Jornal Estado de Minas

Cordão umbilical que pode salvar vidas é desperdiçado

Junia Oliveira
Wellington e alguns dos 27 remédios que ele é obrigado a tomar diariamente - Foto: Euler Júnior/EM/D.A Press
Uma das esperanças para aumentar as chances de quem precisa de uma nova medula para viver é trazida por quem acaba de chegar ao mundoMas, em grande parte do país, o que pode salvar ainda é, literalmente, jogado no lixo: o cordão umbilicalO primeiro transplante em que ele foi usado foi há 20 anos, quando a medicina identificou células-tronco hematopoéticas no sangue do cordãoEssas estruturas, responsáveis pela produção de sangue e pelo sistema imune, são as mesmas encontradas na medula.

Elas surgiram como alternativa a quem não tem doadorA doação do cordão umbilical do recém-nascido para um banco público é voluntária e autorizada pela mãe do bebêAs unidades armazenadas ficam disponíveis para qualquer pessoa que precise de transplante de medula óssea, indicação para pacientes com leucemia e outras doenças do sangueAs células são armazenadas em nitrogênio, em temperatura ultrabaixa e podem ser guardadas por até 30 anos.

Ao longo de duas décadas, foram constituídos bancos em todo o mundo e feitos cerca de 10 mil transplantesNo Brasil, a Rede Brasilcord foi criada em 2004, com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)Coordenada pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), reúne os bancos públicos de sangue de cordão umbilical e placentário (BSCUP), que mantêm convênio com determinadas maternidades para coleta dos cordõesAs doações só podem ser feitas nesses hospitais conveniados, onde há equipes treinadas para abordar a gestante, acompanhar a gestação e coletar o material no momento do nascimento da criança.

No país, já foram inaugurados 11 bancos públicosSete estão em pleno funcionamento – Belém (PA), Rio de Janeiro, São Paulo (um no Hospital Sírio-Libanês e outro no Albert Einstein), Ribeirão Preto (SP), Campinas (SP) e Florianópolis (SC)
E quatro estão em processo de implantação – Fortaleza (CE), Recife (PE), Porto Alegre (RS) e Brasília (DF).

MAIS BANCOS
Serão inaugurados ainda os bancos de Curitiba (PR) e de Minas Gerais, encerrando a primeira fase de implantação da redeEm Minas, as atividades vão se concentrar no prédio do Centro de Tecidos Biológicos (CTBio), que será construído em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo HorizonteSob o comando do Hemominas, a estrutura vai abrigar bancos de cordão umbilical e de tecidosA segunda etapa se voltará para Campo Grande (MS), Manaus (AM), São Luís (MA) e Salvador (BA)Segundo o coordenador do Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome) e da Rede Brasilcord, Luis Fernando Bouzas, em todo o país já há 13 mil unidades armazenadas e foram feitos 130 transplantes com material vindo da rede.

Apesar de representar um alento, o processo pode ser delicadoSegundo Bouzas, embora tenha uma grande quantidade de células, o cordão umbilical tem uma limitação de quantidade e permite extrair apenas cerca de 150 mililitros, enquanto na medula pode-se tirar até 1 litro“A diferença é que o sangue do cordão é mais concentradoEle vinha sendo usado somente em transplantes de crianças, mas surgiram técnicas que permitem o procedimento em adultosUma delas é expandir o número de células em laboratório, a outra é usar dois cordões para um mesmo adulto”, informa o coordenador do Inca