As faixas das vias da capital e das cidades do entorno são feitas para carrosO aumento da frota de duas rodas encontrou essa falta de estrutura
Mas, na falta de um sistema alternativo de transportes, como de vans com ar-condicionado para a classe média, uma das opções acaba sendo a motocicleta”, afirma Gouvêa“No transporte convencional, além da lotação, há também pouca confiabilidade do quadro de horários”, acrescenta.

Com o número de motocicltes am altal, fica fácil ver os conflitos que surgem no dia a dia pelas ruas da capital Os corredores apertados entre carros e ônibus já não têm mais espaço para abrigar tantas motocicletas nas avenidas Amazonas e Cristiano MachadoGuidons passam a centímetros de retrovisores e manobras são feitas na tentativa dos motociclistas de chegar na frente ao semáforo.

Betim
Rodando a 110 km/h na BR-381, o mototaxista José percorre esses corredores ladeados por carretas pesadas e carros, entre Betim, na região metropolitana, e a capitalO serviço é liberado na sua cidade, mas não em BHContudo, isso não parece incomodar o mototaxista, que ontem aceitou fazer o transporte além dos limites betinenses, por R$ 40O destino não poderia ser mais emblemático: o Departamento de Trânsito (Detran) da Gameleira, bairro da Região Oeste de Belo Horizonte.

A viagem durou 20 minutos e no caminho nenhum tipo de fiscalização ameaçou o motociclista, apesar de a PM, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG) e a Guarda Municipal de BH terem informado que iriam fiscalizar essas invasões e multar os infratoresO próprio sindicato da categoria admite saber da prática irregular“A demanda é realO que acontece é que o motociclista e o passageiro combinam dizer para a fiscalização que não houve um contrato entre eles, e está resolvido”, afirma Geraldo de Andrade, diretor do Sindicato dos Motociclistas e Ciclistas Autônomos de Minas Gerais