Longa espera no ponto, ônibus cheios, dificuldade para passar a roleta e desconforto na viagem não são exclusividade do transporte coletivo nos limites da capital
A maratona diária começa já no pontoPela falta de um sistema em rede, como o que prevê estações de integração, muitos precisam tomar dois coletivos ou optar por linhas com trajetos mais longosFaltam abrigos e, com isso, usuários ficam expostos ao sol e à chuvaNos ônibus, passageiros ficam espremidos, nervosos com o empurra-empurra e estressados depois de tanto tempo de pé.
“A gente só consegue assento se embarcar no ponto final do ônibusDepois do segundo ponto ele já fica lotado”, afirma a auxiliar administrativo Daniele Meireles, de 19 anosOntem, enquanto tentava se equilibrar entre os quase 70 passageiros de um micro-ônibus da linha 302E, a moça lamentava a falta de investimento no transporte“Isso é estressante, porque já chego cansada ao trabalhoA prefeitura precisa criar mais linhas e aumentar as viagens.”
Um motorista, que pede para não ser identificado, diz que o modelo de micro-ônibus é inadequado
A saturação é reconhecida inclusive pelo coordenador de Transporte Público da Transcon, Geraldo Antônio de Paula: “Temos um modelo antigo, no qual as linhas são longas e demoradas, mas atendem várias partes da cidadeSabemos que esse sistema precisa ser modernizado”, admite
Segundo ele, o município investe em soluções de curto prazo, como monitoramento por GPS, capaz de mostrar em tempo real a localização dos veículos
BETIM Os problemas e incômodo apenas mudam de endereço na Grande BHAs queixas de passageiros se repetem diariamente em Betim“Todo dia exercitamos a paciência para encarar ônibus cheios e o risco de acidentesPrecisamos de outras opções de transporte”, diz o oficial de manutenção Daniel Quintino Ferreira, de 32, do Bairro Bom Retiro
Dois sistemas de transporte público são administrados pela Prefeitura de BetimO convencional e o de baixa capacidade, com micro-ônibus, atendem cerca de 2 milhões de passageiros por mêsAlém deles, dezenas de vans e carros clandestinos disputam espaço em rotas internas e para cidades vizinhas.
Ainda distante de uma solução definitiva, a Transbetim, empresa responsável pela administração do transporte municipal, trabalha para combater a ilegalidade, regulamentar o serviço de mototáxi, que hoje atende 0,8% da população, com mais de 100 motos, e estender a linha do metrô até a cidade.
São 130 ônibus e 172 vans para atender os passageiros Segundo o diretor de Transporte e Trânsito da Transbetim, Artur Abreu, mesmo com o baixo número de veículos em comparação com BH, que tem quase 3 mil ônibus municipais, Betim oferece mais conforto“Ao contrário de BH, que tem 87% dos passageiros em ônibus, em Betim o índice é de 67% e, portanto, o nível de conforto é maiorA ocupação máxima dos ônibus da capital é de cinco pessoas por metro quadradoAqui, são quatro por metro quadrado no ônibus convencional e na nova licitação dos micro-ônibus serão três”, argumentou.
PALAVRA DE ESPECIALISTA
SILVESTRE DE ANDRADE PUTY FILHO, ENGENHEIRO CIVIL, CONSULTOR E MESTRE NA ÁREA DE TRANSPORTES
Desafio é metropolitano
“Não dá para pensar que só Belo Horizonte enfrenta saturação no transporte públicoContagem é hoje uma cidade grande, com muitos serviços e mais de 600 mil habitantesPara otimizar os deslocamentos no município e no entorno deve-se esquecer o conceito de linhas e trabalhar com uma rede de transporte, com vários modais interligados por estações e pontos de conexãoÉ essencial também dar mais eficiência ao que já existeNo transporte coletivo, a saída seria criar faixas ou até pistas exclusivas para os ônibusDessa forma, os veículos particulares perdem espaço, mas mais pessoas são atendidas, já que os ônibus transportam 70% das pessoas, enquanto os automóveis de passeio levam apenas 30%Com maior capacidade, os coletivos poderiam fazer mais viagens com a mesma frota Por outro lado, os sistemas de BRT (transporte rápido por ônibus) e VLT (veículo leve sobre trilhos) também são ótimas soluções para corredores como as avenidas João César de Oliveira e Cardeal Eugênio PacelliOutra saída é o incentivo à criação de vários polos de serviço, para que as pessoas dependam cada vez menos de se dirigir ao Centro da cidade.”