Retirar do colo da mãe assassinada seu bebê de um ano e três meses tinha sido o momento mais emocionante da carreira da soldado Sheyla Cristina da Silva, de 28 anos. Não lhe saía da memória o bebê indefeso filho da comerciante Ana Carolina Assunção, de 27, uma das cinco vítimas do maníaco de Contagem, Marcos Antunes Trigueiro, em 2009. A militar não imaginava, contudo, que menos de três anos depois um fato ainda mais emocionante marcaria sua vida. A coragem a levou a se arriscar para salvar 11 pessoas que dormiam no prédio que desabou no Bairro Caiçara, Região Noroeste de Belo Horizonte. “Chorei quando o edifício começou a cair. Pensei que todo mundo ia morrer por causa do buraco que engolia a rua, do cheiro forte de gás vazando e do fogo dos cabos elétricos voando nos postes”, conta a policial.
A soldado, que tem seis anos de corporação, é um dos quatro policiais militares do 34º Batalhão (Caiçara) que, em um gesto heróico, ajudaram 11 moradores a sair dos oito apartamentos do edifício de dois blocos na Rua Passa Quatro. Depois de patrulhar uma área próxima, por volta da meia-noite, a soldado Sheyla, o tenente Gustavo Martins Ribeiro de Carvalho, de 24, e os soldados Samuel dos Santos e Marcelo Silva dos Reis, ambos de 27, voltavam para o quartel quando viram a moradora Maria da Glória aparecer de pijama na frente da viatura e pedir socorro.
“Ela estava desesperada. Dizia que estava ouvindo estalos no prédio e que ele iria cair. Pedia para ajudarmos a salvar o filho dela que estava dormindo em um dos apartamentos”, conta o tenente Gustavo. Ao ouvirem os ruídos provocados pelo colapso dos pilares e lajes do edifício, o tenente ordenou que as luzes e sirenes fossem acionadas para chamar a atenção dos demais moradores. “As pessoas iam abrindo as janelas para verem o que estava acontecendo e a gente mandava elas descerem rápido, porque o prédio estava caindo”, contou o oficial, que tem seis anos de PM.
À medida que os moradores deixavam o edifício, os policiais aproveitavam para saber se havia mais alguém no local. Uma pessoa contou que duas crianças estavam trancadas no apartamento dos fundos, no segundo andar, e poderiam não ter ouvido os chamados dos policiais. “Crianças não têm força para arrombar uma porta. Pular da janela era impossível, porque ela dava para um abismo. Quando soubemos que havia crianças presas nossa atitude foi automática: corremos para dentro do prédio e começamos a chutar portas e arrombar apartamentos para achá-las”, conta o tenente.
ARROMBAMENTO
Quatro portas foram arrombadas até que os militares encontraram o apartamento onde as meninas estavam. “Elas ficaram muito assustadas quando os policiais bateram na porta. Não sabiam o que estava acontecendo e por isso respondiam a eles que não podiam abrir porque estavam sozinhas”, conta o pai das duas, o professor Jânio Lúcio Talini dos Santos, de 49. De acordo com ele, a porta da cozinha tinha sido deixada aberta para as filhas usarem se precisassem sair. Jânio disse que, naquela noite, estava num bar no Centro.
“As duas meninas estavam chorando apavoradas quando arrombamos a porta. Perguntaram se podiam levar um chinelo e eu disse que não. Falei para descerem com a gente descalças mesmo porque o prédio estava caindo”, lembra o soldado Samuel, há cinco anos na polícia. Os militares relataram que o bloco da direita desabou de uma vez 15 segundos após saírem do edifício e chegarem ao meio da rua. Instantes depois o bloco da esquerda veio abaixo. “No calor do momento a gente nem se lembra de sentir medo. Fiquei feliz de ter ajudado essas pessoas, mas triste ao ver que tudo o que elas tinham foi soterrado”, disse o soldado Marcelo Silva, que também tem cinco anos de PM. “A ficha ainda não caiu direito. Mas cumprimos nosso dever. Fiquei emocionado depois, pensando no meu filho, de oito meses”, desabafou o soldado Samuel.
De acordo com o tenente-coronel Idzel Fagundes, comandante do 34º Batalhão, onde os quatro militares são lotados, eles seriam cumprimentados pelo comandante da PM, coronel Renato Vieira. “Um processo de sindicância, com entrevistas a testemunhas, vai ser aberto para apurar o desempenho dos policiais no salvamento. Deve levar cerca de 30 dias para sabermos se eles receberão alguma condecoração pelos feitos no cumprimento do dever. Podem até ser promovidos de patente por bravura”, disse.
CHOQUE
Em estado de choque e sob efeito de medicação, a pensionista Maria da Glória Peixoto Inácio, que foi quem chamou os policiais, não teve condições de falar com a reportagem. Seu filho Saulo Peixoto Inácio, de 32 anos, mudou há três meses do prédio depois que se casou e agora é quem abriga a mãe e o irmão, Glauco, de 31. “Perdemos carro, moto, geladeira nova, nossas roupas: tudo foi soterrado. Minha mãe só conseguiu salvar o cachorrinho. Ela é uma pessoa corajosa que pensa primeiro em quem está à sua volta do que nela mesma. É um exemplo para mim”, afirmou.
A soldado, que tem seis anos de corporação, é um dos quatro policiais militares do 34º Batalhão (Caiçara) que, em um gesto heróico, ajudaram 11 moradores a sair dos oito apartamentos do edifício de dois blocos na Rua Passa Quatro. Depois de patrulhar uma área próxima, por volta da meia-noite, a soldado Sheyla, o tenente Gustavo Martins Ribeiro de Carvalho, de 24, e os soldados Samuel dos Santos e Marcelo Silva dos Reis, ambos de 27, voltavam para o quartel quando viram a moradora Maria da Glória aparecer de pijama na frente da viatura e pedir socorro.
“Ela estava desesperada. Dizia que estava ouvindo estalos no prédio e que ele iria cair. Pedia para ajudarmos a salvar o filho dela que estava dormindo em um dos apartamentos”, conta o tenente Gustavo. Ao ouvirem os ruídos provocados pelo colapso dos pilares e lajes do edifício, o tenente ordenou que as luzes e sirenes fossem acionadas para chamar a atenção dos demais moradores. “As pessoas iam abrindo as janelas para verem o que estava acontecendo e a gente mandava elas descerem rápido, porque o prédio estava caindo”, contou o oficial, que tem seis anos de PM.
À medida que os moradores deixavam o edifício, os policiais aproveitavam para saber se havia mais alguém no local. Uma pessoa contou que duas crianças estavam trancadas no apartamento dos fundos, no segundo andar, e poderiam não ter ouvido os chamados dos policiais. “Crianças não têm força para arrombar uma porta. Pular da janela era impossível, porque ela dava para um abismo. Quando soubemos que havia crianças presas nossa atitude foi automática: corremos para dentro do prédio e começamos a chutar portas e arrombar apartamentos para achá-las”, conta o tenente.
ARROMBAMENTO
Quatro portas foram arrombadas até que os militares encontraram o apartamento onde as meninas estavam. “Elas ficaram muito assustadas quando os policiais bateram na porta. Não sabiam o que estava acontecendo e por isso respondiam a eles que não podiam abrir porque estavam sozinhas”, conta o pai das duas, o professor Jânio Lúcio Talini dos Santos, de 49. De acordo com ele, a porta da cozinha tinha sido deixada aberta para as filhas usarem se precisassem sair. Jânio disse que, naquela noite, estava num bar no Centro.
“As duas meninas estavam chorando apavoradas quando arrombamos a porta. Perguntaram se podiam levar um chinelo e eu disse que não. Falei para descerem com a gente descalças mesmo porque o prédio estava caindo”, lembra o soldado Samuel, há cinco anos na polícia. Os militares relataram que o bloco da direita desabou de uma vez 15 segundos após saírem do edifício e chegarem ao meio da rua. Instantes depois o bloco da esquerda veio abaixo. “No calor do momento a gente nem se lembra de sentir medo. Fiquei feliz de ter ajudado essas pessoas, mas triste ao ver que tudo o que elas tinham foi soterrado”, disse o soldado Marcelo Silva, que também tem cinco anos de PM. “A ficha ainda não caiu direito. Mas cumprimos nosso dever. Fiquei emocionado depois, pensando no meu filho, de oito meses”, desabafou o soldado Samuel.
De acordo com o tenente-coronel Idzel Fagundes, comandante do 34º Batalhão, onde os quatro militares são lotados, eles seriam cumprimentados pelo comandante da PM, coronel Renato Vieira. “Um processo de sindicância, com entrevistas a testemunhas, vai ser aberto para apurar o desempenho dos policiais no salvamento. Deve levar cerca de 30 dias para sabermos se eles receberão alguma condecoração pelos feitos no cumprimento do dever. Podem até ser promovidos de patente por bravura”, disse.
CHOQUE
Em estado de choque e sob efeito de medicação, a pensionista Maria da Glória Peixoto Inácio, que foi quem chamou os policiais, não teve condições de falar com a reportagem. Seu filho Saulo Peixoto Inácio, de 32 anos, mudou há três meses do prédio depois que se casou e agora é quem abriga a mãe e o irmão, Glauco, de 31. “Perdemos carro, moto, geladeira nova, nossas roupas: tudo foi soterrado. Minha mãe só conseguiu salvar o cachorrinho. Ela é uma pessoa corajosa que pensa primeiro em quem está à sua volta do que nela mesma. É um exemplo para mim”, afirmou.