Solidariedade, tristeza, revolta e fé se misturaram entre moradores nessa sexta-feira no Bairro Suzana, na Região da Pampulha, uma das áreas mais atingidas pela inundação da Avenida Cristiano Machado no dia anterior. O difícil recomeço agora é o grande drama. Enquanto limpava a casa, a costureira Carolina Marilac Campos Brandão, de 24 anos, contava que tudo ocorreu muito depressa. “Estava no trabalho quando uma vizinha me avisou que água estava invadindo a rua onde moramos, a Lúcio Bittencourt”. Voltei para casa na mesma hora, mas já era tarde. Havia mais de um metro de água estragando tudo”, disse Carolina, que só teve tempo de salvar seus dois cães de estimação, o pit bull Fred e o beagle Pablo, e sair correndo de casa. “Pelo menos meus cachorros eu consegui salvar, eles são minha vida", disse a jovem.
A costureira não escondeu sua revolta ao lembrar que foi vítima das inundações pela segunda vez. Em 23 de novembro do ano passado, quando ocorreu uma enchente, a lama chegou a atingir o teto de sua casa. “Não pude salvar nem minha máquina de costura. Quem estava por aqui na hora da chuva teve de correr para uma praça, enfrentando água pela cintura, carregando alguns objetos e animais de estimação. Por isso, não quero ficar mais aqui. Todo ano é isso”, lamentou Carolina, que está hospedada na casa da mãe.
A poucos metros, na casa de Edith da Conceição Costa, de 78, na mesma rua, a idosa não conseguia esconder as lágrimas. “Peço a Deus para me dar força e para nos proteger”, disse Edith, erguendo as mãos ao lado de uma geladeira totalmente destruída pela lama. A seu lado, a filha, Cleonice de Fátima, de 44, contava que em 2010 também teve sua casa invadida pela água. “Há 25 anos moro aqui. No ano passado foi a primeira vez que minha casa foi invadida. E também perdi tudo o que tinha. Meu salão de beleza foi totalmente destruído, não existe mais”, desabafou.
Equipes de garis da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) foram deslocadas para as áreas castigadas pela inundação e passaram o dia retirando lama, entulho e dejetos das casas e quintais, mostrando o tamanho do desastre que atingiu a regiãona quinta-feira .
Indenização demorada
Quem perdeu móveis, eletrodomésticos e outros objetos na inundação de na quinta-feira em três trechos da Avenida Cristiano Machado vai ter de esperar pelo menos até o segundo trimestre do ano que vem para ser ressarcido dos prejuízos.
Foi isso o que ocorreu com as vítimas da inundação na mesma região, em 2010. Na ocasião, a Prefeitura de Belo Horizonte decretou situação de emergência, cadastrou as famílias que tiveram bens destruídos e só conseguiu liberar os recursos financeiros em abril deste ano, uma espera de mais de quatro meses. Foram atendidas 924 famílias. As pessoas que tiveram prejuízos maiores receberam auxílio financeiro de R$ 2 mil. Quem teve perdas menores recebeu R$ 1 mil e quem foi afetado de maneira superficial teve direito a R$ 500.
Para ter direito a esse dinheiro, as famílias são cadastradas por funcionários da administração municipal, que percorrem as áreas atingidas pela inundação. Isso só é feito depois da declaração da situação de emergência, com a publicação do decreto no Diário Oficial do Município (DOM).
Além do valor dos objetos destruídos pela água, o critério para definir o auxílio a ser pago leva em consideração a situação socioeconômica das famílias. Essa medida foi adotada em 2009, depois que o Ribeirão Arrudas transbordou na virada do ano, causou a morte de cinco pessoas e deixou um rastro de destruição entre a região do Barreiro e Contagem. Na ocasião, cerca de 300 famílias foram atingidas pela inundação.
Acidente mata quatro
A forte chuva que atingiu o Triângulo Mineiro nessa sexta-feira de manhã é apontada pelo Corpo de Bombeiros de Araguari como a principal causa do acidente que matou quatro pessoas de uma mesma família na MG-223, próximo a Estrela do Sul.
Segundo a equipe que atendeu a ocorrência, o motorista de um Gol perdeu o controle do carro na pista molhada, rodou e bateu de frente contra uma carreta que vinha em sentido contrário. O carro de passeio ficou completamente destruído com a batida, matando instantaneamente o motorista, Celson Ricardo da Cruz, a mulher, dele Tatiana Aparecida Bastos Alves e Maria do Perpétuo do Socorro Alves, sogra do condutor.
O adolescente S.R.C., de 16, filho do casal, chegou a ser socorrido, mas morreu no Hospital de Pronto Socorro de Estrela do Sul. Um quinto ocupante do veículo, Gregorim Lester da Silva, de 21, sofreu politraumatismo e está internado em estado grave. Todas as vítimas moravam em Patos de Minas, no Alto Paranaíba. O motorista do caminhão, Euclides Faria, teve ferimentos leves.
Barreiras
Várias estradas federais e estaduais que cortam Minas já começam a apresentar problemas por causa das chuvas. Nessa sexta-feira de madrugada, uma barreira caiu na BR-135, em Bocaiúva, no Norte do estado. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Montes Claros, responsável pela fiscalização do trecho, apenas meia pista está liberada para a passagem de veículos.
O problema ocorreu na altura do quilômetro 403, no sentido Montes Claros. A PRF informou que já comunicou a situação ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), mas os detritos não haviam sido removidos até a noite dessa sexta-feira.
Na BR-116, em Governador Valadares, no Leste de Minas, o barranco que desmoronou sobre a rodovia continua dificultando a circulação de veículos. Segundo a Defesa Civil de Valadares, um grande volume de terra atingiu a pista depois que um barranco de 10 metros de altura cedeu parcialmente. Uma pista da rodovia está interditada e a retirada da terra só começará a ser feita segunda-feira, de acordo com informações do Dnit.