“Que dia é mesmo o réveillon”? Para quem está se programando há meses para curtir a queima de fogos na praia ou relaxar com a família e amigos, a pergunta é meio sem sentido. Mas para um grupo seleto de estudantes, tem soado bem natural. Longe da balada e em meio a muitos livros, apostilas e cadernos de exercícios, candidatos aprovados na primeira etapa do Vestibular 2012 da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) têm passado praticamente todo o dia estudando pesado na tentativa de garantir uma vaga na instituição. As provas da segunda fase do concurso começam terça-feira. Por isso, folga mesmo só a partir do dia 10, quando o processo seletivo será encerrado em Belo Horizonte e em Montes Claros, no Norte de Minas.
Tanto afinco tem explicação. Cada um dos 18.106 alunos que fazem as provas na semana que vem já superou uma multidão de 61.580 concorrentes e não quer perder todo o ano dedicado aos estudos para o vestibular. Por isso, participam de plantões de disciplinas específicas, estudam em casa e têm ficado fora de atividades que possam provocar desgastes físicos. “Cada um tem uma receita diferente, mas o importante é pensar que nesse momento vale fazer um esforço a mais para obter um retorno depois”, afirma a psicanalista e professora da Faculdade de Educação da UFMG, Ana Lydia Santiago.
Tarefa que as amigas Carla Viana Campolina, de 17 anos, e Mariana Costa Carvalho, de 18, têm levado a sério. Estudantes do Colégio Santo Antônio, na Região Centro-Sul da capital, elas passam manhã e tarde na instituição e ainda aproveitam parte da noite para dar uma revisada nos livros. Sem programação para a “virada do ano”, elas revelam: “Pra falar a verdade, não estamos nem lembrando que será ano-novo”, diz Carla, que pleiteia uma vaga no curso de direito. Estamos tão focadas que só pensamos em estudar”, completa Mariana, levando as mãos ao cabelo cacheado que ela diz não estar tendo nem tempo para lavar.
O colega de colégio, Ulisses Saffar, de 18, conta que os amigos já liberados para as férias até mesmo pararam de ligar para fazer convites de baladas. “Eles sabem que estou estudando muito. É melhor me dedicar agora para ficar tranquilo depois”, afirma. Além da distância dos amigos, a passagem do ano também será sem parte da família. “Estou ficando em casa só com meu pai, porque minha mãe e minha irmã estão na praia, no Espírito Santo. Mas não estou triste com isso, pois quero muito passar no vestibular”.
Tanto esforço já rendeu frutos. Das 180 questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Ulisses errou apenas seis e garantiu 60 dos 64 pontos na primeira etapa do vestibular da UFMG, onde tenta se classificar para o curso de engenharia mecânica. “Tenho seis aulas de 50 minutos no colégio toda manhã e estudo algumas horas à tarde”, diz. O aluno, no entanto, diz que reserva parte do dia para descansar. “Não estudo à noite porque agora prefiro fazer coisas para relaxar a mente”.
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A decisão de buscar alternativas agradáveis para esfriar a cabeça também foi tomada pelo estudante Adriano Lucchesi, de 17, que tenta uma vaga no curso de direito. “Estou confiante porque passei com nota boa na redação e tenho estudado muito. Por isso, sempre que dá, não deixo de ver TV, ir ao shopping ou sair um pouco”, conta Adriano, que não pôde viajar de férias com a família para o Balneário de Escarpas do Lago, no Sul de Minas.
A aparência tranquila do aluno esconde a rotina puxada nesses dias de reta final do vestibular. “Estudo no plantão do colégio pela manhã e à tarde frequento um curso especializado em geografia, disciplina que terei prova específica”, diz. A empreitada começa por volta das 9h e só termina às 20h30, com pausa para o almoço. “É melhor dar um último gás e ser aprovado do que ter que fazer tudo de novo”, afirma.
Na tarde de ontem, Adriano dividia a sala de plantão do centro de estudos com oito estudantes que também se esforçam para conseguir uma vaga em direito. Sem o clima de badalação típico desta época do ano, grande parte afirma que vai passar o ano-novo em casa. “Vamos dar uma última revisada até na segunda-feira”, disseram em coro.
E há quem vá além. O estudante Tharik Rodrigues da Silva, de 25, aluno do pré-vestibular Soma, conta que só vai fechar os livros nas horas que antecedem a virada do ano. “Estou evitando lembrar que estamos em uma data festiva. Pretendo estudar até a noite de sábado. Quando estiver próximo da meia-noite, vou à casa de amigos para confraternizar e volto logo em seguida. Não vou beber e quero dormir cedo porque no domingo de manhã já estarei estudando de novo”, diz. Entre as estratégias para se concentrar e sair vencedor do processo seletivo, Tharik conta que chegou a desligar o telefone celular. “É melhor evitar a tentação de ser chamado para a balada e não poder ir”, relata.
É proibido perder a hora
Estudantes que vão prestar exames da segunda etapa do vestibular da UFMG devem ficar atentos a uma regra importante. Para não correrem o risco de jogar for a um ano inteiro de dedicação aos estudos, os candidatos devem se preparar para as provas com antecedência e evitar atrasos. Na prática, isso significa que todos devem checar documentos e materiais, dormir bem e sair de casa com tempo hábil para chegar ao câmpus.
De acordo com a pró-reitora de Extensão da UFMG, Antônia Vitória Aranha, o candidato somente terá acesso às provas da segunda etapa mediante apresentação do comprovante definitivo de inscrição e do documento de identidade indicado por ele no requerimento de inscrição. O cartão pode ser obtido no site da Comissão Permanente do Vestibular. Nele constam informações importantes como local, data e horário do exame. Durante as provas, só será permitido o uso de caneta esferográfica (azul ou preta), de corpo transparente, lápis ou lapiseira e borracha. Todos os candidatos ou treineiros devem usar apenas lápis ou lapiseira para responder às questões de todas as provas específicas da segunda etapa. A caneta será para assinatura da ficha de identificação.
Qualquer tipo de relógio, celular, pager, bip, calculadora, controle remoto, alarme de carro ou equipamento eletrônico está vetado durante a realização das provas. Quem for pego portando algum desses aparelhos será eliminado do processo seletivo. A universidade não oferecerá serviço de guarda-volumes nem atendimento médico nos locais de prova. Em caso de dúvidas, o aluno pode ligar para a Copeve, nos telefones (31) 3409-6700/4408/4409), de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.