É justamente a retirada dessa espécime que mais incomoda o administrador de redes de computadores Márcio Viana, de 46 anos, morador da região de Venda Nova há 35 anos. Quando criança, ele aprendeu a apreciar as palmeiras na avenida e ficava impressionado com a beleza das árvores. “Acho que essas plantas têm de ser preservadas, porque são um patrimônio da avenida e da cidade. Conheço boa parte da Europa e lá vi ótimos projetos paisagísticos que funcionam com o desenvolvimento econômico e tecnológico. Por isso, se houver boa vontade e planejamento, é possível ter mobilidade e áreas verdes preservadas”, diz Márcio.
O professor do Departamento de Botânica da UFMG, Eduardo Gonçalves, trabalhou como paisagista do Museu de Inhotim e era o responsável por cuidar das palmeiras-imperiais. Ele acredita que se os exemplares dessa espécie forem simplesmente derrubados será um grande desperdício. “A palmeira imperial é totalmente passível de transplante em qualquer tamanho, porém, o processo tem de ser feito de maneira cuidadosa. A escavação precisa ser manual, pois as máquinas destroem as raízes e o transporte precisa ocorrer em caminhão adequado”, diz o professor.
Eduardo Gonçalves conta que a palmeira-imperial não possui uma raiz muito grossa ou profunda, o que facilita o replante. “São muitas raízes, mas elas são muito finas, podem ser cortadas porque rebrotam com facilidade. Porém, um exemplar consegue sobreviver por apenas dois dias antes de ser replantado, desde que receba todos os cuidados, como água e amarração das folhas”, afirma o especialista.
Mesmo molde
O corte das árvores na Antônio Carlos e na Pedro I segue a linha já adotada na Avenida Cristiano Machado, onde 499 árvores foram suprimidas para instalação do BRT. Só esse ano, a capital já perdeu 11,3 mil árvores, número que supera os 10,7 mil cortes do ano passado.
A Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) informou que a supressão de 136 árvores na Avenida Antônio Carlos teve licença concedida pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Das 71 palmeiras que precisarão ser removidas, 52 serão transplantadas, porém, estudos estão sendo feitos para definir o melhor lugar para o replantio. Os 19 exemplares restantes serão suprimidos, já que “não apresentam boas condições estruturais que permitam o replantio”, como informa a Sudecap. Sessenta e cinco árvores de outras espécies também serão suprimidas na Antônio Carlos, mas, nesse caso, não foi exigida nenhuma medida compensatória.
Na Pedro I, 300 espécimes serão derrubadas, sendo que 100 já foram suprimidas. Nesse caso, há medida compensatória para 40 árvores cortadas em frente ao Pampulha Mall. Serão plantadas 204 mudas ao longo da obra. Também haverá supressão de 42 espécimes nas avenidas Montese e João Samaha e Rua Monte Castelo. Para essas árvores que deixarão de existir, serão plantadas outras 206 mudas. Por fim, 27 exemplares vão sair do Complexo Vilarinho em função da requalificação viária do local. A medida compensatória será plantar 118 novas árvores em locais que ainda serão definidos.