A cena é corriqueira, mas quase ninguém vêA madrugada ainda segue escura quando os portões da empresa de reparos automotivos são abertos Um a um, carros com inscrições de giz colorido nos vidros, onde constam informações sobre o modelo do automóvel e o seu preço, saem de ré e vão sendo enfileirados, no asfalto, ao longo do passeio da Avenida Nossa Senhora do Carmo, próximo a à Igreja do Carmo, na Região Centro-SulEm questão de minutos, as vagas que deveriam ser usadas por quem logo descerá a via na direção da Savassi são transformadas em vitrine para exposição de carros à venda.
A ocupação diária dessa que é uma das mais importantes vias da cidade, ligando a Savassi ao BH Shopping, Anel Rodoviário e à saída para Nova Lima, é uma afronta ao Código de Posturas da cidade, que considera ilegal o uso de vias públicas para atividades comerciaisNo entanto, proprietários de agências de veículos que se consideram donos das ruas agem livremente pela cidade, reduzindo a oferta de vagas e piorando o tráfego na capital mineiraAlém das lojas de automóveis, há quem se aproprie dos espaços para dispensar lixo, usar cones para demarcar vagas e até transformar o espaço em feira livre.
De acordo com a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos, as ruas e vagas de estacionamento não podem ser usadas para exercício de atividades comerciais, e a não obediência é passível de multa e apreensão do material utilizadoSó neste ano, até outubro, a PBH multou 7% mais pessoas que obstruíam as vias públicas para essas atividades do que no ano passado inteiroForam 278 autuações em 2011, com a apreensão de 1.066 itens, contra 258 e o confisco de 1.018 objetos em 2010Punir é difícil, principalmente para distinguir o veículo estacionado legalmente, o automóvel comum, do que está ocupando a vaga para ser vendido.
Situações como essa afligem milhares de pessoas que buscam vagas na capital mineiraProva de que o problema está disseminado, a reportagem do Estado de Minas encontrou outros “donos das ruas” nas regiões Centro-Sul, Noroeste, Norte, Pampulha e Venda Nova.
Em obras
O responsável pelo negócio na Nossa Senhora do Carmo, que se identificou apenas como “Maia”, justificou a atitude dizendo que deixa os automóveis na rua porque seu estacionamento está em reforma“São veículos que vendo em consignação, mas faz só 20 dias que os deixo na rua”, afirma
A Avenida Cristiano Machado também tem vagas de estacionamento invadidas por revendas de automóveisProprietário de uma delas, no Ipiranga, Região Nordeste, Daniel de Souza Ribeiro admite que põe 25 carros na avenida e nos arredores, com inscrições de giz nos vidros propagandeando a venda“Os carros que deixo na rua vendem mais rápido do que aqueles que ficam dentro da loja”, garante o comerciante.