Jornal Estado de Minas

Mais um golpe contra a árvore sete-cascas da Savassi

A árvore sete-cascas que há 10 dias foi salva do corte por um grupo de ambientalistas na Savassi, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, está com o futuro ameaçado. O estudo encomendado pela gerência de gestão ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) confirmou a necessidade da retirada da árvore, localizada no quarteirão fechado da Rua Antônio de Albuquerque com Praça Diogo de Vasconcelos. Nessa terça-feira, o gerente da SMMA, Sérgio André de Souza Oliveira, informou que prevalece o laudo técnico feito anteriormente, que atesta que a árvore – de cerca de 30 anos e com mais de 20 metros de altura – foi plantada sobre uma antiga pavimentação asfáltica e ameaça cair.



“Confio no meu corpo técnico e levo a minha decisão adiante. As pessoas que estão aqui têm muita responsabilidade, principalmente quando envolve risco à vida”, disse Sérgio. A Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) já tem ordem para cortar a árvore, segundo Sérgio, e pode ter apoio da gerência de áreas verdes da prefeitura e do Corpo de Bombeiros, que têm equipamentos e pessoas habilitadas para as supressões.

A Sociedade de Ecologia Urbana, entidade sem fins lucrativos de defesa do meio ambiente, entrou com uma ação no Ministério Público e com dois recursos no BH Resolve para impedir que a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e o Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comam) cortem a sete-cascas.

“Queremos uma discussão mais ampla. A prefeitura não pode continuar cortando árvores como está fazendo”, disse Maria Del Mar Ferrer Jordá Poblet, representante da Sociedade de Ecologia Urbana. No pedido feito ao Ministério Público, a entidade sugere a colocação de escoras, suportes e cabos de aço para manter a sete-cascas em pé, mesmo não acreditando que a árvore ofereça risco, como defende a prefeitura. De acordo a Procuradoria Geral de Justiça, o pedido deve ser analisado em três dias.





Controvérsia

O gerente da SMMA, Sérgio Oliveira, disse que em momento algum concluiu em seu parecer que a sete-cascas estivesse doente. “O problema é com a raiz, que foi levantada em função da obra da Copasa. Um engenheiro da Sudecap fez um relatório e pediu a opinião do Meio Ambiente. Diante da dúvida posta, de que a área sob a sete-cascas estaria impermeabilizada, fizemos sondagens no entorno da árvore e chegou-se à presença, de fato, de uma manta asfáltica”, disse Sérgio, admitindo que as sondagens foram feitas por amostragens.

“Na época do plantio, foi feito um corte de um metro quadrado no antigo asfalto”, garante Maria Del Mar Ferrer. Sérgio rebate dizendo que há relatos de moradores antigos da região garantindo que a árvore foi plantada em cima de uma camada de asfalto. Segundo Sérgio, o parecer do Meio Ambiente foi analisado também por um grupo especial de área de risco da prefeitura, formado pelas administrações regionais e Corpo de Bombeiros. A conclusão de todos foi que a sete-cascas oferece riscos.

Contudo, a autora e coordenadora do projeto de revitalização da Savassi, a arquiteta Edwiges Leal, garante que o laudo da prefeitura “é todo presunção” e que não há nenhuma investigação científica que comprove a existência da manta asfáltica sob a árvore. Para a arquiteta, a sete-cascas não está com idade avançada e nem doente. “A Secretaria de Meio Ambiente tomou uma decisão cautelar e preventiva de cortá-la por supor que a árvore não teve cova para chegar ao solo natural, mas teve. Depoimentos do plantio na década de 1980, comprovam que a cova perfurando o antigo asfalto foi feita para todas as árvores da praça”, afirmou a arquiteta.



Segundo Edwiges, quando as ruas Pernambuco e Antônio de Albuquerque foram fechadas para o trânsito de veículos e deram lugar a estacionamentos, as extremidades das vias foram anexadas à Praça Diogo de Vasconcelos. “Temos informações da equipe de obras da época que eles tiveram o cuidado de furar o antigo asfalto para plantar as mudas de árvores. Agora, queremos que a prefeitura faça uma sondagem para constatar, de forma científica, que não há risco de queda das árvores”, afirma a arquiteta.

Novos laudos Edwiges afirma que três laudos estão sendo produzidos por um renomado engenheiro agrônomo. “Pedimos que a prefeitura abra uma discussão mais ampla para que sirva de exemplo e mude o procedimento em relação ao corte de outras árvores”, acrescentou a arquiteta. Segundo ela, não há nenhuma razão estética para o corte da árvore. “Pelo contrário, estamos plantando muitas outras. Queremos uma Savassi sombreada e de convívio social”, disse.

Mesmo como todos os argumentos contrários, o gerente da SMMA, reafirma o corte da sete-cascas. “O poder público é responsável pela árvore. Isso está previsto na legislação. Tivemos uma morte no início do ano, quando uma árvore caiu e matou uma pessoa no Parque Municipal. Não podemos deixar que isso aconteça de novo”, disse Sérgio Oliveira. “Quanto custa uma vida humana? Acho que muito mais do que uma sete-cascas”, finalizou.



População não se conforma


A arquiteta Leda Leonel, de 59, disse que os protestos contra os cortes de árvores na capital e na Savassi, principalmente, para salvar a sete-cascas, vão continuar. Para ela, a sete-cascas virou símbolo de resistência diante do que ela considera “loucura” e “truculência” por parte da prefeitura. “Há controvérsias em relação ao laudo da prefeitura. Mesmo afirmando que a árvore é saudável, eles vão suprimi-la”, disse Leda.

A decisão da prefeitura de arrancar a sete-cascas também revoltou quem mora ou trabalha nas imediações. “Estão cortando só por causa do projeto novo da Savassi, ou está faltando carvão nas siderúrgicas”, disse o porteiro Eneliésio dos Reis Silva.

A publicitária Gianna Peluci, de 45, disse que as árvores devem ser cuidadas e podadas adequadamente, mas nunca cortadas. “A cidade é muito bonita, cheia de árvores, e eles estão fazendo as coisas sem perguntar. A população tem pouca informação sobre as decisões da prefeitura”, disse a publicitária.



Árvores ganham lápide

“Aqui jaz uma paratecoma peroba - 1935-2011”. “Aqui jaz uma Sweetia Fruticosa - 1985-2011”.  As lápides colocadas sobre o que restaram dos troncos das árvores retiradas da Avenida Bernardo Monteiro, no Bairro Funcionários, Região Centro-Sul, foi a forma encontrada pelo grupo que se identifica como “Fluxuscetina Arte e Protesto” para criticar o corte das árvores.

A economista Suely Siqueira Campos, de 64, ficou revoltada com o que chama de “assassinato”. “Acho uma indecência, um absurdo. Está certo que muitas árvores estão velhas, mas elas têm suas copas mutiladas para passagem da fiação elétrica e acabam caindo. É lógico que elas vão desmoronar, pois, do jeito que eles podam, o peso vai todo para um lado só”, disse a economista.

Segundo ela, as árvores de BH também estão “estranguladas” pelo concreto das calçadas e têm a saúde comprometida. “Morreu muito nova. Foi assassinada”, não parava de repetir a economista, como se velasse o túmulo da sweetia fruticosa.

Nessa terça-feira, o que se viu pela cidade foram caminhões carregados de troncos e galhos. Pelo menos 11,3 mil árvores foram cortadas este ano em Belo Horizonte, mais do que em 2010, quando as nove regionais registraram 10,7 supressões. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente informou que os troncos das árvores cortadas são doados para entidades de artesãos e algumas madeiras são usadas como escoras em obras da cidade, como a reforma do estádio Mineirão.