Geólogos e engenheiros do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), em Brasília, chegam nesta quarta-feira a Belo Horizonte para avaliar as condições da pista no km 19 do Anel Rodoviário, no Viaduto São Francisco. A vistoria vai definir as intervenções que devem ser feitas no trecho, que já tem duas das três pistas interditadas devido a deslizamentos abaixo da via, que causaram rachaduras no asfalto. O supervisor do Dnit em Minas, engenheiro Alexandre Oliveira, informou que há risco de o aterro que sustenta o Anel Rodoviário ceder e provocar o fechamento total da rodovia no sentido BH-Vitória.
Para que o aterro seja refeito, toda a terra precisa ser retirada para terraplanagem e reconstrução da pista. Se adotada a segunda opção, todo o sistema de drenagem dever ser recuperado para construção de um muro de contenção, terraplanagem e recorbertura asfáltica. Mas, para a tomada de qualquer decisão, Oliveira alerta que é preciso haver estiagem.
“A situação já é de risco, de emergência. Não podemos conviver com ela, pois há o risco de descer. Mas também não podemos só chegar lá e abrir o aterro. Estamos com cautela. Tudo vai depender da solução que for apontada pelos técnicos”, garante o engenheiro.
Enquanto isso, medidas paliativas são adotadas para evitar uma tragédia. Nessa terça-feira, funcionários de uma empreiteira fizeram reparos em um trecho de 200 metros na cabeceira do viaduto e a Polícia Militar Rodoviária limitou a passagem a uma única pista. A mesma medida foi adotada no km 7, no Bairro Betânia, onde o aterro cedeu e provocou um buraco na pista. Os dois trechos registraram retenções durante todo o dia.
Remoções
Além da burocracia do Dnit, é preciso que 50 famílias que moram na Vila Cachoeirinha, perto do viaduto, deixem o local. Entre as que estão sob o risco do que Oliveira intitula “tragédia anunciada”, está a atendente Zelita de Souza. “Há 20 anos, quando construí o barraco, só havia umas três casas além da minha. Não tinha medo de ficar aqui. A situação é diferente hoje. Nos últimos dias, não tenho dormido, porque a casa está rachada e pode cair”, afirma. Ela diz que mora com cinco pessoas e precisa achar um aluguel razoável. “O auxílio da prefeitura é de R$ 400 e todos os aluguéis são mais caros.”
Na mesma condição está a filha dela, a balconista Claudinéia de Souza, de 26, que tem o Anel como vizinho de parede. “Estou com muito medo e busco uma casa para morar com o marido e o filho. A casa está cheia de rachaduras”, diz. Segundo a Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel), 14 famílias foram abordadas para deixar as moradias e seis pediram o Bolsa Moradia e estão em processo de saída.
E, mesmo cientes do risco desabamentos e da lentidão das pessoas para deixar o local, o Dnit, a Urbel e a Defesa Civil se contradizem. “A Defesa Civil e a prefeitura já sabem do risco de o barranco ceder e soterrar os barracos. Já fizemos o comunicado e hoje enviamos novo ofício. A realocação deve ser feita o quanto antes”, cobra o engenheiro.
“Não temos poder de polícia. Não podemos pegar as pessoas pelo braço e retirá-las. Os casos de resistência são levados à Defesa Civil”, defende a diretora da Urbel, Isabel Volponi. Segundo a Defesa Civil, três moradias foram interditadas e as famílias foram retiradas.