“Sabe, tia, ganho muito mais que a senhora!” Essa frase, de meninos resgatados das mãos de traficantes de drogas, não é incomum aos ouvidos de Maria Margareth Pereira, que trocou a advocacia pelo cargo de assessora de projetos da Pastoral do Menor, projeto da Arquidiocese de Belo Horizonte
A Pastoral do Menor é uma das frentes de ações que integram polícia, governos municipal e estadual, Judiciário, Ministério Público e conselhos tutelares“Nosso trabalho é preparar esses menores para o retorno às famílias de origem”, conta MargarethMas essa tarefa não é tão simples como possa parecerO adolescente precisa manifestar interesse e há casos em que a família de origem desapareceOutras não o queremA maioria não está preparada para recebê-lo de volta“Há pai que não é encantado com a missão de ser pai”, constata Maria Margareth.
Os principais motivos, segundo ela, para a presença desses menores nas ruas são a violência doméstica e os apelos de consumoQuando saem da escola, crianças e adolescentes de áreas de carentes não têm o que fazer ou quem os eduque em casa“Se têm uma cama ou sofá, ficam boa parte do dia deitados diante da TV ou nas ruas”, diz a assessora
A maioria dos especialistas no trabalho com menores acha a escola defasada e despreparada para educar crianças e jovens da atualidade“No mundo integrado pela internet, ainda se trabalha com giz e os currículos não preenchem as necessidades”, afirma Maria MargarethOutros afirmam que as unidades de ensino não estão preparadas para trabalhar o alunos com dificuldade de aprendizado ou com comportamento considerado fora dos padrões, o que leva à evasãoPara Warley Silva, gerente do Serviço Especial em Abordagem Social da prefeitura, a escola integrada e integral seria ideal para que crianças não ficassem vulneráveis aos apelos das ruas enquanto os pais trabalham.
Mas os pais em casa nem sempre representam segurança para essas criançasHá agressões, inclusive sexuais“Ela é minha e posso usá-la do jeito que eu quiser.” A frase, de um pai acusado de abusar da filha de 4 anos, ainda ecoa nos ouvidos da assessora“As mães são, às vezes, coniventes, porque dependem econômica e afetivamente do companheiro, o que ocorre em cerca de 60% dos casos, ou porque são intimidadas.”
Meninos e meninas vão para os centros de passagem até a tentativa de reaproximação com os paisLá, deveriam ficar no máximo 90 dias, participando de atividades voltadas para a recuperação da autoestimaSe têm menos de 15 anos, podem ter a chance do bolsa-empregoDepois, deveriam ir para os abrigos, que oferecem melhores equipamentos