Uma senhora elegante e de curvas sinuosas vai completar 70 anos de história no ano que vai nascer. A Casa do Baile, primeiro projeto de Oscar Niemeyer para o Conjunto Arquitetônico da Pampulha a ganhar vida, tinha o objetivo de ser uma válvula de escape para a população, na época, angustiada com os efeitos da Segunda Guerra Mundial. Nos planos do arquiteto Oscar Niemeyer, o espaço seria um night club para a classe média e média alta, diferentemente do cassino, voltado para a elite belo-horizontina. Segundo os frequentadores da época, os músicos apresentavam-se no cassino e depois atravessavam a lagoa, de barco, para dançar o restante da noite na Casa do Baile.
A Casa do Baile, ou apenas o “Baile”, como ficou conhecida, foi inaugurada oficialmente em 1943 na presença do prefeito Juscelino Kubitschek, que já tinha fama de “pé de valsa”, e do presidente Getúlio Vargas, recebendo grandes artistas nacionais da época, como Orlando Silva, Linda Batista, Grande Otelo e Francisco Alves. Só no ano seguinte à inauguração do Baile, surgiriam o cassino – hoje Museu de Arte da Pampulha (MAP) – e o salão social do Iate Tênis Clube, voltado para a prática de esportes náuticos. Naquele mesmo ano, 1943, também seria concluída a obra de um clube de golfe, que não chegou a funcionar com esta finalidade e atualmente abriga a sede da Fundação Zoobotânica, nas imediações do zoo. Um ano depois, em 1944, seria erguida a Igreja São Francisco de Assis, que, no entanto, só seria consagrada pela Igreja Católica em 1959.
A arquitetura do Baile favorecia o arrasta-pé, o encontro de pessoas e, claro, o flerte. Construída sobre uma ilhota artificial, também projetada por Niemeyer, a Casa do Baile é um grande círculo de 300 metros quadrados com todas as paredes de vidro e com vista para o espelho d’água da lagoa. “O salão de baile não tem arestas, cantos, nem quinas. É um grande círculo que favorece a dança e o flerte, onde se consegue ver e ser visto”, diz Álvaro Sales, gestor da Casa do Baile, que em 2012 comemora também 10 anos em sua nova função, como Centro de Referência de Arquitetura, Urbanismo e Design, ligado à Fundação Municipal de Cultura.
O salão principal era ligado ao palco, também redondo, por uma marquise em curva, que provoca sensação desde a época. Com a palavra, o autor: “Eu fiz a marquise da Casa do Baile em curva, que às vezes explicava, dizendo para melhor me fazer entender, que elas seguiam as curvas da ilha, mas, na verdade, era o elemento plástico da curva que me interessava”. Segundo Sales, há registros de projetos que concorreram para instalar no local modelos como casarões. “O prédio da Casa do Baile, com suas vidraças e sua forma sinuosa, dá uma permeabilidade com as curvas das margens externas da represa”, defende.
Com a inauguração do Grande Hotel de Araxá, em meados de 1944, o público do cassino e da Casa do Baile partiu em debandada para a nova coqueluche do momento. Em 1946, a proibição do jogo no Brasil, ato do presidente Eurico Caspar Dutra, tornou a situação mais difícil. A Casa do Baile ainda resistiu até 1948 com jantares dançantes e apresentação de shows esparsos.
Depois disso, o espaço foi reaberto e reformado para atender às mais diversas destinações, de restaurante dançante a bar de fim de tarde, até deixar de dar bailes, mas a Região da Pampulha havia passado por transformações e as iniciativas não deram bons frutos. Em 2002, a casa foi incorporada pela Fundação Municipal de Cultura, permanecendo aberta até hoje com exposições e mostras culturais como a última “Fotógrafo lambe-lambe: retratos do ofício em BH”.
1942
Projeto da Casa do Baile é o primeiro entregue por Oscar Niemeyer, seguido pelo do Museu de Arte, que vão integrar o conjunto arquitetônico da Pampulha
1943
Inauguração da Casa do Baile e entrega do projeto do salão social do Iate Clube, espaço para prática de esportes náuticos e lazer. No ano seguinte, o arquiteto projeta a Igreja São Francisco de Assis
1946
Proibição do jogo no Brasil pelo presidente Eurico Gaspar Dutra leva ao fechamento da Casa do Baile em 1948
1971
Casa do Baile é arrendada empresa Mangueiras Diversões Ltda., que instala no local um restaurante dançante
1976
Fim do contrato de arrendamento com a empresa Mangueiras e posterior abandono da casa, ocupada por moradores de rua
1986
Casa do Baile é reaberta, passando a funcionar como anexo do Museu de Arte da Pampulha após a conclusão das obras de recuperação iniciadas em 1985, fruto do tombamento pelo Iepha/MG em 1984
1990
É tombada pelo Iepha nacional, junto ao complexo da Pampulha. O Iepha/MG aprova projeto para a readaptação do local pelo Restaurante Alpino, com contrato até 1995
1998
Reforma de recuperação do desenho interno original da Casa do Baile, acompanhada por Niemeyer
2002
É reaberta como Centro de Referência em Urbanismo, Arquitetura e Design, vinculado à Fundação Municipal de Cultura