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Estado de Minas 'MONSTRA DA LAGOA'

Mulher que jogou bebê na Lagoa da Pampulha será solta no Natal


18/12/2011 07:25 - atualizado 18/12/2011 07:25

Condenada a oito anos e quatro meses de prisão, Simone Cassiano ainda precisa voltar todos os dias à penitenciária de mulheres, no horto: ela pensa em tentar retomar criança
Condenada a oito anos e quatro meses de prisão, Simone Cassiano ainda precisa voltar todos os dias à penitenciária de mulheres, no horto: ela pensa em tentar retomar criança (foto: Túlio Santos/EM/D.A/Press)
Seis anos depois de cometer um crime que chocou o país, Simone Cassiano da Silva, de 35 anos, condenada a oito anos e quatro meses pela Justiça por tentar afogar a própria filha nas águas da Lagoa da Pampulha, terá a liberdade condicional concedida no dia 25, no dia do Natal, beneficiada pelo regime de progressão de pena e bom comportamento. Ela foi presa em flagrante por tentativa de homicídio e abandono de incapaz, já no dia seguinte ao resgate da criança dentro da água, em 28 de dezembro de 2005, reconhecida nas imagens distribuídas na televisão pelas mesmas roupas e a tiara cor-de-rosa que usava na saída da maternidade. Em entrevista exclusiva ao Estado de Minas, prestes a deixar a cadeia, a mulher voltara jurar inocência e diz ter sido “crucificada pela mídia”. “Pegaram-me para Cristo”, reclama Simone, que garante ter uma “bomba” para soltar no momento da sua libertação, para o qual se preparou durante todo esse tempo, física e mentalmente.

Bem vestida, cabelos domados em um coque no alto da cabeça e 48 quilos mais magra, Simone tenta apagar a imagem de “monstra da lagoa”, como ela se refere a si própria ao longo da conversa, que se estendeu por 53 minutos na porta de entrada da Penitenciária de Mulheres Estêvão Pinto, no Bairro do Horto, onde cumpre o regime semiaberto há três anos, desde dezembro de 2008. Ganhou entre as presas a alcunha de “doutora”, desde que começou a cursar direito dentro da prisão, há dois anos. Seu objetivo é obter meios de processar o Estado por ter sido condenada, segundo ela, sem provas.

Com frieza impressionante, Simone fala pouco sobre a criança jogada na lagoa. Está mais preocupada em demonstrar intimidade com a mesma mídia que acusa de tê-la condenado. Para o dia da sua libertação, planeja convocar “coletiva de imprensa”, segundo ela, onde dirá que está escrevendo um livro contando os podres da prisão e erros do seu processo. Articulada, a mulher acusa a mídia de ter aumentado sua pena ao citar a exibição exaustiva do vídeo do bebê no momento do resgate. A cena, que emocionou o mundo e ficou gravada na memória da maioria das pessoas que a assistiram na época da tragédia, foi registrada por um cinegrafista que filmava um casamento e vendeu os direitos de imagem para uma rede nacional de televisão. O homem salva a criança ao ouvir barulhos que pensava serem miados de um gato.

“Foi isso que me derrubou. Se não fosse isso eu já estaria na rua”, reclama Simone, visivelmente irritada. E continua: “Logo depois de mim teve um caso muito pior, que é o da Elisabete Cordeiro, que fez um aborto dentro de casa, a menina ficou cinco dias viva, tomou o nome de Michelle e depois ela jogou a menina dentro do Rio Arrudas. E, depois de um ano, o juiz pôs ela na rua. Não consigo entender esse tipo de diferença”. Segundo psiquiatras e psicólogos ouvidos pela reportagem, que já atenderam Simone e não podem se pronunciar formalmente em função do código de ética médica, Simone é portadora de transtorno de personalidade antissocial (TPAS) ou dissocial, que seria retratada nos filmes americanos como uma psicopata clássica. “Ela é uma mentirosa compulsiva, que não sofre e não aprende com a dor. Depois de tantos anos na cadeia, continua sustentando essa mentira de que não é culpada pelo crime e está ficando cada vez pior. Solta na rua, sua atuação será imprevisível, pois sua mente é programada para o mal”, explica a fonte.

CONTRADIÇÕES O encontro com Simone é marcado por mentiras, das menores às mais cruéis. No primeiro contato com a reportagem, ela fornece um falso número de telefone celular. Depois, cai em contradição por várias vezes. Prestes a sair da cadeia, oferece nova versão para o abandono da criança, mais elaborada em relação à que declarou sob juramento, quando disse ter entregado o bebê a andarilhos sob pagamento de R$ 5. Agora, Simone conta que saiu da maternidade em direção à casa da mãe dela em Venda Nova, passando pela Pampulha, quando teve uma crise de pânico dentro do carro. Parou o carro e as pessoas foram se aproximando, segundo ela, preocupadas em ver o que estava acontecendo com ela.. “Aí juntou de gente porque eu já não estava se (sic) sentindo bem. Juntou um pessoal perguntando o que eu tinha porque eu estava chorando muito. Abriram a porta do carro e ela (a menina) estava dormindo. Alguém pegou a menina”, diz Simone. Ela afirma também que ela própria procurou a delegacia e se apresentou como sendo a mãe da criança ao ver as imagens na tevê. “Se eu soubesse que era culpada eu iria me apresentar?”, desafia, e diz que pretender retomar a guarda da criança, já adotada.

Os quatro volumes do processo à disposição no arquivo do Fórum Lafayette de Belo Horizonte contradizem Simone. Segundo os termos do inquérito policial da 16ª Delegacia de Polícia, corroborado pelos autos do Ministério Público de Minas Gerais, Simone foi presa no dia seguinte ao do resgate da menina. Segundo o cruzamento dos depoimentos de 15 testemunhas, entre amigos, vizinhos, taxista, ex-marido, depois de jogar a filha na lagoa ela chegou em casa, fez o almoço, ligou para uma amiga, passou a tarde inteira vendo um filme e agindo naturalmente, como se nada tivesse acontecido. Foi presa já dentro de um táxi quando tentava fugir, identificada como sendo a mãe do bebê encontrado na lagoa por uma das enfermeiras do hospital. Na época de sua condenação a oito anos e quatro meses de prisão, depois de 27 horas de julgamento, quando foi a júri popular, o advogado de defesa Mateus Vergara tentou pedir o atestado de insanidade mental temporária em defesa da sua cliente, mas o pedido foi negado. Simone foi avaliada por uma junta médica psiquiátrica, que não a livrou da cadeia ao atestar que, na época, ela não era portadora de depressão pós-parto.


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