(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Manifestações culturais centenárias são premiadas na Europa

Duas manifestações culturais centenárias de povoado histórico mineiro ganham prêmio Rainha Sofia, do governo da Espanha. Distinção vale 30 mil euros e será entregue pela própria monarca


25/12/2011 07:07

Geraldo Magella Prado de Oliveira, de 16 anos, mostra as peças da cavalhada mirim inscritas no projeto
Geraldo Magella Prado de Oliveira, de 16 anos, mostra as peças da cavalhada mirim inscritas no projeto (foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
Duas manifestações populares do distrito de Morro Vermelho, em Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, ganham reconhecimento internacional. E “real”, já que vem da Espanha e tem o nome de Prêmio Rainha Sofia de Conservação e Restauração do Patrimônio Cultural, considerado um dos mais importantes da Europa. Na sétima edição da premiação, a Veneranda Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos foi destaque na categoria patrimônio imaterial pelo trabalho “de recuperar, preservar e divulgar a história de antigas tradições e festejos de Minas, por meio dos projetos Cavalhada Mirim e Aluá com as crianças”. Além da honra e da visibilidade, a tricentenária irmandade tem direito a um depósito na conta de 30 mil euros ou R$ 72,8 mil.

A data de entrega do Rainha Sofia, promovido pelo Ministério de Assuntos Exteriores e da Cooperação da Espanha, via Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento, ainda não está marcada, mas o integrante da irmandade Charles Eládio Nazareth Faria já garantiu presença na solenidade, em Madri. E adianta que, em nome da mesa administrativa da associação, convidará a monarca para visitar Morro Vermelho, que fica a 12 quilômetros da sede municipal e tem suas origens no início do século 18. O local foi um dos palcos da Guerra dos Emboabas (1707 a 1709), conflito entre paulistas e forasteiros pelo poder e ouro na região das minas.

Formado em conservação e restauração, Charles conta que fez a inscrição em julho e ficou muito feliz ao ver o primeiro lugar entre 32 projetos de 11 países iberoamericanos, levando-se em consideração o objetivo dos organizadores de valorizar a integração de crianças e jovens da comunidade com a cultura e estimular a formação crítica e intelectual. Uma das maiores satisfações para os 800 moradores de Morro Vermelho foi saber que a cavalhada mirim e aluá com as crianças receberam unanimidade do júri.

A maior parte do dinheiro (80%) será empregada na conservação da Capela do Rosário, de 1703, uma das mais antigas de Minas, tombada pelo município, e o restante na continuidade dos dois projetos e na elaboração de novos. Diante da construção de linhas singelas, no alto de um gramado, Charles conta que a cavalhada mirim envolve 60 crianças de 4 a 12 anos e tem apresentações anualmente em outubro, na Festa do Rosário. “O modelo é a tradicional cavalhada do Morro Vermelho, que ocorre em 7 de setembro. Ao contrário de outras que recriam a luta entre mouros e cristãos, a de Morro Vermelho tem um significado de paz, pois encena, há 307 anos, a conversão de um embaixador mouro ao cristianismo”.

Caeté é uma das sete vilas do ouro de Minas e o arraial primitivo, que originou a sede municipal, se tornou Vila Nova da Rainha em 14 de fevereiro de 1714. Dos primeiros tempos em Morro Vermelho, bem mais antigo, vieram muitas delícias, entre elas o aluá, bebida sagrada dos escravos que trabalhavam na área de mineração nos tempos coloniais, e ainda servido na festa de Nossa Senhora do Rosário. O aluá – corruptela de “ao luar”, já que o preparo era sempre à noite, para fugir da vigilância dos feitores – tem registro desde a segunda metade do século 17. Pois a bebida resultou em uma cerimônia, atualmente realizada em outubro, e agora premiada na Espanha.

CAVALINHO DE PAU

É visível o entusiasmo dos integrantes da cavalhada mirim que, com seus cavalinhos de pau e adereços, trazem para o universo infantil o cenário dos adultos. O estudante Geraldo Magella Prado, de 16, participa do grupo desde os 4 e hoje ensaia a garotada nos fins de semana que antecedem a festa. “Os meninos chegam com a bandeira de Nossa Senhora do Rosário e bengalinhas de fogos de artifício”, conta o adolescente, que aprendeu o ritual com o irmão Cristiano, de 33. Em casa, Geraldo guarda todo o “arsenal”, roupas e objetos que são emprestados aos participantes, como o cavalinho de pau enfeitado com fitas, capacete e coroa com pedras. No fim da cavalhada, chamada de “corrida dos meninos” pelos moradores do distrito, os garotos se despedem da plateia com lenços brancos.

“A cavalhada mirim é como se fosse uma medida de salvaguarda do bem cultural do distrito, pois os jovens aprendem desde cedo o valor e o significado das tradições. No futuro, eles vão assumir o lugar dos mais velhos”, diz Charles. O aluá com as crianças tem o caráter de educação patrimonial, pois recria com desfile, cerimônia e distribuição da bebida o ritual dos adultos na véspera da festa de Nossa Senhora do Rosário no distrito histórico.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)