Cansada de perder horas dentro de ônibus cheios todos os dias, a consultora de beleza Suellen Nato de Souza, de 23 anos, resolveu deixar de ser refém do transporte público da capital mineira e comprou uma moto para trabalhar. A atitude dela reflete uma tendência impulsionada pelo que o especialista em transporte e trânsito da UFMG Ronaldo Gouvêa classifica como “falência do transporte público na cidade”. A frota de motocicletas em Belo Horizonte cresceu 6% desde o ano passado, passando de 163.913 veículos para 174.365. Porém, dois meses atrás, a consultora sentiu na pele outra estatística que acompanha o aperto dos motociclistas entre fileiras de carros. “Estava na Via Expressa e um carro me fechou. Caí no asfalto, me ralei e torci o pé. Agora, estou fazendo fisioterapia”, conta. No mesmo passo do aumento da quantidade de motos, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou crescimento de 7% nas internações de motociclistas na capital. Foram 5.036 entre janeiro e agosto deste ano, contra 4.714 do mesmo período de 2010.
O aumento da circulação de motos esbarra na falta de estrutura viária. “As faixas das vias da capital e das cidades do entorno são feitas para carros. O aumento da frota de duas rodas encontrou essa falta de estrutura. Mas, na falta de um sistema alternativo de transportes, como de vans com ar-condicionado para a classe média, uma das opções acaba sendo a motocicleta”, afirma Gouvêa. “No transporte convencional, além da lotação, há também pouca confiabilidade do quadro de horários”, acrescenta.
Com o número de motocicltes am altal, fica fácil ver os conflitos que surgem no dia a dia pelas ruas da capital . Os corredores apertados entre carros e ônibus já não têm mais espaço para abrigar tantas motocicletas nas avenidas Amazonas e Cristiano Machado. Guidons passam a centímetros de retrovisores e manobras são feitas na tentativa dos motociclistas de chegar na frente ao semáforo.
Betim
Rodando a 110 km/h na BR-381, o mototaxista José percorre esses corredores ladeados por carretas pesadas e carros, entre Betim, na região metropolitana, e a capital. O serviço é liberado na sua cidade, mas não em BH. Contudo, isso não parece incomodar o mototaxista, que ontem aceitou fazer o transporte além dos limites betinenses, por R$ 40. O destino não poderia ser mais emblemático: o Departamento de Trânsito (Detran) da Gameleira, bairro da Região Oeste de Belo Horizonte.
A viagem durou 20 minutos e no caminho nenhum tipo de fiscalização ameaçou o motociclista, apesar de a PM, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG) e a Guarda Municipal de BH terem informado que iriam fiscalizar essas invasões e multar os infratores. O próprio sindicato da categoria admite saber da prática irregular. “A demanda é real. O que acontece é que o motociclista e o passageiro combinam dizer para a fiscalização que não houve um contrato entre eles, e está resolvido”, afirma Geraldo de Andrade, diretor do Sindicato dos Motociclistas e Ciclistas Autônomos de Minas Gerais.