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Estado de Minas

Retorno à família é a meta de menores que caem nas mãos de traficantes


postado em 13/11/2011 07:14 / atualizado em 13/11/2011 07:35

“Sabe, tia, ganho muito mais que a senhora!” Essa frase, de meninos resgatados das mãos de traficantes de drogas, não é incomum aos ouvidos de Maria Margareth Pereira, que trocou a advocacia pelo cargo de assessora de projetos da Pastoral do Menor, projeto da Arquidiocese de Belo Horizonte. O trabalho da equipe da qual ela faz parte é fazer com que crianças e adolescentes recolhidos na capital façam o caminho inverso: deixam as ruas e voltem para casa e para a escola. Os menos resistentes à ressocialização podem até ser contemplados com uma bolsa-emprego de meio salário mínimo mensal em órgãos da prefeitura,até atingir a idade de 15 anos e oito meses.

A Pastoral do Menor é uma das frentes de ações que integram polícia, governos municipal e estadual, Judiciário, Ministério Público e conselhos tutelares. “Nosso trabalho é preparar esses menores para o retorno às famílias de origem”, conta Margareth. Mas essa tarefa não é tão simples como possa parecer. O adolescente precisa manifestar interesse e há casos em que a família de origem desaparece. Outras não o querem. A maioria não está preparada para recebê-lo de volta. “Há pai que não é encantado com a missão de ser pai”, constata Maria Margareth.

Os principais motivos, segundo ela, para a presença desses menores nas ruas são a violência doméstica e os apelos de consumo. Quando saem da escola, crianças e adolescentes de áreas de carentes não têm o que fazer ou quem os eduque em casa. “Se têm uma cama ou sofá, ficam boa parte do dia deitados diante da TV ou nas ruas”, diz a assessora. Lá fora, o traficante o espera com uma proposta tentadora: um bom dinheiro para vender e entregar drogas.
A maioria dos especialistas no trabalho com menores acha a escola defasada e despreparada para educar crianças e jovens da atualidade. “No mundo integrado pela internet, ainda se trabalha com giz e os currículos não preenchem as necessidades”, afirma Maria Margareth. Outros afirmam que as unidades de ensino não estão preparadas para trabalhar o alunos com dificuldade de aprendizado ou com comportamento considerado fora dos padrões, o que leva à evasão. Para Warley Silva, gerente do Serviço Especial em Abordagem Social da prefeitura, a escola integrada e integral seria ideal para que crianças não ficassem vulneráveis aos apelos das ruas enquanto os pais trabalham.

Mas os pais em casa nem sempre representam segurança para essas crianças. Há agressões, inclusive sexuais. “Ela é minha e posso usá-la do jeito que eu quiser.” A frase, de um pai acusado de abusar da filha de 4 anos, ainda ecoa nos ouvidos da assessora. “As mães são, às vezes, coniventes, porque dependem econômica e afetivamente do companheiro, o que ocorre em cerca de 60% dos casos, ou porque são intimidadas.”

Meninos e meninas vão para os centros de passagem até a tentativa de reaproximação com os pais. Lá, deveriam ficar no máximo 90 dias, participando de atividades voltadas para a recuperação da autoestima. Se têm menos de 15 anos, podem ter a chance do bolsa-emprego. Depois, deveriam ir para os abrigos, que oferecem melhores equipamentos. Mas, a demanda é maior que a oferta de vagas e eles acabam ficando mais tempo nas casas de passagem. Os rejeitados pelos parentes ou que não têm para quem voltar ficam até os 18 anos, quando saem despreparados para sobreviver em uma sociedade que não conhecem ou nunca conheceram.

 


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