Valorizar os mínimos detalhes é característica de quem viu a vida por um fio. Assim, estudar, ler, tocar violão, perder horas no computador e até tirar a carteira de habilitação ganham sentidos muito mais especiais. Que o diga o universitário Thales Leonardo de Carvalho, de 19 anos. Para ele, agosto deste ano foi o mês do recomeço. Dia 1º, ele começou as aulas no curso de relações internacionais, seu grande sonho. Dia 3, completou um ano do transplante de medula, data em que deu adeus à leucemia. De volta à vida normal, ele quer agora aproveitar os momentos típicos da idade, mas sem exageros.
A doença foi descoberta em julho de 2006 e o primeiro tratamento durou três meses. Em 2009, também em julho, a leucemia voltou. Dessa vez, a quimioterapia foi bem agressiva, com duas internações, uma de 25 e outra de 50 dias. O transplante foi a solução. O teste com parentes não deu resultado e ele precisou ir para a fila em fevereiro de 2010. Dois meses depois, teve a notícia de um possível doador. A bateria de exames acabou em julho. Durante o transplante feito no Hospital das Clínicas, em Belo Horizonte, tudo correu bem.
As complicações apareceram depois do 13º dia, com feridas no tubo digestivo causadas pela baixa imunidade. “Chegou a um ponto em que não conseguia respirar. Os médicos acharam que eu não chegaria vivo ao elevador do CTI. Fiquei em coma induzido por quatro dias e o que me salvou foi a traqueostomia. Com menos de um mês de alta do CTI, pude sair do hospital. Durante todo o tempo me propus desafios e me superei”, relata orgulhoso.
Até mesmo o vestibular foi uma superação. Ele já havia sido aprovado numa faculdade, mas precisou trancar a matrícula duas vezes. No ano passado, uma semana antes do encerramento das inscrições da PUC Minas, ele resolveu tentar novamente. Teve três semanas para estudar, mas não contava que voltaria a se internar dois dias antes da prova. Os médicos o liberaram por horas, apenas para fazer a avaliação. Passou em terceiro lugar. “Em agosto começou uma nova página da minha vida. Estou quase cortando os remédios, pois não tenho mais sinal de rejeição. Depois de um ano, voltei a viver como pessoas normais, que não têm nada.”
ROTINA PESADA
Se o momento para Thales é de redescobrir a vida depois do transplante, para Wellington Messias a hora é de superação. Três vezes por semana, ele se consulta no HC e, semanalmente, a mulher, a administradora Renata, dispara e-mails pedindo doadores de sangue. Ele precisa de sangue pelo menos a cada 15 dias. “Vimos pessoas morrerem na nossa frente porque não havia sangue no Hemominas. Ele mesmo, que é O+, já chegou lá em crise e precisou voltar para casa porque o banco estava vazio. Nessas horas, ligamos para alguém doar especificamente para ele, mas o processo demora alguns dias. È desesperador, pois a doença abaixa as plaquetas, o corpo não produz defesas, dá hemorragia e ele pode morrer. Meu marido entrou várias vezes para o bloco cirúrgico e nem mesmo os médicos sabiam se ele voltaria”, afirma Renata.
Por dia, são 27 comprimidos. E se há complicações no pulmão, o jeito é internar, pois a Justiça negou duas vezes o pedido da família para que o sistema público de saúde ofereça o medicamento que combate um fungo. A caixa com 14 comprimidos custa R$ 4,7 mil. Para o casal, as lições vêm junto com a dor. “Aprendemos que o dinheiro não compra medula, não compra nada. Vamos vencer essa batalha diária e, quando sairmos dessa, olharemos para trás e teremos outros valores”, diz Renata.
Welington tem na ponta da língua o que fará quando estiver curado: “Primeiro, agradecer a Deus. Depois, vamos nos casar no religioso, pois só assinamos os papéis no civil. Vou comer sem precisar de tantas preocupações, pular na piscina do clube, ir para a praia, andar de moto e, o principal, jogar bola”.
FUTURO
O coordenador de transplantes do Hospital das Clínicas, Gustavo Machado Teixeira, diz que a tendência é de que haja, futuramente, um doador para cada paciente, usando as pessoas cadastradas no banco de voluntários, o cordão umbilical, o pai ou a mãe para o transplante haploidêntico, que consiste na manipulação de células parcialmente compatíveis. O médico explica que há duas formas de doação voluntária.
Uma é pela coleta de medula óssea. A outra é o recolhimento de célula-tronco periférica. “A quantidade no sangue é pouca. Por isso, é necessário medicamento para liberar as células-tronco da medula para o sangue e, então, fazer a coleta no sangue, em procedimento semelhante à coleta de plaqueta”, diz. Este ano, o HC fez cinco transplantes não aparentados. Desde 2006, quando esse procedimento foi implantado, foram 30, dos quais oito provenientes de cordão umbilical de bancos públicos nacionais.
Fila de transplante em MInas*
Rim 2.179
Córnea 593
Medula óssea 42
Coração 18
Fígado 32
Rim/ pâncreas 24
Pâncreas 1
Pulmão 11
Total: 2.900
Fonte: MG Transplantes
* Dados até 31/10/11
A doença foi descoberta em julho de 2006 e o primeiro tratamento durou três meses. Em 2009, também em julho, a leucemia voltou. Dessa vez, a quimioterapia foi bem agressiva, com duas internações, uma de 25 e outra de 50 dias. O transplante foi a solução. O teste com parentes não deu resultado e ele precisou ir para a fila em fevereiro de 2010. Dois meses depois, teve a notícia de um possível doador. A bateria de exames acabou em julho. Durante o transplante feito no Hospital das Clínicas, em Belo Horizonte, tudo correu bem.
As complicações apareceram depois do 13º dia, com feridas no tubo digestivo causadas pela baixa imunidade. “Chegou a um ponto em que não conseguia respirar. Os médicos acharam que eu não chegaria vivo ao elevador do CTI. Fiquei em coma induzido por quatro dias e o que me salvou foi a traqueostomia. Com menos de um mês de alta do CTI, pude sair do hospital. Durante todo o tempo me propus desafios e me superei”, relata orgulhoso.
Até mesmo o vestibular foi uma superação. Ele já havia sido aprovado numa faculdade, mas precisou trancar a matrícula duas vezes. No ano passado, uma semana antes do encerramento das inscrições da PUC Minas, ele resolveu tentar novamente. Teve três semanas para estudar, mas não contava que voltaria a se internar dois dias antes da prova. Os médicos o liberaram por horas, apenas para fazer a avaliação. Passou em terceiro lugar. “Em agosto começou uma nova página da minha vida. Estou quase cortando os remédios, pois não tenho mais sinal de rejeição. Depois de um ano, voltei a viver como pessoas normais, que não têm nada.”
ROTINA PESADA
Se o momento para Thales é de redescobrir a vida depois do transplante, para Wellington Messias a hora é de superação. Três vezes por semana, ele se consulta no HC e, semanalmente, a mulher, a administradora Renata, dispara e-mails pedindo doadores de sangue. Ele precisa de sangue pelo menos a cada 15 dias. “Vimos pessoas morrerem na nossa frente porque não havia sangue no Hemominas. Ele mesmo, que é O+, já chegou lá em crise e precisou voltar para casa porque o banco estava vazio. Nessas horas, ligamos para alguém doar especificamente para ele, mas o processo demora alguns dias. È desesperador, pois a doença abaixa as plaquetas, o corpo não produz defesas, dá hemorragia e ele pode morrer. Meu marido entrou várias vezes para o bloco cirúrgico e nem mesmo os médicos sabiam se ele voltaria”, afirma Renata.
Por dia, são 27 comprimidos. E se há complicações no pulmão, o jeito é internar, pois a Justiça negou duas vezes o pedido da família para que o sistema público de saúde ofereça o medicamento que combate um fungo. A caixa com 14 comprimidos custa R$ 4,7 mil. Para o casal, as lições vêm junto com a dor. “Aprendemos que o dinheiro não compra medula, não compra nada. Vamos vencer essa batalha diária e, quando sairmos dessa, olharemos para trás e teremos outros valores”, diz Renata.
Welington tem na ponta da língua o que fará quando estiver curado: “Primeiro, agradecer a Deus. Depois, vamos nos casar no religioso, pois só assinamos os papéis no civil. Vou comer sem precisar de tantas preocupações, pular na piscina do clube, ir para a praia, andar de moto e, o principal, jogar bola”.
FUTURO
O coordenador de transplantes do Hospital das Clínicas, Gustavo Machado Teixeira, diz que a tendência é de que haja, futuramente, um doador para cada paciente, usando as pessoas cadastradas no banco de voluntários, o cordão umbilical, o pai ou a mãe para o transplante haploidêntico, que consiste na manipulação de células parcialmente compatíveis. O médico explica que há duas formas de doação voluntária.
Uma é pela coleta de medula óssea. A outra é o recolhimento de célula-tronco periférica. “A quantidade no sangue é pouca. Por isso, é necessário medicamento para liberar as células-tronco da medula para o sangue e, então, fazer a coleta no sangue, em procedimento semelhante à coleta de plaqueta”, diz. Este ano, o HC fez cinco transplantes não aparentados. Desde 2006, quando esse procedimento foi implantado, foram 30, dos quais oito provenientes de cordão umbilical de bancos públicos nacionais.
Fila de transplante em MInas*
Rim 2.179
Córnea 593
Medula óssea 42
Coração 18
Fígado 32
Rim/ pâncreas 24
Pâncreas 1
Pulmão 11
Total: 2.900
Fonte: MG Transplantes
* Dados até 31/10/11