A combinação de verão e férias traz uma preocupação a mais para os profissionais que lidam com atendimento de urgência. Segundo especialistas, trata-se da conjuntura perfeita para o aumento do número de acidentes, afinal é quando as pessoas passeiam mais de carro, as crianças ficam com mais tempo livre para brincar e cresce a busca por lazer em locais de veraneio.
O aumento do número de afogamentos, que salta de um para três nesta época do ano, é um dos indícios dos perigos que rondam piscinas, cachoeiras e lagoas, em Minas. Segundo Thiago Pereira Miranda, capitão do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, seria mais fácil evitar acidentes se as pessoas tivessem noções de primeiros socorros e, principalmente, consciência da necessidade de adotar comportamento preventivo.
A tese é endossada pelo médico Drauzio Varella, autor do livro Guia prático de primeiros socorros (Editora Claro Enigma). Ele explica que as medidas que se tomam no momento de um acidente são fundamentais para a saúde e a vida das pessoas que se machucam. O cuidado consigo mesmo, com as crianças e com os idosos para evitar que acidentes ocorram deve ser nossa maior preocupação. No entanto, como os acidentes sempre podem sempre acontecer, é necessário enfatizar os princípios básicos que o leigo deve conhecer para cuidar da pessoa que se feriu, queimou ou sofreu uma queda, não só no sentido de prestar um primeiro atendimento adequado àquele caso, mas para evitar que uma conduta mal orientada agrave a situação.
Para Thiago Pereira, grande parte dos equívocos que se cometem (ou até da falta de ação das pessoas que assistem um acidente acontecer) poderia ser evitada se as noções de prevenção e de primeiros socorros fossem ensinadas nas escolas, desde cedo. O domínio de informações, além de proporcionar mais tranquilidade para a pessoa, permite que ela colete dados do acidente que são fundamentais para que os profissionais especializados prestem um bom atendimento à vítima.
“A pessoa não precisa saber todos os procedimentos, mas seria importante saber olhar dados como respiração, medir os batimentos cardíacos pelo pulso ou pela artéria do pescoço, observar sinais da pele como calor e cor, passar o histórico médico da vítima, como cirurgias já feitas, história de doença crônica e uso de medicamentos. O ideal é que recebessem nas escolas noções de prevenção e de como agir em caso de acidentes”, ressalta.
Com diversão e perigos convivendo intimamente, o capitão dos Bombeiros chama a atenção para o risco de afogamentos, picadas de animais peçonhentos, acidentes com fogo (no fogão ou na churrasqueira), quedas de lajes e muros e insolação.
No caso das quedas, o problema não ocorre somente com adultos que sobem nas lajes e, distraídos com os afazeres ou com a festa, perdem a noção de espaço e caem. Muitas vezes, crianças usam esse espaço para empinar pipa, por exemplo, e despencam. Em geral, essas quedas são gravíssimas, pois provocam traumas cranianos.
Acidentes com fogo também aumentam consideravelmente nesta época do ano, já que, de férias, as pessoas usam mais o fogão e fazem mais eventos ao lado da churrasqueira. Contudo, quando se fala em queimaduras, não se pode esquecer de um hábito que as pessoas insistem em manter. Em geral, elas ocorrem nos dias ensolarados do verão. “As pessoas têm o hábito de se esticar ao sol, durante horas. Se estiver ventando um pouco, então, não sentem calor e aumentam o tempo de exposição. À tarde, já em casa, muito vermelhas, mal conseguem mexer o braço. Praticamente sem sudorese, manifestam um aquecimento generalizado e intenso no corpo, não se dando conta de que sofreram uma queimadura de primeiro grau numa superfície corpórea muito grande, que pode exigir até internação hospitalar”, observa a pediatra Eliane de Souza, coordenadora da Clínica Pediátrica do Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, o maior em atendimento de emergência de Minas Gerais.
Segundo ela, nesses casos, prevenir é o melhor remédio. O melhor sol da manhã brilha, no máximo, até as 10 horas. Quem não frequenta praias e piscinas habitualmente deve tomar cuidado, usar chapéus e blusas para proteger a pele e não se esquecer de passar protetor solar.
SAIBA COMO AGIR
AFOGAMENTO
O afogamento é caracterizado pela presença de uma quantidade de água nos pulmões capaz de impedir que eles funcionem normalmente. Ocorre em lagos, represas, piscinas e no mar, mas também dentro de casa, como é o caso de bebês na banheira. As pessoas que se afogam normalmente não sabem nadar e de desesperam quando têm a sensação de que não conseguem respirar. A maioria dos afogamentos acontece em água doce. Apenas 10% acontecem no mar. Resgatar quem está se afogando, especialmente no mar, é um trabalho para profissionais. Os bombeiros salva-vidas são os especialistas para essas eventualidades. Se não houver salva-vidas por perto, você deve tomar as seguintes providências: chame ajuda de outras pessoas. Jogue uma boia, um remo ou qualquer objeto em que a pessoa possa se segurar para não afundar. Se estiver numa embarcação pequena, não tente puxar a pessoa para dentro do barco, porque ele poderá virar.
Prevenção
Nunca entre na água se estiver sozinho. Nunca entre na água à noite. Crianças pequenas e todos os que estão aprendendo a nadar devem usar boias. Não entre num barco sem coletes salva-vidas. Não brinque perto de piscinas, mesmo se estiverem cobertas com plásticos de proteção. Jamais mergulhe, nem de cabeça nem de costas, em lugares que você não conhece bem.
INSOLAÇÃO
É um estado que se caracteriza pelo aumento da temperatura do corpo acima de 40,5 graus, associando alterações neurológicas. Ela acontece quando o corpo é exposto a temperaturas ambientes muito elevadas, sem haver dissipação de calor. Sua causa mais frequente é a prática excessiva de exercícios em dias muito quentes. Os sintomas clássicos são pele avermelhada, aumento da frequência respiratória e alteração da consciência. Nos casos mais graves, pode haver sangramento, convulsões e falta de ar. O tratamento consiste, basicamente, em resfriar o corpo. Utilize ventiladores e aplique compressas de água (não gelada) no corpo despido, até que a pessoa seja transportada para o hospital, com urgência.
Prevenção
O filtro solar deve ser aplicado no corpo cerca de 20 minutos antes da exposição ao sol e deve ser renovado a cada uma hora. Reflexo do sol na areia e na água também causa queimadura, portanto é preciso estar sempre protegido. A hidratação é fundamental; nos dias quentes, deve ser mais caprichada.
PICADAS DE ANIMAIS PEÇONHENTOS
Há animais que, ao picar, injetam veneno em nossa corrente sanguínea. É o caso de algumas cobras, aranhas, escorpiões e lagartas.Adote as seguintes providências: mantenha a pessoa deitada, imóvel, e coloque o membro atingido em posição elevada. O repouso e a gravidade ajudam a diminuir a circulação do sangue no local e reduzem a absorção do veneno. Tire anéis, pulseiras e outros acessórios que dificultem a circulação do sangue, especialmente se estiverem próximo do local ferido. Se houver dor no local, aplique gelo ou compressas com água fria. Enquanto não chega ao pronto-socorro, administre dipirona ou paracetamol para aliviar as dores. Leve a pessoa com todo cuidado, para que ela se movimente o menos possível. Se puder, leve também o animal que atacou, pois existem diversos tipos de soro para picadas de cobra e somente uma pessoa treinada é capaz de escolher o mais indicado para cada caso. Em hipótese alguma amarre ou faça garrotes no braço ou na perna acidentada. Além de não impedir que o veneno seja absorvido, o garroteamento dificulta a circulação do sangue e pode causar necrose e gangrena. Não faça cortes ao redor da ferida nem tente chupar o local – na picada, o veneno já cai diretamente na corrente sanguínea. Não aplique nenhum tipo de substância no local. Colocar pomadas, folhas, terra ou pó de café apenas aumentará as chances de infecção. Não deixe ninguém dar para o acidentado bebida alcoólica nem anti-inflamatórios, que podem prejudicar o funcionamento dos rins.
Prevenção
Mantenha o quintal e o jardim limpos, sem acúmulo de lixo e objetos que sirvam de esconderijo. Use botas de cano longo, mangas compridas e até luvas quando manipular objetos que possam abrigar aranhas ou escorpiões.