Mas como comprovar a paternidade se o filho ainda nem veio ao mundo? Na opinião do desembargador, esse é o maior avanço da Lei 11.804, chamada de Lei de Alimentos Gravídicos, de 2008“A nova legislação não exige prova, mas apenas indícios da paternidade”, explicaIsso significa que, diante do juiz, a gestante terá de declarar o nome verdadeiro do pai da criança e reunir indícios de provas, como bilhetes e e-mails trocados entre o casal e o testemunho de amigos que presenciaram as juras de amor dos namorados“O juiz precisa ser convencido para não cometer injustiça”, completa.
Em pedidos de alimentos na gestação, o juiz tem prazo inferior a nove meses, por motivos óbvios, para gerar a sentençaSegundo Raduan Filho, os juízes das varas de família estão orientados a abreviar o procedimento, despachando em 48 horas ou, no máximo, em 72 horas.
ALIMENTOS
É o juiz quem fixa o valor a ser pago, calculado com base na condição social da mãe e do paiO magistrado lembra ainda que a finalidade da lei é amparar a mãe financeira e moralmente, durante o período de gestação, e não enriquecer a gestante“Caso o namorado não tenha onde cair morto, a responsabilidade recai sobre os avós, que passam a responder pela ação de alimentos avoengos (palavra derivada de avó ou avô)”, completa.
“Uma mulher não vai ficar rica porque engravidouEla vai receber o valor necessário para cuidar das suas necessidades morais e materiais, que, em última instância, vão atingir o fim desejado, que é a proteção do filho”, afirma o juiz, lembrando o direito a acompanhamento no pré-natal e parto por meio de plano de saúde e não do SUS.
Em alguma medida, a lei é machista ao punir o homem? “Sem dúvida, a mulher pode ser levada a entrar em um relacionamento fugaz, leviano
Entrevista
Rodrigo da Cunha Pereira, coordenador-geral do congresso
(Fotos: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press )
“Novas estruturas de família estão em curso”
A família basileira nunca teve tanta importância como agora, segundo o advogado Rodrigo da Cunha Pereira, presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM) e coordenador-geral do congressoEle revela as novas configurações familiares da atualidade no encontro que termina hoje em BH.
Qual é o principal desafio do direito de família na atualidade?
A procura de um novo conceito de famíliaAntigamente era claro que família era pai, mãe e filhos, casados no religioso e vivendo felizesEsse modelo ainda existe, mas hoje não é únicoNovas estruturas de família estão em cursoO que não quer dizer que a família está em decadênciaPelo contrárioO que existe são novas configurações familiares.
Como fica o direito diante desta família em transição?
O direito precisa dar resposta e proteção às novas famílias, que são muitas, como aquelas constituídas por pessoas do mesmo sexoO discurso moral e religioso sempre norteou o direito de família
O que está saindo de novidade no congresso?
Falamos da família conjugal, que são pares como marido e mulher, dois homens ou duas mulheresNa outra vertente da família, estão os filhos que formam a família parental, já que o cônjuge não é parente do outroEntão ampliamos o parentesco criando o termo da parentalidade sócio-afetiva, que é a consideração de que maternidade e paternidade são funções exercidasEntão, se você descobrir que o pai que você sempre teve não é o seu pai biológico, seja porque você foi trocada na maternidade ou porque você foi adotada, ele não vai deixar de ser seu pai sócio-afetivo e isso gera direitosMesmo que quisesse, ele não poderia tirar o seu nome da certidão de nascimento nem excluí-lo dos bens a ser deixados como herança.
Por que o uso do termo afetivo?
O IBDFAM trouxe o afeto para o centro da família e da cena jurídicaÉ o afeto que faz compreender a nova família e não a sua representação social que tanto pode ser a família ‘margarina’ da TV, com o pai, a mãe e os filhos, ou ter dois pais ou trazer filhos de outros casamentosO afeto se tornou o principal valor jurídico da última década e gera direitos e obrigaçõesA nova família nunca teve tanta importância como agoraA grande revolução da atualidade é que ninguém mais morre pela pátria ou levanta a bandeira da direita ou da esquerda, mas se engaja em movimentos que querem deixar um mundo melhor para os seus filhos(